Ana Maria Cemin – Jornalista
13/02/2024 – (54) 99133 7467
Moradora de Bauru, SP, a idosa Fátima Pletti, 62 anos, é mãe de quatro mulheres entre 37 e 44 anos, tem nove netos e dois bisnetos. O seu marido Luiz Carlos Manzano, 73 anos, sofreu AVC há alguns anos e, devido a uma série de sequelas, ficou acamado por longos meses e veio a se aposentar com salário-mínimo.
Essa guerreira faz de tudo um pouco para viver e é capaz de muitas coisas, inclusive organizar ajudas humanitárias para outros patriotas que passam por necessidades, mesmo estando em dificuldades extremas.
Fátima é uma das presas políticas de 8 de janeiro de 2023 e ficou sete longos meses presa no Presídio Colmeia, em Brasília. Hoje vive a expectativa de saber quando será marcado o seu julgamento. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, anunciou aos quatro ventos que todos que estão no inquérito de Fátima serão julgados até abril.
Neste carnaval de 2024, enquanto os brasileiros comemoram nas ruas, o Brasil já conta com 103 das 250 pessoas do mesmo inquérito policial que Fátima, que viraram ações penais, na seguinte condição: ou estão condenados em sua maioria a 14 a 17 anos de cárcere aguardando o trânsito em julgado da sentença para serem recolhidos aos presídios (alguns nunca saíram desde 8 de janeiro do ano passado) ou estão na fila de espera pela decisão dos 11 ministros do Supremo.
Nessa breve introdução à história recente de Fátima, podemos concordar que a sua angústia faz muito sentido. Nas linhas que seguem temos as lembranças de Fátima na nossa capital federal.
CASTIGO E CHOQUE ELÉTRICO DENTRO DA CELA
Fátima sofreu tortura psicológica em várias situações, mas uma delas ela faz questão de destacar. Fátima sentia muito frio nos pés dentro do cárcere devido à fibromialgia e estava com o nervo ciático inflamado desde que chegara em 8 de janeiro. Num ato de agressividade, uma das policiais tirou de Fátima as meias que servia para aquecer os seus pés e as jogou no lixo.
Educadamente, Fátima reclamou da atitude pedindo a devolução das meias que tinha acabado de ganhar. A carcereira gritou com ela e a fez chorar. Essa mesma policial penal, conforme relata, também tirou uma bermuda de uma patriota de 61 anos, chamada Odiceia, a fazendo chorar também.
Não bastasse isso, irritada com as idosas, a policial obrigou Fátima e Odiceia a levarem os seus colchões, estrados e poucos pertences para outra cela escura, cheia de fezes, terra, absorventes sujos esparramado pelo chão, cascas de banana etc.
Ela lembra de gritar muito e todo seu corpo doía; pedia para não ficar naquele local sujo, fedido, sem água para beber, sem ter o que comer. Ela chorava e gritava, sem que fosse atendida.
Foi então que Fátima viu alguns fios de eletricidade soltos e pensou em fazer alguma coisa, já que não identificava qualquer interruptor na cela. Ela queria luz e viu que ali tinha uma lâmpada e decidiu, mesmo com muito medo e em pratos, encostar fio com fio. Nesse momento, ocorreu um grande estouro, Fátima deu um berro e caiu para trás. Odiceia gritava e pedia socorro batendo nas grades de ferro.
Em poucos segundos, todas as patriotas das outras celas começaram a fazer o mesmo. Gritavam e batiam nas grades dizendo: “Senhora, socorro! A Pletti morreu!”. Até mesmo as criminosas da ala vizinha gritavam: “A patriota precisa de socorro, Senhora!”.
O socorro veio horas depois e os policiais ligaram as luzes. Um policial posicionado do lado de fora da cela discutia com a policial carcereira que fez a transferência das duas: “Por que você fez isso com essas pobres senhoras? Para que tanta crueldade? Já não basta o que estão sofrendo?”. A carcereira respondeu a ele que o plantão era dela.
Com o acidente de eletricidade, os ferrolhos da porta da cela das duas foram abertos pela carcereira e Fátima saiu pedindo desculpas: “Pelo amor de Deus, eu não faltei com respeito com a Senhora. Eu apenas queria as minhas meias de volta. Está amanhecendo e é dia de visita e há seis meses não vejo o meu marido”, implorava a idosa, com medo de não poder ver o amor da sua vida.
Sem demonstrar qualquer humanidade, a policial mandou as duas presas idosas pegarem as suas coisas aos gritos para retornar para a Ala D. Fátima, no entanto, não tinha forças por estar há dias sem dormir e se alimentando só com bolachas e água. Então, arrastando a perna infeccionada pelo ciático a idosa voltou para a ala anterior, mas precisou da ajuda de outra patriota para carregar o colchão e os demais pertences.
Ao amanhecer do dia em que veria o seu marido, Fátima teve o auxílio das outras presas políticas para o banho. Elas hidrataram sua pele e trataram o seu cabelo, a deixando animada para o grande encontro. Na hora em que deveria ser anunciado na cela quem receberia visita naquele dia, Fátima ouviu o seu nome e as patriotas a abraçaram felizes. Seu coração saia pela boca de tanta alegria em pensar que seria abraçada pelo seu amor.
NOVO CONFLITO
Na organização da fila única para descer ao pátio para receber o visitante, no entanto, ela não foi chamada. Estava cheirosa e arrumada aguardando pelo seu nome e, ao terminar a chamada, nada de ouvir. Tremendo perguntou se não iria e a resposta foi cruel: “Estamos decidindo ainda se você terá esse direito”.
Fátima desmoronou ao ver todas seguindo em fila ao pátio e ela não. Implorava o direito de ver o seu marido que tinha chegado de Bauru para vê-la. Gritava: “Eu não sou criminosa! Quero ver o meu marido. Socorro! Socorro!”.
Enquanto Fátima gritava dento da cela, lá no pátio o marido Luiz Carlos protestava veementemente por não poder ver a sua esposa, com quem está casado há 24 anos. Depois de muita luta dos dois, foi permitida meia hora para o encontro.
Em junho do ano passado, Manzano ficou três meses em Brasília esperando-a sair do Colmeia, abandonando a casa em Bauru, para poder ficar perto da sua mulher. A patriota voltou para Bauru no dia 30 de agosto e foi recebida com uma festa, quando comemoraram o aniversário de 62 anos.
POR QUE A FÁTIMA FOI A BRASÍLIA?
Fátima foi às manifestações de Brasília pela primeira vez ainda em novembro, ficou uns dias e voltou. No início do ano foi convidada a participar da manifestação pacífica e ordeira nos dias 9 e 10 de janeiro, segunda e terça-feira. Aceitou e saiu de Bauru no dia 7, com chegada na capital federal na tarde do dia 8.
A idosa organizou as suas coisas numa onde estava hospedada nos arredores da Praça dos Três Poderes, colocou os chinelos para descansar os pés depois da viagem de 15 horas. Estava curiosa a respeito dos rumores de que a Ana Priscila e seus colegas tinham quebrado o patrimônio público do povo brasileiro, então resolveu ir conferir o que estava acontecendo na praça ainda no dia 8, junto com os seus amigos.
Passaram pela revista policial no viaduto e Fátima continuou com as suas coisas: celular, Bandeira do Brasil e uma caixa de bombons Nestlé. Já nas proximidades do lago, por volta das 16h30, Fátima ficou chocada e sem entender nada olhando para aquilo tudo. Via muitos ambulantes vendendo frutas, água de coco, água mineral, bandeiras etc., e, também, muitas pessoas da mesma família, com crianças, idosos, cadeirantes. Uma multidão!
De súbito apareceram muitos policiais fortemente armados, com escudos e até tropa de cavalaria atirando sem parar. Acima das suas cabeças sobrevoavam dois helicópteros fazendo a mesma coisa: alvejando a população indefesa. Os tiros com balas de borracha atingiram pessoas próximas de Fátima e ela via sangue escorrendo e ouvia muitos gritos e choro.
NO AR E POR TERRA OS CONDUZIRAM AO PRÉDIO
Em movimento sincronizado, os policiais em solo e em sobrevoo em helicópteros conduziram aquela massa de pessoas, na qual a idosa se encontrava, para dentro do prédio do Senado. Ao entrar, Fátima viu tudo molhado e com vidros no chão. Seu corpo reclamava com as dores de fibromialgia e ela se preocupou em não pisar em cacos para evitar cortar os seus pés.
Quando o cerco foi armado, percebeu ter as opções de morrer, porque viu muita gente caída ensanguentada, ou de se proteger no único local possível que era um prédio na sua frente. Ela tremia e chorava, e dessa forma subiu uma escada depois de passar pela água e pelos vidros, e lá em cima encontrou famílias desesperadas.
Sentia o gás das bombas a queimar o seu rosto. Ao abrir uma porta de um banheiro feminino, viu muitas outras senhoras que intercalavam o choro, a oração e a lavagem dos seus rostos numa pia para amenizar o ardor do gás de pimenta. Fátima lavou o rosto e molhou a bandeira para usar como compressa para aliviar a sensação na pele.
Quando saiu do banheiro, um soldado logo gritou: “Para a esquerda senhoras”. Então ela correu para o lado indicado, viu uma escada interditada com muitas cadeiras de escritório amontoadas para que ninguém conseguisse descer, e acabou chegando em um grande salão, que depois descobriu que era o Plenário do Senado.
CENA SURREAL
De tudo que Fátima viveu em poucos minutos, desde o ataque na praça, a entrada no prédio e a fuga para o andar superior, foi a chegada no local reservado à reunião dos senadores da República que ela considerou mais surreal.
Ao chegar, observou que o local estava ocupado por muitos cristãos que oravam, choravam e louvavam. A atitude dos policiais era humana ali dentro, pois acalmavam as pessoas e prometiam retirar a todos do local em segurança. Para Fátima era difícil acreditar, porque lá fora ouvia a queda de muitas bombas, jogadas sem piedade contra os prédios e nas pessoas que estavam no gramado. Crianças, idosos, ambulantes, cadeirantes eram alvos daqueles que deviam os proteger. Um horror!
Fátima lembra que deu uma acalmada no ataque por volta das 18h30 e um soldado foi até ela informar que todas as senhoras seriam levadas em segurança. Pedia que parasse de chorar, pois poderia passar mal. Ofereceu um copo com água e Fátima aceitou.
Os policiais começaram a retirada das pessoas do prédio do Senado, conduzindo pela escadaria em direção ao um estacionamento. Teve formação de fila e era notório que todos estavam cansados, com fome e dores. Um patriota idoso entrou em convulsão e os policiais não socorriam. Depois de longa demora, chegaram paramédicos e fizeram o atendimento no próprio estacionamento. Observaram que a pressão estava alta e, depois de mais duas convulsões, o levaram para uma sala próxima ao local onde estávamos. As mulheres gemiam de dores de cabeça, coluna e ciático, como era o caso da Fátima.
MADRUGADA NO ESTACIONAMENTO DO SENADO
As pessoas não aguentavam mais a demora para uma solução e continuavam no mesmo local. Fátima não conseguia agachar de tanta dor, assim como outras senhoras. Alguns se deitaram no chão sujo do estacionamento.
Às 2 da madrugada, iniciou uma movimentação e os patriotas foram levados de dois a dois até uma sala, onde eram interrogados. Queriam saber de onde eram, o que vieram fazer em Brasília, o que achavam do presidente Lula, se estavam ali porque Bolsonaro os chamou para ir até lá para a tomada do poder.
Fátima contou a sua história de chegada em Brasília e disse que jamais colocaria um criminoso para cuidar de sua casa. Disse estar na capital federal para orar, pois o ex-condenado queria liberar as drogas e o aborto. Destacou que a manifestação pacífica em oração seria nos dias 9 e 10, depois retornaria para Bauru. Falou que tinha deixado idosos e crianças na pousada descansando da viagem e que tinha ido ver o que tinha acontecido.
Sendo verdade os rumores de depredação, a manifestação pacífica seria adiada, por segurança. Fátima declarou não ter quebrado nada, por ser uma mulher de princípios e ser uma bisavó. Se demorou um pouco no interrogatório relatando a sua decepção como eleitora, pois descobrir que as urnas eram fraudadas desde sempre e que ela era mais uma mané, deixava ela muito triste. Lembrou à policial a frase que entrará na história do Brasil: “Eleição não se ganha, se toma!”.
Após o interrogatório, quase às 3 horas da madrugada, Fátima entregou o seu celular e recebeu a voz de prisão. Ela gritou: “Eu não fiz nada de errado para ser presa. Quero falar com o meu marido!”.
Ela não foi ouvida e foi levada até as demais pessoas que tinham passado pelo interrogatório. Em meio a choros, muita fome, Fátima se viu num ambiente com muitos guardas que apontavam as armas na direção deles. Não tinha cadeiras. O chão era frio. Fátima não conseguia agachar de tanta dor.
Depois disso, por sete meses viveu no presídio.
Ao ler tudo isso me encontro mto mal com tamanha crueldade. 😭😭
Os livros que narrarão os acontecimentos de nossa época claramente irão suprimir detalhes que são condenáveis aos olhos da população brasileira como por exemplo os atos da policial feminina que fez questão de jogar no lixo as poucas e necessárias peças de vestuário das detentas.
Ao ler esse relato, e outros similares, o sentimento é de tristeza e revolta. É muita covardia e prepotência! Pobre Brasil! A volta do luladrão abriu as portas do inferno e veremos muitas coisas deprimentes antes de nos livramos dessa gangue que comanda o país.
Deus , Justiça e bondade quer o bem de todos os seus filhos. Os patriotas foram realmente sacrificados , desrespeitados em seus direitos. Com certeza essas injustiças vão cair na conta de todas essas pessoas que agiram com tamanha frieza. Sabemos que tudo foi armação. Eles acham que até hoje conseguem enganar. A semeadura é livre. A colheita sim obrigatória. Vai chegar o tempo . Tudo será esclarecido. Temos fé.
Difícil imaginar o que estes Patriotas passaram! Mas ao ler o relato, é revoltante, dá vontade de chorar, gritar, pedir justiça, mas infelizmente te sabemos q hj, um único homem manda em td: prende, solta, condena, deixa morrer na prisão… quanta crueldade… mas td acaba, inclusive o que é ruim. Todos que fazem ou são coniventes a estas atrocidades, vão pagar… Nada dura para sempre. E o castigo virá, a justiça DE FATO, será feita; vamos ver cada um deles, pagar e bem caro por td.
Presos por fazer algo que consta na Constituição: Manifestação pacifica; presos políticos, inclusive idosos e muito doentes, como Roberto Jeferson, e tantos outros. Tanta desumanidade, maldade, q se nao fosse a minha fé, era pra desacreditar de td que acredito nesta vida: Deus sim é o Todo Poderoso e estes, que pensam que são, levarão um tombo bem maior. Não acreditamos nos homens, mas acreditamos na União do Povo de bem e em DEUS.
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