Texto: Ana Maria Cemin – Fotos de Eduardo F. S. Lima e arquivo pessoal da entrevistada
12/08/2024
Em 13 de julho, Ana Cláudia Rodrigues de Assunção, 57 anos, de Mafra, SC, foi para a Argentina para uma viagem só de ida. Contra ela pesa uma condenação de 16 anos e meio, sentença dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por ela ter se manifestado em Brasília em 8 de janeiro.
Desde o dia 14 de maio ela poderia se considerar uma foragida, isso porque o Gabinete de Alexandre de Moraes expediu o mandado de sua prisão nessa data. Porém, ela seguiu com todas as rotinas de uma presa política, inclusive foi até o Fórum de Ponta Grossa, cidade onde reside desde 2019, para assinar a ficha até o dia 1º de julho, como fazia todas as segundas-feiras.
Até optar pelo autoexílio, Ana Cláudia morava em Ponta Grossa com sua filha e seus dois netos (de 5 e 15 anos) e o gato Snouw. Hoje ela está com as contas bloqueadas e desesperada pelas circunstâncias jurídicas (ser julgada em última instância e não ter como apelar) e vive de favor.
Me diz que pior do que as suas condições de vida na Argentina, que são péssimas, é a situação da filha e netos que ficaram no Brasil e moravam com ela. “Não sei como o aluguel será pago, pois eu trabalhei até o último momento, mas todas as minhas comissões e poupança foram bloqueadas”, diz, aos prantos.
ÚLTIMO MÊS NO BRASIL
“Cheguei aqui (Argentina) há um mês, exatamente às 11 horas e 11 minutos do dia 13 de julho. Eu não sabia que estava com mandado de prisão aberto e só fui saber por meio de amigos, que fizeram uma pesquisa com o meu CPF. Como eu já tinha sido julgada e condenada a 16 anos e meio, e aguardava o trânsito em julgado da sentença, não fazia ideia do que era esse “algo novo e sigiloso” do STF. Mesmo estranhando, continuei tocando a vida até que uma moradora de um endereço meu antigo em Mafra, SC, recebeu a visita da Polícia Federal no dia 6 de junho. Foi exatamente na data de uma grande ação de recolhimento de patriotas aos presídios, quando dezenas de pessoas foram presas. Era para eu ser presa naquele dia, mas erraram o meu endereço.
A moradora contou que três policiais foram ao apartamento e apontaram armas, deixando o marido e ela muito nervosos. Eles logo ergueram os braços sem entender nada do que estava acontecendo. Só então a PF solicitou documentos e constatou o erro. Isso foi às 6 horas da manhã.
Essa ocorrência levantou suspeitas de que em breve eu seria visitada em meu apartamento em Ponta Grossa e comecei a ter muito medo e pesadelos. Fiquei sem dormir por dias e acabei entendendo que eu precisava ser mais fria que todos da minha família (filha e netos), até porque eu precisava continuar trabalhando. Só não me ocorreu que as minhas contas seriam bloqueadas e todas as comissões de vendas que tinham entrado naquela semana ficaram retidas, assim como a minha poupança. Minha família e eu ficamos sem qualquer recurso.
DIFICULDADES AO VOLTAR PARA CASA
Eu sou corretora de imóveis e trabalhava com propriedades de alto padrão em Ponta Grossa. Algumas das empresas com as quais eu lidava eram de esquerdistas e fui muito perseguida depois do 8 de janeiro. Queriam saber quem era a corretora de imóveis que ficou presa e com isso perdi clientes.
Depois de algumas semanas de volta de Brasília, após sete meses presa, recebi a visita de um oficial de justiça que me disse que o juiz estava cobrando para eu me apresentar, porque os registros apontavam que até então eu não tinha me apresentado. E mais: anunciou que eu seria presa dentro de três dias. Provei que compareci regularmente todas as segundas-feiras na Vara de Execuções Penais (VEP) e o assunto foi esclarecido.
Inclusive, lá na VEP algumas pessoas consideravam toda essa situação muito ridícula, porque no final do ano assaltantes de banco, assassinos, sequestradores e outros criminosos foram soltos na conhecida “saidinha de final de ano”, e eu estava impedida de viajar para passar o Natal em família. O pedido foi feito, mas o ministro Alexandre Moraes não autorizou.
CORTE DA TORNOZELEIRA
No dia 1º de julho, eu cortei a tornozeleira, porque descobri que havia uma ordem de prisão e com a tornozeleira eles saberiam qual era a minha localização. Cortei, mas a sensação dentro de mim era bem ruim e logo comecei a receber mensagens do monitoramento para que eu averiguasse problema de bateria. Chorei porque eu não tinha certeza se aquilo era certo ou errado, e vivi uma confusão de sentimentos. Senti até mesmo compaixão pelas pessoas que estavam enviando as mensagens, porque nem imaginavam que eu tinha tirado o aparelho.
Mas afinal de contas o que era certo desde que o 8 de janeiro aconteceu na minha vida?
Então fiquei escondida dentro de casa, num compartimento atrás do guarda-roupa do meu neto. Uma espécie de parede falsa que o proprietário do imóvel fez para esconder pertences e eu me refugiava ali.
Mesmo em risco, durante os dias seguintes eu saía de casa para fazer as atividades do dia a dia, como ir até a farmácia comprar remédio para a minha neta, mas sempre olhava antes a movimentação na rua e usava disfarces, com um gorro na cabeça ou capuz.
Eu vivia me escondendo e num dos dias em que fui atender um cliente interessado em comprar um imóvel, fui surpreendida quando ele contou que policial federal. Tive que ter muito autocontrole e apurei o máximo que pude na visita, e depois disso passei o cliente para outro corretor.
Eu vivi como bicho naqueles dias, me escondendo dentro daquele armário cada vez que tocava a campainha. Um espaço minúsculo!
ARMADILHA
Numa ocasião, a Polícia Federal se passou por cliente ao conversar com a minha filha, que me ajudava nos negócios de imóveis. Esse senhor conversou com ela e demonstrou interesse por um dos apartamentos do catálogo e pediu para que ela simulasse o financiamento. Agendou visita para tarde e mandou uma mensagem para ela, numa conversa que parecia de fato uma relação de negócio. Quando ele percebeu que ela não era eu, falou para cancelar a visita porque ele não iria comprar o apartamento. “Você é mesmo quem falou ser”, disse ele, deixando clara a armadilha.
Minha filha explicou que, infelizmente, eu tinha ido embora, fugida da polícia para não ser presa e que eu era inocente. Como resposta, o policial disse que era melhor eu me entregar, porque seria iniciada uma verdadeira caçada e isso seria ruim. Minha filha perguntou para onde eu seria levada, e ele respondeu “para o presídio de Ponta Grossa”, sem esconder o riso de deboche.
LONGE DE TODOS
Carla é minha filha única e tem 37 anos, é mãe da minha neta Edith de 5 anos que chora todos os dias de saudade e tem problema no colégio, e do meu neto Davi, de 15 anos, que desenvolveu herpes no corpo após o 8 de janeiro.
Eles moravam comigo até eu sair do Brasil. Eu fui antes para Ponta Grossa, em 2019, e logo que cheguei peguei Covid e quase morri. Tenho sequelas respiratórias. Fui para o Paraná porque recebi uma proposta de trabalho. Até sair de Santa Catarina, eu estava há três anos cuidando a minha mãe, sem trabalhar fora, e ela tinha falecido. Nessa época, eu concluí o curso de corretora de imóveis e não havia pegado minha credencial, até porque tinha um custo de anuidade para atuar e eu não tinha dinheiro para pagar.
Fui morar numa quitinete em Ponta Grossa, peguei Covid e, para a minha desgraça, o sujeito que me convidou para o trabalho desapareceu, e eu não tinha dinheiro trabalho, estava doente e sem recursos para me sustentar. Então fiz a mala e sai para a rua, sem ter onde ficar.
Sentei-me num local aberto e comecei a orar para Deus. Do nada recebi uma ligação de uma conhecida do Paraná, que estava residindo na casa dos seus pais em Maringá, e contei a minha história. Ela pediu para repetir o meu drama e colocou em viva-voz para o pai dela ouvir, que fez depois disso fez uma breve pesquisa sobre a minha vida, para saber se eu tinha boa índole.
ACOLHIMENTO
Gentilmente, a família cedeu um apartamento que eu poderia ocupar em Ponta Grossa pelos meses necessários para recuperação da minha saúde. Assim pude me cuidar e voltar a ganhar dinheiro para me sustentar. Foi uma bênção!
Nos meses iniciais, peguei o seguro emergencial oferecido pelo governo. Depois de cinco meses devolvi as chaves e fui à Caixa Econômica Federal para cancelar o benefício. O gerente nem acreditou que eu estava pedindo para cancelar, mas eu expliquei que por ser cristã tenho o compromisso moral de fazer as coisas certas. Naquele momento eu não estava mais dependendo de ajuda, pois eu estava trabalhando!
FOME AQUI E NO BRASIL
“Mãe para quem que eu posso pedir comida?”, essa pergunta da minha filha hoje (primeira semana de agosto) acabou comigo. O dinheiro acabou. Ela teve que comprar um remédio para o meu neto no valor de R$ 850,00, que o SUS não fornece. A minha neta também caiu e quebrou um dente. Tudo custa e eu estou aqui longe, sem dinheiro e sem ter como trabalhar. Ela não está pagando aluguel…
Estou quase sem recursos aqui na Argentina e tentando encontrar algum trabalho que me dê alguma renda. Verifiquei e descobri que não posso trabalhar como corretora, porque aqui tudo funciona diferente, desde a formação para trabalhar até a maneira como os negócios acontecem.
Esses dias sai para comprar bananas, que no Brasil pagaria R$ 5,00, e fui surpreendida pelo preço em peso equivalente a R$ 18,00. Tudo aqui é muito caro.
Moro de favor na casa de um casal, num quarto que é do lado do banheiro, com bastante umidade. Não tem piso e tem bastante mofo, o que é um problema sério para mim devido ao meu problema respiratório. Vivo à base do corticoide que trouxe do Brasil para não adoecer. Tive problema com trombose durante a covid e as minhas pernas já estão começando a ficar vermelhas. Estou preocupada!
NÃO SOU A ÚNICA NESSA SITUAÇÃO
Eu não desejo para os meus inimigos o que estamos passando desde 8 de janeiro. Tenho ouvido histórias de patriotas muito tristes por aqui, de chorar. Para encontrar alguma saída para tudo isso, o que faço é sair todos os dias para procurar uma oportunidade de trabalho. Caminho o dia inteiro, não fico trancada e procuro conhecer pessoas. O pessoal diz para ficar calma, que cheguei há poucos dias, mas eu choro muito.
Está chegando a fase da ficha cair, de ver as notícias ruins sobre a situação do Brasil e da saudade da família crescer a cada dia. Junto a isso, vejo a dificuldade que todos os exilados passam por aqui e, também, o próprio povo argentino que sofreu com um governo socialista. O argentino trabalha muito e o que ganha é gasto muito rápido.
Eu tenho um senso de compromisso e responsabilidade muito grande e não consigo comer na casa do casal que me acolheu. Eu acho um abuso. Então eu como só o que eu compro. Eu saio de manhã e fico o dia inteiro na rua, às vezes sem almoçar. À noite, como um pão e tomo um café. A gente passa fome aqui viu? E tem muita gente que passa frio por aqui, além de fome.
MOVIMENTO EM PONTA GROSSA
Sempre fui de direita, conheci o Bolsonaro por meio do Enéas, que eu admirava. Li o plano de governo do Bolsonaro e sobre ele, e acreditei que seria a escolha certa para o momento. Comprei uma briga grande com a parte da minha família que é petista. Votei nele nas duas eleições e, depois do segundo turno em 2022 passei a frequentar o QG de Ponta Grossa de forma esporádica.
Na virada do ano, viajei para as festas de Natal e Ano-Novo na casa da minha irmã em Mafra, SC. Assisti por lá o Lula tomando posse e o soube que o QG da minha cidade ser desmontado.
Minha irmã e os outros parentes de esquerda riram de mim com a posse do Lula. Eu falei que não tinha votado nele e que ele não me representava, e não demorou para surgir uma discussão com a minha sobrinha. Com isso, a minha irmã sugeriu que eu voltasse para Ponta Grossa junto com a minha família. Isso foi no dia 1º de janeiro e no dia seguinte pegamos estrada bem cedo, às 6 horas.
Chegando em Ponta Grossa, descarreguei o carro e depois fui até o local onde tínhamos o QG, onde encontrei algumas pessoas combinando a ida a Brasília. No dia 6 viajamos, com a certeza de que iríamos participar de uma manifestação pacífica. Na volta, eu planejava voltar por Minas Gerais e fazer turismo.
IDA PARA A PRAÇA DOS TRÊS PODERES
Para essa viagem patriótica, comprei até roupas alusivas ao Brasil, em especial camisetas. Coloquei tudo dentro da mochila que acabei perdendo no dia 8, quando fui pisoteada na Praça dos Três Poderes.
Eu desci para a praça junto com o pessoal do ônibus e como teria um culto por lá à noite, estava tudo combinado que eu cantaria. Levamos até lona para sentar e capa de chuva por estar chovendo. Descemos a pé dos 8 km, mas em meio à multidão me perdi do pessoal.
Antes de entrar na praça fui revistada por uma policial que olhou até debaixo do meu cabelo, revistou minha roupa, tocou no meu corpo e verificou o que tinha na mochila: água, barrinhas de cereais, camisetas, óculos de ciclista, bíblia, máscara (nariz) e um pouco de vinagre. Esse último era para o caso de soltarem bombas de gás lacrimogênio. Foi um rapaz do exército que nos instruiu quanto ao vinagre.
Cheguei no local e comecei a gravar e fotografar com o celular. Uma multidão estava chegando naquele momento e reencontrei o pessoal do ônibus.
HELICÓPTEROS E O DESESPERO
Eu estava conversando com uma senhora com um bebezinho recém-nascido no colo e, de repente, helicópteros começaram a se aproximar e lançar bombas do nada. A mulher que segurava a criança foi atingida por um tiro, que rasgou a perna e ela gritou de dor.
Logo iniciou uma correria e comecei a filmar aqueles helicópteros que baixaram ainda mais a altitude, facilitando a mira para os tiros de bala de borracha. Quando vi, aquela gente veio na nossa direção e eu fui pisoteada e perdi a minha mochila.
Me levantei e fui mancando procurar refúgio. Segui na direção que aquele povo corria. Vi uma rampa, que a princípio eu pensei em subir, mas vi que tinha policiais lançando bombas lá de cima. Fiquei com medo e pensei em me esconder sob a rampa. Observei que as portas da parte térrea do prédio estavam todas abertas e os policiais com escudos que lá estavam convidavam para entrar.
VENHAM, VENHAM! A GENTE VAI PROTEGER VOCÊS!
Achei muito esquisito o comportamento de convidar para entrar, com aquela cordialidade toda depois do ataque aéreo. O fato é que eles estavam abraçando e ajudando todo mundo, além de fazer o convite insistente para entrarmos.
Cedi, entrei e comecei a chorar. Um policial parecia emocionado com minhas lágrimas e me levou para a parte de cima do prédio, por uma escada interna. Chegamos num local muito bonito, que depois eu soube que é o Salão Verde. Os policiais nos acalmavam dizendo que estavam do lado dos patriotas e nos disseram para nos sentar e aguardar.
Enquanto isso, num verdadeiro cenário esquizofrênico, policiais começaram a atirar bombas na parte de baixo do prédio, no Salão Negro, e aquela fumaça toda subia nos sufocando. Meus olhos e garganta queimavam com o gás. Quando as bombas pararam dentro do prédio, vi que lá fora o cenário de guerra se intensificava, com os helicópteros se aproximando muito dos vidros do prédio, ao ponto de parecer que fosse quebrar as vidraças e entrar.
EXÉRCITO PARA NOS SALVAR
Era tudo muito contraditório, porque ao mesmo tempo em que os ataques aconteciam, também tínhamos ao nosso lado policiais que nos pediam para ficarmos calmos. Diziam que o Exército estava vindo para acabar com tudo aquilo.
Eu gravei um vídeo contando que tinha muita gente machucada lá dentro e repeti que o “Exército nos salvaria”. Muito ingênua, porque a juíza usou uma fala minha na qual disse que “estávamos lá pela liberdade do país, por aquilo que acreditamos, numa frente de batalha”. Pronto! Isso que gravei foi distorcido e usado para dar a entender outra coisa, bem diferente do propósito que me levou a Brasília. De uma hora para outra para a justiça brasileira me condena e afirma que faço parte de uma organização criminosa, golpista e fortemente armada. Como assim?
ESCADARIAS E BOMBAS NAS COSTAS
Enquanto aguardava no prédio, vi que as escadarias ficaram cheias de policiais e homens bem altos, além de algumas mulheres. Me chamou a atenção uma delas, mais baixinha, que carregava uma barra de ferro e batia nos vidros. Ela estava com o rosto todo coberto com um lenço preto, tinha umas botinas do tipo de motoqueiro, e parecia uma black bloc. Curiosa, fui ao encontro deles para saber o que iriam fazer com as barras de ferro que portavam e fui empurrada.
Sai de lá e andei de um lado para o outro procurando ar limpo, porque tinha uma certa quantidade de fumaça e eu tenho alergia. Nisso vi policiais na frente de uma porta de vidro e me aproximei para ver o que eles estavam falando com as pessoas do lado de fora. Me chamou a atenção porque esses policiais estavam dando risada, e batiam nos vidros dizendo “é só isso aqui (o vidro) que está impedindo vocês de entrar”. Era uma clara provocação aos patriotas que estavam sofrendo ataque do lado de fora para que quebrassem os vidros.
Isso me assustou muito e dei as costas para sair dali. Porém, ao dar as costas algo estranho aconteceu porque levei bombas nas costas. Eu estava com a minha bandeira, bem longa, amarrada no pescoço e senti que fui atingida por uma bomba. Na região dos rins, também recebi de raspão um tiro de bala de borracha que deixou a minha jaqueta impermeável toda marcada. Estava amarrada na cintura e me protegeu, de certa forma.
Mas o que me derrubou no chão foram as bombas que caíram dentro da bandeira que eu carregava nas costas. Depois da explosão, cai de frente e bati o nariz. Levei bota nas costas ali caída, mas só soube depois pelo patriota que me puxou pela camiseta, me arrastando até uma área protegida. Não foi só isso, ele me contou que jogaram spray de pimenta nos meu rosto, atingindo olhos e boca. Meu cabelo e meu rosto ficaram queimados. Fiquei surda por um tempo, porque uma das bombas estourou muito próxima do meu ouvido.
Esse mesmo sujeito que me ajudou levou uma coronhada e o supercílio dele sangrava bastante. Esse moço me salvou e eu nem sei quem ele é. Ele me acordou do desmaio com tapas no rosto e eu mal conseguia ver o rosto dele porque tudo estava embaralhado. Novamente cai no choro desesperado por tudo aquilo estar acontecendo.
ATAQUE DOS POLICIAIS DO SENADO
Foram os policiais do Senado que atiraram as bombas, inclusive aquelas que atingiram as minhas costas, além da bala de borracha de raspão. O que mais me impressiona é que todas as pessoas que estavam dentro do Congresso estavam muito pacíficas e nada disso era necessário. Muita gente foi machucada e estava sangrando. Até hoje eu tenho dor nas costas na região perto dos rins. Como alguém que é policial pode pisar nas costas de alguém desfalecida? O que fiz para merecer isso?
Depois que me recuperei, o rapaz que me salvou disse que o policial estava tentando me matar, agia como louco. Fiquei sentada um tempo no local para onde o rapaz me arrastou pela camiseta e ao meu lado estava uma moça com uma pequena barriguinha de grávida. Lembro que essa mocinha chorava e eu coloquei a mão na sua barriga.
Nesse momento, estávamos escondidos atrás de um balcão, um local seguro longe dos olhos dos policiais que caçavam patriotas dentro do prédio para machucá-los. Um campo de guerra dentro do prédio público, no qual os manifestantes estavam em atitude pacífica.
O ambiente ficou tomado por uma fumaça preta, meu corpo doía todo e comecei a vomitar. O meu ombro esquerdo doía, estava fora do lugar, e ficou assim até ser levada para dentro do presídio.
NOVO ATAQUE
Sofremos um novo ataque dos policiais e eu me arrastei e passei por eles como um bicho, me deslocando para perto de um jardim dentro do prédio, todo em vidro, porém subia uma fumaceira lá de baixo. Tudo estava tomado, escuro de fumaça e eu fui me arrastando até encontrar uma parte aberta no teto, com uma corda pendurada, por onde as pessoas estavam sendo tiradas de dentro do prédio. Uma pessoa me chamou ao me ver ali toda machucada, com o nariz sangrando. Só que foi exatamente quando aquela corda foi puxada para fora e os resgates pararam.
Eu segui me movimentando pelo prédio e avistei de longe um grupo de policiais fortemente armado vindo por um corredor. Me escondi atrás de uma lixeira. E novamente aconteceu o ataque com bombas e balas de borracha, que batiam nos vidros de uma porta que dava acesso ao Plenário do Senado. A porta esmigalhou!
Vi um rapaz do corpo de bombeiros nesse corredor, ele abriu a mangueira do hidrante e eu dei graças a Deus, porque eu não aguentava mais aquela ardência e fumaça, eu não enxergava mais nada e a minha cabeça estava tonta. Vomitei e com o meu próprio vômito eu tinha tentado molhar o meu rosto. Eu não tinha a minha mochila desde que tinha sido pisoteada lá fora, não tinha a água, nem o vinagre. Nada para aplacar aquela dor.
DESMAIO ATRÁS DA LIXEIRA
Apaguei atrás daquela lixeira e o rapaz do corpo de bombeiros viu as minhas pernas e me socorreu. Quem me contou foi a Cida, pois ela viu tudo. Depois que fomos presa, Cida fazia as tranças nas patriotas dentro do Colmeia. Fiz uma amizade muito bonita com ela e tenho um carinho especial por ela ter cuidado da gente na prisão. Ela contou que o bombeiro me tirou de trás da lixeira e me levou ao Plenário do Senado. Lá, fiquei jogada bruços no chão por um tempo.
Quando me recuperei, um policial chamado Wallace me levantou e me levou até a cafeteria, onde serviu água. Eu implorava para que ele me tirasse daquele local, enquanto observava que no capacete dele estava escrito a mesma coisa que li nos capacetes dos demais policiais que nos atacaram violentamente. Só que ele, ali no plenário, fazia um papel diferente, nos agradando, mas estava junto com os demais.
SHOW DE MENTIRAS
O ambiente dentro do Plenário do Senado parecia muito seguro. Estávamos em 38 pessoas, além dos policiais. Um detalhe que vou esclarecer mais adiante é que 37 foram para o presídio. Uma pessoa voltou para casa.
Quem estava no plenário ocupou o seu tempo cantando e fazendo louvores, na espera de poder voltar para casa. Uma policial chamada Isabela chorava muito e revelou que tinha medo de que nos matassem ali dentro. Os demais policiais perceberam o comportamento dela e a retiraram do plenário. Ela nunca foi ouvida como testemunha nos inquéritos de 8 de janeiro.
Na hora de pegar a fila para sair do plenário, fui a primeira pessoa a me posicionar. Falaram que nos levariam para o subsolo, isso era perto das 18 horas do dia 8 de janeiro, e vi que a bateria do meu celular estava no fim.
No subsolo, mandaram que nos sentássemos no chão frio e, sem demora, uma moça parecida com uma índia começou a passar mal. Hoje penso que ela simulou um ataque epilético. Ela usava uma pulseira branca de couro na mão esquerda. Até então eu estava acreditando na crise da moça e morri de medo de que ela engolisse a língua. Quando o policial apareceu, olhou para ela e pegou o braço esquerdo e viu a pulseirinha, tomou as providências para tirá-la do local. Éramos 18 mulheres dentro do Plenário do Senado, mas somente 17 foram presas no Colmeia. Essa moça nós voltamos a ver somente no dia seguinte pela manhã. Debochada, a moça com jeito de índia nos olhou e fez o L, mandou um tchauzinho e saiu pelo portão da frente. Nós saímos do prédio para o IML somente no final da tarde.
MOMENTOS DE HORROR
No subsolo nos deixaram sem poder fazer xixi, sem água e sem comida. Gemi de dor a noite inteira, deitada com a cabeça no colo de uma patriota. Ela me cobriu com a minha bandeira queimada e com a jaqueta. Várias vezes ela pediu ajuda aos policiais, mas eles não socorreram. Do outro lado do subsolo, tinha homem patriota passando mal, o Clezão.
Eu estava com muita sede e fome, mas quando pedia algo recebia de volta “todos vocês devem estar na mesma situação, então fica sentada quietinha”, apontando a arma na nossa direção.
Antes de irmos para o IML recebemos uma marmita enviada pelo governo Lula com picanha. Uma grave ironia. Mal tivemos tempo de comer direito. Minha garganta queimava e outro patriota comeu as carnes da minha marmita. Me virei com algumas colheradas de arroz e feijão.
LAUDO DO IML SUMIU
No IML, fui examinada por uma médica. Fizemos aqueles agachamentos de frente e costas bem constrangedores. Caímos na choradeira; teve gente que passou mal e desmaiou. É difícil suportar a pressão psicológica! A médica que me examinou queria saber o que aconteceu comigo e eu expliquei. “Nossa, você está toda queimada!”, disse ela, com espanto. Eu estava com a bandeira nas costas e camiseta queimadas, além do cabelo queimado. Contei das bombas jogadas em mim, que foram os policiais do Senado, então ela fez uma série de fotos para colocar no laudo. Um laudo que sumiu do IML, que a minha advogada nunca conseguiu pegar para juntar nos autos.
A médica fez o seu serviço corretamente, porque para dar entrada no presídio Colmeia é preciso deixar bem clara a situação do preso, caso contrário poderia ser alegado que as queimaduras poderiam ter ocorrido dentro da prisão. “Farei para a segurança das próprias policiais”, disse a médica naquele dia 9 de janeiro.
SETE MESES PRESA
Eu fiquei no presídio por sete meses e nos dois primeiros ainda enfrentei problemas de surdez, em função do estampido das bombas no dia 8 de janeiro. Para vestir me entregaram uma bermuda rasgada na parte de traz e uma camiseta que parecia pano de chão. Vomitei várias vezes lá dentro e acordava me afogando, tendo que correr para o banheiro.
A nossa situação era muito ruim lá dentro do Colmeia e a gente via quem tentasse fazer corda para se enforcar ou utilizava medicamentos para esse fim.
Antes de viver o dia 8 de janeiro, eu não usava óculos, mas hoje dependo de lentes para ler. Não tinha dificuldade alguma até então. Perdi 20 kg lá dentro, porque recebíamos uma marmita com comida azeda, muita gordura, linguiça que não era de carne e muita sujeira dentro, como cabelo, vidro e outros achados. Nunca vinha verduras, mas as cascas delas. Se vinha feijoada, era com os piores pedaços e com pelos junto. Era comum jogarmos a “comida” no lixo.
Eu tinha um quadro de trombose desde que passei pela covid, mas não tive tratamento lá dentro. Meu ombro estava deslocado e tive que colocar no lugar com a ajuda das patriotas. Toda essa experiência dentro do presídio foi muito intensa.
Muitas coisas aconteceram lá dentro, como acidente no banheiro em que bati a cabeça e fiquei desacordada. Mesmo assim, numa situação que merecia atenção médica, não era dada a atenção à saúde. Nós tínhamos que cuidar umas das outras.
Hoje, aqui na Argentina, penso que Deus agirá no tempo certo e teremos a restauração.”
Revoltante! Somos filhos de uma nação próspera e vem uns filhos do comunismo acabar com a nossa liberdade! Chegaaaaaa
Vamos lutar!
Vamos Lutar!
Fora togados… Fora Lula
Todos tem rabo preso e por isso se venderam… homens que podem enfrentar esse sistema, convoque-nos.
Terrivel, sua experiencia com o plano Comunista do Lula e PT no 8 de janeiro. Daria pra fazer um filmed, logicamente com a funesta interference dos comunistas mais uma vez. Mas Deus nao deixará essa injustiça prosperity e em breve Ele dare a devida paga.
A Ana Claudia tem como receber doações na Argentina?
Olá Vilma , Tudo bem com você?
Posso receber ajuda sim e preciso muito ! 🙏
acr.assuncao.67@gmail.com
(42 )99954-6223