
Ana Maria Cemin – Jornalista
16/02/2024 – (54) 99133 7567
O preso político AFL, 44 anos, é pai de sete filhos, só dois não moram com ele e têm mais de 18 anos. Ele é caminhoneiro, mas depois de que ficou 52 dias no cárcere em Brasília, por estar acampado no QG de 8 para 9 de janeiro de 2023, ele passou a ter uma renda mensal que representa apenas 22% do que ganhava.
A esposa não trabalha fora e cuida dos cinco filhos menores, com idades de 13, 12, 8, 3 anos e um bebê de poucos dias.
A minha conversa com esse caminhoneiro, que não pode trabalhar como motorista devido às cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal, foi breve, porque ele tem que abraçar qualquer “bico” que surja e ele tinha um serviço para fazer imediatamente após a nossa ligação telefônica.
Como mantenedor da família, AFL corre de um lado para o outro para conseguir somar cerca de R$ 1,2 mil por mês. Com esse valor leva comida para casa e atende as necessidades mínimas. Volta e meia a mãe do rapaz ajuda e algum amigo percebe a carência e, espontaneamente, oferece alguma ajuda.
O motorista prefere não pedir ajuda.
“Desde que surgiram os rumores sobre as eleições não serem justas, fiquei alerta. Devido a minha profissão, no final de 2022 eu estava sempre na estrada e pude visitar alguns acampamentos como em Cascavel (PR), Itajaí (SC) e Nova Santa Rita (RS). Foram participações esporádicas, porque sempre trabalhei muito, mas percebi que era um movimento ordeiro e pacífico.
No início de 2023 entrei em férias da empresa e soube que tinha caravanas indo para Brasília. Embarquei numa delas e nunca soube quem financiou. Como eu tinha 20 dias de férias estava tudo tranquilo.
Cheguei no sábado com a caravana e na segunda-feira, dia 9 de janeiro, já estava preso, sem conseguir avisar ninguém. Depois de encontrar ajuda pro bono de advogados, passei a ter alguma comunicação com o mundo externo do Presídio Papuda, então soube que estava desempregado.
Naquele momento da minha vida não tinha dívida, mas também não tinha sobra de recursos para pagar um advogado. Se não tivessem aparecido esses profissionais para atuarem sem cobrar, eu estaria preso até hoje.
Foram 52 longos dias de prisão e, por sorte, eu tinha feito um bom rancho no final do ano, comprado gás e deixado condições para a minha esposa e os cinco filhos pequenos viverem enquanto eu estava lá no presídio.
Desde então, nunca mais dirigi. Faço trabalhos como serralheiro, pintor e eletricista quando me chamam. No começo foi difícil por não ser conhecido no meio, mas agora sempre tem um bico aqui e outro ali. Não nego por precisar muito!
Eu sinto a consciência limpa: quem não deve não teme. Todo o psicológico da família ficou muito abalado e eu sinto falta de uma vida de liberdade para trabalhar e trazer um sustento digno para a minha família. Hoje não podemos pensar em comprar uma roupa para as crianças, nem num sorvete a mais. Tudo é muito contado. Mas me apego na Palavra de Deus; diz que quando há uma peleja os justos serão perseguidos. E apesar de eu fraquejar em alguns momentos, eu sei que nada fizemos para passar por tudo o que estamos passando e a justiça será feita.”
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