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ATÉ QUANDO VÃO NOS TORTURAR?

Ana Maria Cemin – 07/04/2025

A pergunta está na carta de Noemi de Freitas Santos, mãe de Rodrigo Moro, preso político que se encontra no cárcere na Argentina desde novembro do ano passado. Recebi a carta dela e compartilho com vocês. Ao final, apresento links onde você pode acessar a história de vida de Rodrigo. Deixo vocês com a mãe Noemi!

“Hoje falo um pouco sobre a história do meu filho. Ele nasceu em 1989 em São Bernardo do Campo, SP. Eu fui mãe aos 16 anos e foi uma gravidez conturbada, pois tive de escolher lutar pelo meu filho desde o meu ventre contra tudo e todos, mas tive total apoio de uma heroína, Natalina, a minha mãe e avó de Rodrigo. Ela foi uma segunda mãe para ele e me ajudou, junto com o meu pai, a criá-lo.

Parei de estudar para que não faltasse nada a ele e, aos 21 anos, casei com o meu marido e o Rodrigo ganhou mais quatro irmãos nessa união. Sempre trabalhamos e educamos os cinco com a ajuda da minha heroína.

Hoje estão todos casados e sentimos que cumprimos o nosso dever.

Mas a felicidade da nossa família foi interrompida no 8.01.2023, quando o irmão e filho mais velho desta família foi preso em Brasília. Nesse dia começo toda a aflição de uma mãe, pois o meu filho Rodrigo havia ficado preso em Brasília. E agora? Meu chão se abriu e era como se eu não tivesse mais fôlego para respirar. Sabia que ele não tinha feito nada de errado, pois sei o filho que eu criei, e acreditei como muitas mães, pais, filhos, maridos, irmãos, enfim como muitos familiares, na justiça e acreditamos que os nossos familiares voltariam ao lar, até percebermos que fazíamos parte de algo que nem nós, nem ninguém, consegue até hoje entender. O porquê dessas prisões absurdas, dessas condenações maiores do que tirar uma vida!

A meu ver nada deste mundo é mais importante e de maior valor do que a liberdade da pessoa. Nós, familiares, não aguentamos mais.

Hoje, após sete meses de prisão no Papuda, de ser liberado com tornozeleira e condenado a 14 anos de prisão, achei que meu filho estaria seguro na Argentina. Exilado, ele estava vivendo, tentando recomeçar como muitos, inclusive com documentação em dia como DNI e habilitação com endereço fixo.

Ele acreditava que, sob a proteção de um país, poderia esquecer tudo que havia acontecido nos 7 meses em que ficou preso em Brasília.

Nossas vidas estão paradas, sufocadas. Eu, desde 8.01.2023, não tenho paz. Nas datas importantes eu tento sorrir porque tenho outros filhos, noras, genros e netos, marido. Sem que eles vejam, eu choro, sempre escondida. Nos reunimos, mas à mesa falta o meu primogênito.

Falta o meu filho mais velho, o meu amigo, meu irmão. Sim, meu irmão e meu amigo, porque cresci me tornando mãe de Rodrigo. E fiquei sozinha tendo que ser mãe e pai para ele, e decidi que seria a melhor mãe que eu pudesse ser para ele.

Luto para torná-lo livre novamente, para que ele possa estar ao lado de sua esposa com quem constituiu uma família linda!

Ele tem uma esposa que precisa dele, pois ela e seus filhos têm ossos de vidro, e o filho mais novo além de ossos de vidro é autista e tem epilepsia. Eles precisam do Rodrigo.

Em 2018 eu operei a cabeça por conta de um tumor e o Rodrigo me acompanhou. Fez a minha internação junto com o meu marido e ficou comigo até a hora de eu ir para o bloco cirúrgico. Meu tumor cerebral estava com 3,5 cm. Hoje, estou novamente com o tumor e estou acompanhando. Talvez eu tenha que operar novamente, mas se eu tiver que ir para um centro cirúrgico vou destruída, porque sequer posso abraçar o meu filho, minha nora, meus netos. Vou incompleta, pois por mais que eu abrace os meus outros quatro filhos, os netos e genros e nora, faltará o abraço dele e de sua família.

Última vez que Rodrigo participou de um evento com a família.

Sabe, eu tenho uma dor que só as mães como eu podem expressar. Sofro pela minha nora, pelos meus netos, por meus filhos, por meu marido, além de sofrer pelo Rodrigo. A minha vida nunca mais foi a mesma sem ele por perto, e privado de sua liberdade. E a minha família sente por ele e por mim que não estou completa sem ele. Como já disse, eu estou longe do meu amigo, conselheiro, irmão e meu filho. Eu tive que criar Rodrigo com 16 anos e terminei de crescer ao lado dele. Somos companheiros, parceiros e quando me reúno com a família tem um espaço vazio em mim, pois o Rodrigo sempre esteve ao meu lado.

Faço um apelo: Libertem os presos políticos do Brasil e do mundo. Não aguentamos mãos. Nós e eles estamos sofrendo! Até quando vocês vão nos torturar? Socorro! Anistia Já!”

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