
Ana Maria Cemin – 30/03/2025
Todos os casos dos mais de 2 mil presos políticos e perseguidos do Brasil são terríveis, porém alguns são mais do que desumanos: Eles são assutadores!
Na carta que recebi do exilado Rodrigo você pode ter a dimensão do sofrimento que ele passa desde meados de novembro quando foi preso. Ele é o cuidador dos três membros da família, por todos terem uma doença muito grave.
Dentro do presídio argentino, Rodrigo vive a tortura por saber o desamparo de sua frágil família e por tomar conhecimento dos pensamentos suicidas de seus filhos pequenos, conforme você lê na carta a seguir.
Quando tempo mais será preciso para o nosso Brasil acordar e perceber que essas pessoas não são criminosas? Quanto tempo mais levaremos para a justiça voltar à nossa pátria?
A carta de Rodrigo que transcrevo a seguir para facilitar a sua leitura:
“Meu nome é Rodrigo de Freiras Moro Ramalho, tenho 35 anos, sou morador de Marília, SP, Brasil. Trabalho como entregador de aplicativo IFOOD. Tenho dois filhos: Miguel, 12 anos, e Gabriel, 11 anos, e sou casado com Viviane, 35 anos. Os três são portadores de uma deficiência conhecida como Osteogenesis Imperfecta (ossos de vidro), uma doença congênita. O meu filho mais novo também possui outra deficiência, o autismo.
Atualmente vivo com a minha família na Argentina, devido a um pedido de refúgio por perseguição política no Brasil. Perseguição essa que iniciou em 8 de janeiro de 2023 em uma manifestação ordeira e pacífica feita em Brasília, DF, mas que devido a vândalos e infiltrados muitas pessoas, inclusive eu, foram presos sem terem feito nada, sem quebrar nada.
Somente por estar com uma garrafa de água e uma bandeira do Brasil em minhas mãos, e por expressar o meu sentimento naquele dia, fui preso e levado à Polícia Civil e depois transferido para o Presídio Papuda.
Passei sete meses sofrendo pressão física e psicológica por algo que eu não cometi e, o pior, não só eu sofri como também minha família. Em 8 de agosto de 2023 eu recebi o meu alvará de liberdade, mas com muitas restrições, e uma delas era o uso de tornozeleira enquanto aguardava o meu julgamento, que tinha sido marcado para o dia 16 de abril de 2024.
Então chegou o dia do julgamento. Eu e minha família estávamos confiantes na justiça, por eu não ter cometido nada e acreditava na possibilidade de ser absolvido. Mas infelizmente no Brasil a verdadeira justiça já não existia mais, então fui condenado a 14 anos por me manifestar, sendo que no meu País, o Brasil, as pessoas que matam, roubam, estupram e traficam são soltas e estão pelas ruas.


Por isso, por essa injustiça, depois de oito meses usando tornozeleira eletrônica tomei a decisão de vir para a Argentina e pedir refúgio político. Vim para cá, pois vi que é um país governado por uma pessoa de Direita, conservador e que preza a liberdade.
Mas depois de estar vivendo aqui na Argentina por sete meses, com um documento de refugiado político concedido pelo órgão competente, a CONARE (comitê de refugiados); cumprindo com o meu dever de cidadão, com documento de DNI, licença de conduzir veículos e pedido de passaporte concedido; vivendo em uma casa cujo proprietário é chefe de polícia; com os filhos estudando e fazendo tratamento médico; servindo o meu chamado na Igreja e participando de projetos de serviço em prol de pessoas carentes da própria Argentina, sem cometer nenhum crime ou delito aqui na Argentina, cumprindo todas as exigências da precária de refugiado sem trazer nenhum risco para o país, EU RODRIGO FUI DETIDO com o argumento de que eu iria em fuga.
Mas como eu iria em fuga de um país onde entrei legalmente, pedi refúgio, tirei os documentos e para onde trouxe a minha família?


Fui detido no dia 15 de novembro ao ir cumprir com o meu dever de renovar a minha precária de refugiado dentro do órgão de imigração de La Plata, Calle 1 em frente ao trem de La Plata. Fui preso na frente da minha família, esposa e filhos. Fui levado para a comisária 2 de La Plata (unidade da polícia federal da Argentina) e depois de passar por minha audiência de custódia no mesmo dia fui transferido para a comisária 8 de La Plata, onde passei 53 dias trancado em uma cela sem sol, sem comida, sem cuidados médicos, só com a ajuda da família e amigos.
Mais uma vez passei a sofrer pressão física e psicológica, mas dessa vez em um país que busquei para me proteger, me amparar e preservar a minha família e eu, e não me reprimir e me trazer detido, cessando meu direito à liberdade por algo que não cometi.
Já não bastasse o meu sofrimento no Brasil, agora mais uma vez os meus filhos estão em tratamento psicológico por motivo da depressão e pensamentos suicidas. Crianças inocentes e portadoras de deficiência, uma família mais uma vez sendo destruída, perseguida e sem a presença do pai em casa.
Em 6 de janeiro, após 53 dias da comissaria foi pedida a minha transferência para um presídio federal da Argentina, unidade 19 da Ezeiza, onde me encontro até esse momento detido sem liberdade, sem minha família.
Estou com uma lesão em meu joelho, que ocorreu dentro do penal federal argentino. Faz mais de um mês e sequer fizeram um raio X. Estou aguardando marcação para ressonância, RX, fisioterapia e consulta com ortopedista.
Eu me sinto abandonado, esquecido em um país estrangeiro onde eu deveria estar cuidando da minha família, onde eu deveria estar livre com a minha liberdade. O pouco que tenho de LIBERDADE me foi tirado sem motivo, mesmo com a proteção de tratados internacionais, como o de Genebra.
Cadê os meus direitos como refugiado?
Cadê a justiça justa e honesta da Argentina?
Cadê os órgãos competentes – CONARE e Direitos Humanos?
Onde está o “VIVA LA LIBERTAD”? (slogan da campanha do presidente Javier Milei)
EU AINDA ESTOU AQUI!”
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