Ana Maria Cemin – Jornalista
13/12/2023 – (54) 99133 7567
Ao chegar em Brasília para participar da manifestação pacífica e ordeira, no fatídico 8 de janeiro de 2023, Thiago de Assis Mattar pesava mais de 80 kg. Porém, passados onze meses de cárcere no Presídio Papuda, está com 64 kg e a sua aparência chocou a família no primeiro encontro, que aconteceu na última segunda-feira, dia 11 de dezembro.
A esposa Vanessa e os filhos Samira, 4 anos, e Anibal, 7 anos ainda não tinham ido a Brasília ver Thiago, isso porque Vanessa é a única renda da família e não tem folgas para viajar até a capital federal. Nesta semana, portanto, a família pode novamente se reunir num encontro marcado por muitas expectativas e ansiedade.
“Quando fui mostrar a roupa que a Samira tinha que vestir para ir ver o pai, toda branca, ela ficou indignada. Ela disse que de jeito nenhum iria vestir, porque tinha que ser a roupa do Brasil, porque essa foi a última imagem que ela tinha do pai: ele saindo com a camisa e a Bandeira do Brasil. Então ela achava que deveria se vestir como ele, quando ele saiu para ir a Brasília”, relata Vanessa.
“Eu chorei as duas horas em que estivemos com ele no Papuda e tive vontade de carregar ele de volta para casa. A nossa filha Samira disse que quando viu o pai teve dificuldades para reconhecer, por ele estar muito magro e “com o rosto amassado”. Foi o jeito dela expressar o que lhe veio à mente naquele reencontro com o pai. Ela ainda aconselhou o pai a comer comida de verdade”, conta a esposa do preso político.
Durante a visita, Thiago aproveitou para jogar bola com o filho e os dois filhos ganharam colo e muitos abraços do pai. A estratégia de Vanessa para não chocar os filhos com a prisão foi contar que aquele local era o trabalho do Thiago.
THIAGO SENTE FOME DE COMIDA
“A minha mãe mora conosco e cozinha bem. Ela sempre cozinhou para Thiago, então eu disse para ele que no seu retorno a minha mãe fará tudo o que ele gosta de comer. Como resposta, ele olhou para mim e disse que sentia vontade de comer carne assada, porque no presídio tem cheiro do churrasco que os policiais fazem e ele fica com muita vontade de comer carne.
É de cortar o coração!
Eu fico pensando que justiça é essa que favorece a entrada de comida para presos perigosos aqui na região, mas para os presos políticos não podemos levar nada, além de pé de moleque e docinho de leite que ele não pode comer por ter intolerância à lactose”, relata.
“PAPAI TRABALHA AQUI!”
“As crianças queriam que meu marido voltasse com a gente, mas Thiago explicou para eles que na próxima vez que eles forem para Brasília será para levá-lo para casa. Assim, os dois se acalmaram. Porém, a próxima visita de crianças no Papuda será somente no ano que vem, no Dia dos Pais e no Dia das Crianças.
Eu poderia visitar mais, mas não posso faltar ao trabalho, até porque não recebemos o auxílio reclusão, que todos os condenados pela justiça têm direito. Eu vou insistir e cobrar esse direito, porém até agora foi negado. Se Thiago foi condenado a cumprir uma pena de 14 anos pelo Supremo Tribunal Federal, ele tem direito.
Outra coisa que me entristece é saber que neste final de ano os criminosos do Brasil terão direito à saidinha, porém os presos políticos não têm essa possibilidade”, lamenta.
AS CRIANÇAS NÃO ENTENDEM MUITA COISA
“As minhas crianças estão com a cabecinha confusa e me perguntam se o Lula prendeu o pai delas. Eu digo que não, que ele está trabalhando em Brasília. Nessa semana, quando fomos para a visita no Presídio eu falei para eles que o Thiago estava num local onde tinha muitos policiais, e que era onde trabalhava.
Os próprios advogados conversaram com as minhas crianças e falaram que o pai deles faz muitas coisas ali, como fabricar violão, cuidar de animais como galinhas e gado. Isso tudo para amenizar a situação. Porém, logo que chegamos meu filho Anibal olhou para mim e disse: Mamãe, aqui não é uma fazenda. Eu já sei o que é. É uma prisão.
Então eu conversei com ele e disse que era ali mesmo que o pai trabalhava.
Alguns policiais vieram conversar com as crianças e disseram para eles que o papai deles era um herói que teria que passar um tempo fora de casa, mas que logo voltaria. Foi bom eles ouvirem isso, porque não tem como explicar essa situação para crianças de 4 e 7 anos”, relata.
CONSIGO DAR CONTA DAS NOSSAS DESPESAS
Eu estou conseguindo dar a volta nas contas da casa, mas cuido para não gastar além do possível. Tudo é muito controlado e as crianças sabem que não temos muitos recursos e não pedem nada. Elas são crianças muito amigáveis e tem o hábito de perguntar se isso ou aquilo é caro.
O Anibal é quem me acompanha no mercado e, apesar da pouca idade, quando pego algo a mais ele logo comenta que não é preciso pegar tudo, numa referência de que devemos poupar.
Apesar de tudo que aconteceu com a nossa família, nós estamos conseguindo manter um ambiente bom dentro de casa para que as crianças possam ter um bom desenvolvimento. Anibal, porém, tem demonstrado dificuldades de aprendizagem, o que merece uma investigação médica, tanto que nesse mês eu vou levar ele na neuro.
Outras matérias sobre Thiago escritas nesse blog, a partir de conversas com o advogado, a mãe e a esposa de Mathar:
Longe por 11 meses, filhos de patriota o visitam no Papuda – Ana Cemin (bureaucom.com.br)
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