
Ana Maria Cemin – 27/03/2025
“O Supremo Tribunal Federal quer me colocar no Inquérito 4922 só porque fui à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Fui, sim, mas às 18h30 e não invadi nada”, desabafa Mateus Viana Maia, 28 anos, morador de Vila Velha, ES. Ele vive o terror de ser perseguido pelo governo brasileiro desde que resolveu participar de um movimento pacífico e ordeiro, como aquele que frequentava na sua cidade.
Antes de iniciar o relato Maia vou explicar a razão da sua angústia: até amanhã, 27.03.2025, o preso político responde por apenas dois crimes – o de associação criminosa e incitação ao crime. Ter esse peso na vida já lhe causa transtornos, mesmo que a condenação do STF se resuma a prestar serviço comunitário, fazer aulas de democracia e pagar uma multa pesada.
O que provoca angústia é que amanhã encerra o seu julgamento virtual que lhe imputará mais crimes, cinco ao todo, e seu julgamento então lhe trará a pena de 14 a 17 anos em média, que é a realidade dos demais manifestantes nesse caso. Isso se chama aditamento.
Até a metade desta 5ª feira, dia 27 de março, tudo indica que ele será aditado e responderá por crimes graves, porque além do voto de Moraes já constam no sistema do STF os votos de Toffoli, Zanin, Carmem Lúcia, Dino e Nunes Marques. Somente Nunes Marques se posicionou contra o aditamento da denúncia.
O melhor de tudo é beber na fonte primária, então vamos ler o relato do jovem brasileiro que está nas mãos do STF.
“Não gravei nada em meu celular e nem há qualquer foto minha que sirva de prova contra mim, mas a gente sabe que não precisa de prova para nos prender. Basta a criatividade. Uma mentira contada.
Quando começou a invasão por volta das 13 horas do dia 8 de janeiro, eu estava no Restaurante Garrote, em Cristalina, Goiás. Ainda não tinha chegado em Brasília. Saímos de lá 14h40 e chegamos no QG de Brasília às 17h40.
Era a minha primeira vez em Brasília e a minha curiosidade era grande; queria muito conhecer a Praça dos Três Poderes. E lá cheguei por volta das 18h30. Não invadi, não usei força física e não quebrei nada.
Fiquei olhando ao redor e vendo a manifestação na qual os infiltrados promoveram o quebra-quebra para culpar o movimento dos patriotas. Nos vídeos podemos ver a presença de petistas e outros de esquerda usando camiseta do Brasil e promovendo baderna, enquanto patriotas tentavam impedir. É possível ver, inclusive, os petistas no local com bandeira do PT e de comunistas.
Às 19h30 voltei para o QG e a polícia estava cercando o local, mas foi impedida pelo Exército de fazer qualquer coisa contra os acampados naquela noite. Inclusive nós presenciamos trocas de tiros entre os policiais e os militares. Foi algo rápido, cerca de cinco minutos, e o confronto entre eles cessou.
Eu dormi no QG até 6 da manhã do dia 9 de janeiro, horário em que o Exército e polícia, desta vez unidos, determinaram que deveríamos entrar em ônibus. Depois de fazerem uma triagem, diziam, seríamos levados para rodoviárias e poderíamos voltar para casa em ônibus de linha. Os ônibus em que fomos ficariam retidos em Brasília.
Não foi o que aconteceu conosco. Deram muitas voltas por Brasília para nos humilhar e mostrar a gente como um troféu, para só depois nos levarem para a Academia da Polícia Federal.
Éramos mais de 2 mil pessoas de diversos estados e todos os tipos possíveis: crianças, idosos, trabalhadores, empresários, fazendeiros e tantos outros. Todos dormindo no chão, porque não tinha um lugar digno para deitar. Nem comida! O que trouxeram numa marmita para comermos era horrível, mas depois de ficar sem comer durante todo dia acabamos cedendo.
Depois de dois dias dormindo no chão chegou a minha vez de passar pela triagem com o delegado. A primeira coisa que fez foi apreender o meu celular e depois mandou eu assinar um papel e deu a voz de prisão.
Fiquei sem entender nada.
Meu destino foi a Penitenciária Papuda, onde pemaneci quatro meses em cela com capacidade para oito, mas ficamos em 22 pessoas. Dormíamos do jeito que dava. A audiência de custódia aconteceu três semanas depois de estar preso.
Ficar dentro de cela era bem complicado para o nosso emocional, porque aos poucos começaram a soltar alguns dos patriotas e outros ficavam para trás. Vivíamos na expectativa do dia seguinte. No meu caso, só quatro meses depois recebi o alvará de soltura. Foi no dia 8 de maio.
Sai usando tornozeleira eletrônica de bandido e estou com ela na perna até hoje, cumprindo todas as cautelares e indo todas as segundas-feiras no fórum para assinar presença. Posso sair de casa de segunda a sexta-feira somente e entre 6 e 20 horas.
Lutei por liberdade de expressão, por um Brasil melhor e não concordo com esse desgoverno. Me acusa daquilo que não fiz e ainda corro o risco de ser novamente preso.
Antes de tudo isso acontecer eu era vigilante. Nunca fui preso, não roubei, não sequestrei ou cometi qualquer crime na minha vida. Hoje trabalho como motorista de aplicativo.”
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