Ana Maria Cemin – Jornalista
14/02/2024 – (54) 99133 7567
Só depois de sete meses em Brasília, a professora aposentada Maria do Carmo da Silva, 61 anos, conseguiu voltar para a sua casa em Tangará da Serra, MT. Ficou “hospedada” no Presídio Colmeia passando todo tipo de humilhação, fome e privações. Atualmente, Maria está com tornozeleira eletrônica. Ela responde pelo Inquérito 4922 e aguarda o seu julgamento em primeira e última instância pelo Supremo Tribunal Federal. O que o ministro Moraes determinar, não tem como recorrer.
Por ironia, está sendo acusada de ser uma “depredadora de patrimônio público”, entre outros crimes, sendo que ela ministra cursos de elaboração e execução de projetos, sendo o seu projeto-modelo “Restauração do Casarão do Marechal Cândido Rondon”, um prédio tombado como patrimônio histórico-cultural no seu estado.
A professora estava no dia 8 de janeiro em Brasília e acompanhou a marcha em direção à Praça dos Três Poderes desde o QG. Saiu após a maioria dos acampados, pois estava num pequeno grupo que levava imagens de Santos nas mãos e ela carregava a Bíblia.
Foi só pisar no gramado da praça, depois de ser revistada pelos policiais que tiraram as suas máscaras de proteção de saúde, que Maria do Carmo avistou os helicópteros sobrevoando baixo e os policiais armados. Foi o começo das bombas e dos tiros com balas de borracha.
“Ainda bem que me deixaram passar com a minha arma muito poderosa, a Bíblia, porque atribuo a isso o fato de não ter sido atingida por bombas e tiros, pois ali naquele descampado eu era um alvo muito fácil. Nem mesmo quem estava ao meu lado foi atingido, porque os fortes ventos mudavam a direção dos projéteis lançados em nós. Eu segurava a Bíblia e a A Palavra de Deus tem poder. Depos, lá dentro do Palácio do Planalto, eu só orava e chegava na frente dos policiais com a Bíblia aberta, e não atendia as suas ordens – dadas aos gritos – para que eu me deitasse ou me sentasse”, diz Maria do Carmo.
“Isso foi um terror vindo da Tropa de Choque e o pior foi ver o exército ali presente não reagir para nos defender. Eles sabem que somos inocentes, pois chegamos depois das 4 horas da tarde do dia 8 de janeiro e eles já estavam lá. Me viram passando com a Bíblia na cara de cada um deles, inclusive na cara da Tropa de Choque”, diz ela.
“Terrorismo foi o que nós sofremos em Brasília! Eu tenho certeza de que eles sabem que não quebramos nada. É inaceitável o que aconteceu e o que continua acontecendo”, diz. revoltada com sua situação.
“Dentro do Palácio do Planalto, na minha frente, estavam alguns homens deitados, com máscaras e roupa preta. Os policiais tocavam com o pé, de leve nos ombros deles, e dizia: Esse é dos nossos, pode sair! E, assim, saíram uns cinco, antes de gritarem que estávamos sendo presos! A diferença entre os patriotas e os homens que saíram, é que não usávamos máscaras e eles, sim, estavam mascarados. E suas camisetas eram escuras”, conclui.
Revoltante!!!