
Ana Maria Cemin – 06/05/2025
A dentista Yette Santos Soares Nogueira, 57 anos, apresenta um grave quadro clínico dentro da Unidade Penal Feminina de Palmas, TO, onde se encontra desde agosto do ano passado, após ser recolhida numa das Operações Lesa Pátria.
Conforme os laudos médicos, depoimento da própria presa em audiência e relatório clínico atualizado, Yette possui nódulo tireoidiano com suspeita de malignidade; nódulo em corda vocal; obstrução em veia intracraniana; obstrução em válvula cardíaca; colite ulcerativa crônica com intolerâncias alimentares graves; sequelas pós-COVID-19; perda de 20 kg durante o período de prisão.
Também o seu quadro psiquiátrico é severo, apresentando transtorno misto ansioso e depressivo, reação a estresse grave, sintomas psicossomáticos intensos, insônia, e ideação de morte recorrente (sem plano suicida), apesar de uso contínuo de Escitalopram, Quetiapina e Alprazolam. Há recomendação médica expressa de retorno imediato à psicoterapia com profissional da rede privada, tratamento que se mostra inviável no atual regime prisional.
Yette também é a única responsável por seus pais, com idades avançadas (82 e 81 anos), portadores de enfermidades como glaucoma, cegueira parcial, hipertensão e diabetes. Ambos dependem exclusivamente de Yette para visitas aos médicos, administração de medicamentos e sustento básico, já que as suas aposentadorias somadas são insuficientes para as despesas essenciais. A ausência da filha cuidadora tem causado sofrimento psíquico aos idosos e agravamento das suas próprias condições clínicas.

QUAL A RAZÃO DE YETTE NÃO RECEBER DOMICILIAR?
A resposta é uma só: Yette ainda não foi julgada e poderia estar em casa, em prisão domiciliar. O assunto está na mesa do relator.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a ida para casa, em prisão domiciliar, de vários presos políticos de 8 de janeiro que não tiveram condenação ou, se condenados, têm alguma necessidade especial para ser cuidado pela família. Yette se enquadra no primeiro caso, o mesmo de Débora de tantos outros, como Aildo Francisco Lima, Cláudio Mendes dos Santos, Eliene Amorim de Jesus, Fabrízio Cisneros Colombo, Gilberto da Silva Ferreira, Marco Alexandre Machado de Araújo, Marlúcia Ramiro, Nelson Ribeiro Fonseca Junior, Ramiro Alves da Rocha Cruz Júnior, Rubem Abdalla Barroso Júnior e Helielton dos Santos. Eles já foram para casa!
Além desses nomes constam outros que recentemente foram para a prisão domicilliar por apesentarem quadro de saúde grave. A pergunta que fica é por qual razão a dentista ainda continua no cárcere se ela se enquadra perfeitamente nas condições de uma prisão domiciliar?
O depoimento que relato a seguir, na primeira voz, tem data de 7.02.2024, mais de seis meses antes da prisão da dentista.

“Passei por um momento de pressão familiar, de me sentir culpada por trazer desgosto a todos ao meu redor em função das perseguições políticas. Com tudo isso, entrei em licença-prêmio para me recuperar, mas retornarei às atividades na segunda-feira, dia 12.02.2024.
Sou dentista e concursada pelo município há 23 anos, e atuo num programa de saúde da família. Se eu fosse contratada pelo município, eu já estaria demitida, mas o fato de ser concursada me dá essa garantia de liberdade de expressão.
PERSEGUIÇÃO POLÍTICA
Até 2021, eu fui presidente da Associação dos Conservadores Tocantinenses e quando eu renunciei quem assumiu foi Lucimar Godoi. Saí candidata ao cargo de Deputada Federal em 2022 pela direita, mas não consegui chegar lá. Depois disso, comecei a ser perseguida e muito mais ainda depois do 8 de janeiro, com a minha ida a Brasília. Foi praticamente lavrada a perseguição a partir daí com a presença da Polícia Federal em minha casa.
EXPERIÊNCIA EM BRASÍLIA
Muita gente de Palmas estava organizada para sair em excursão para a capital federal, mas eu tinha desistido, afinal o Lula já tinha subido a rampa. Então começou uma pressão de que todos deveríamos ir e eu continuei falando que não iria, que estava de férias e meu marido queria fazer uma programação em família. Ele pedia que eu parasse de participar do movimento criado no pós-eleição em frente ao QG.
Na última hora, mesmo com o meu nome na lista da excursão de ônibus, fiz um programa diferente e optei de ir de carro e ficar na casa de meu primo em Brasília. Claro que eu tinha a intenção de ir até o QG. Aliás, no programa que tínhamos, a ida para a Praça dos Três Poderes era de marchar no dia 9 de janeiro, uma segunda-feira.
Eu estive no dia 8 de janeiro no QG no período da manhã e vi que seria naquele dia, um domingo. Isso era por volta de meio-dia e me coloquei em marcha para a praça com todos os demais. Era uma multidão e eu me meti no meio. Estava tudo muito bonito e o propósito era abraçar a Praça dos Três Poderes e dar um grito de liberdade.
VÍDEOS E SINDICÂNCIA
Emocionada, joguei na rede social alguns vídeos e, ao chegar na praça, vi a bagunça que estava com tudo quebrado, fui embora. Inclusive era possível ver gente dentro de prédio vestido de preto e mascarado, eu não entendi nada. Não me senti bem. A decisão de ir embora eu tomei quando vi que empurraram uma mesa contra uma janela e caiu lá embaixo. Algo inconcebível.
Logo mandaram os meus vídeos para a minha patroa, a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), que utilizou os mesmos para fazer uma sindicância administrativa e trabalhista contra mim dentro da prefeitura. Ela não conseguiu arrumar nada, porque estava tudo em dia.
PÁGINA CONTRAGOLPE
A perseguição se intensificou com os meus vídeos enviados para a página Contragolpe, criada para receber denúncia de pessoas que estiveram em Brasília. Isso tudo criou muita confusão entre todos nós, porque era para ser o mesmo movimento pacífico e ordeiro como todas as demais experiências em frente aos QGs, em todo o Brasil. A contragolpe fez uma coletânea de imagens de patriotas e aquilo circulou nas redes como se fôssemos golpistas. E mais: usavam expressões como terrorismo.
Claro que eu sei qual é a intenção disso tudo. Querem mesmo aniquilar os candidatos, as possibilidades futuras da direita. Sou muito envolvida com projetos sociais aqui em Palmas e sou uma candidata forte. Dessa nova turma que está chegando, de direita, com cerca de 15 nomes, eu fui a mais votada.
BLOQUEIO DE CONTA
Bloquearam a minha conta salário, então eu não recebo mais pelo meu trabalho. Pegaram o meu carro, meu passaporte, meu celular. Na revista feita pela Polícia Federal em minha casa, estavam atrás de joias e dinheiro em cofre. Fui considerada uma financiadora junto com Lauro Lopes Valadares estou sendo investigada num inquérito só porque o meu nome ficou na lista dos ônibus de Palmas que foram a Brasília.
Porém eu tenho todas as provas de que fui de carro, inclusive as multas de Brasília com data do dia 8 de janeiro, com imagens da placa do meu carro. Saí de férias, fui dormir no meu primo e estão dizendo que encabecei a caravana. Não é verdade!
Eu estou contando isso para você (Ana Cemin), mas tudo que faço eu peço permissão para os meus advogados. Aqui em Palmas, assim como em todo o Brasil, tem um movimento que nos fez entrar numa cilada. Os infiltrados estavam no nosso movimento desde o começo e eu consegui ver isso lá em Brasília.
NECESSIDADE DE TER VOZ
Eu te procurei porque aqui no Tocantins nós não temos ninguém com essa ousadia, com essa coragem de relatar os casos do 8 de janeiro, e a única forma da gente sair dessa situação é relatando os casos.
Eu pensei em ir para a rede social para denunciar. Pensei em reunir os quatro daqui do Tocantins que estão sendo considerados financiadores para dar uma entrevista, até para desmistificar tudo isso. É preciso desfazer toda essa loucura que estão querendo criar ao redor sobre financiamento de golpe.
Desde que tudo isso começou eu sinto ansiedade, estou com síndrome de pânico, tenho medo de ser morta e convivo com xingamentos nas redes, além de ter a minha conta bloqueada. Toda vez que batem na porta eu penso que é a polícia que vem me prender. O impacto de ser investigada por algo que não fiz é tão forte que estou traumatizada”.
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