
Ana Maria Cemin – 02/05/2025
A professora aposentada Maria do Carmo da Silva, 62 anos, encontra-se esquecida dentro de um Hospital Penitenciário onde cumpre uma pena de 14 anos de prisão. Qual a razão? No início do ano de 2023, ela estava na caravana de Tangará da Serra, MT, que foi à manifestação de Brasília. Assim como milhares de pessoas, participou da marcha até a Praça dos Três Poderes carregando consigo uma Bíblia. A idosa não fez outra coisa senão abrigar-se num dos prédios abertos durante o bombardeio de helicópteros, porém foi tratada desde então como uma mulher perigosa para o atual governo. Isso nos faz pensar quanto forte é Maria do Carmo (e as muitas “Déboras”), para permanecer no cárcere mesmo sendo uma pessoa comprovadamente adoecida com toda a tortura que lhe foi imposta desde 8.01.2023.
Mãe de três cidadãos de 25, 28 e 35 anos, Maria do Carmo fez Pedagogia e Pós-Graduação. Ela só voltou para casa depois de sete meses presa em Brasília, isto é, em agosto de 2023, e ainda assim em liberdade provisória, com uso de tornozeleira eletrônica.
Ela respondeu pelo Inquérito 4922 e foi condenada por cinco crimes, dentre eles golpe de estado armado, coisa que é inconcebível para esta senhora, assim como os outros acusados e condenados. Quando julgada, foi em última instância, sem direito a recurso. Moraes e os demais ministros do Supremo definiram o seu destino de forma virtual.
Por ironia, está sendo acusada de ser uma “depredadora de patrimônio público”, entre outros crimes, sendo que ela ministrava cursos de elaboração e execução de projetos, sendo o seu projeto-modelo “Restauração do Casarão do Marechal Cândido Rondon”, um prédio tombado como patrimônio histórico-cultural no seu estado. Essa senhora deu aula durante muitos anos para as séries iniciais, para depois especializar-se em elaboração de projetos.
Em entrevista concedida há muitos meses, ela disse: “Ainda bem que me deixaram passar com a minha arma muito poderosa, a Bíblia, porque atribuo a isso o fato de não ter sido atingida por bombas e tiros, pois naquele descampado eu era um alvo muito fácil. Nem mesmo quem estava ao meu lado foi atingido, porque os fortes ventos mudavam a direção dos projéteis lançados em nós. Eu segurava a Bíblia e a A Palavra de Deus tem poder”, me disse essa senhora cheia de fé.
Cronologia de uma vida destruída:
08.01.2023 – Foi presa por estar se abrigando das bombas dentro do Palácio do Planalto.
Agosto de 2023 – Saiu em liberdade provisória e aguardava seu julgamento.
06.06.2024 – Foi presa sob o argumento de fuga para outro país.
04.06.2024 – A penitenciária emitiu laudo sobre a debilidade de saúde de Maria.
18.07.2024 – Moraes autorizou a prisão domiciliar. Ela só podia ter contato com familiares em primeiro grau e o advogado.
11.10.2024 – STF certificou o trânsito em julgado da sentença de 14 anos de prisão.
18.12.2024 – Moraes determinou o fim da prisão domiciliar e que voltasse a cumprir em regime fechado. Iniciou a Execução Penal.
22.01.2025 – Maria do Carmo voltou a ser presa, pela terceira vez, agora para cumprir os 14 anos.
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