Por Ana Maria Cemin – Jornalista
14/12/2023 – (54) 99133 7567
Fui procurada pela Dra. Marta Padovani, que assiste cinco patriotas brasileiros presos no 8 de janeiro e que atende todos pro bono. Marta conversou comigo sobre dois casos especificamente, mas aqui abordo apenas um deles: o do idoso Nelson Eufrosino, de 63 anos, que está preso na Penitenciária de Cerqueira César, SP. Ele foi preso em 20 de abril numa das Operações Lesa Pátria e desde então segue no cárcere. Observação: Na foto acima, Nelson com o filho falecido em setembro.
O falecimento de Denner ocorreu em 12 de setembro e, a muito custo, o preso político conseguiu sair do presídio de Cerqueira César e comparecer por apenas 15 minutos do velório do seu filho mais velho. “Nelson chegou escoltado e depois de 15 minutos o levaram de volta para o presídio. Ao chegar, as pessoas que estavam no local começaram a chamar Nelson de herói, o que me comoveu. Percebi o quanto triste tudo isso foi para todos eles, inclusive para a filha Helena, de 6 anos, que não vê o pai desde que foi preso e não pode se aproximar no velório”, relata a advogada. Além desses dois filhos, Nelson tem ainda outros três filhos: Davi, de 13 anos; Lucas, de 23 anos; e Vyni, de 34 anos.
QUEM É NELSON?
Nelson tem uma participação intensa no voluntariado na cidade de Ourinhos, SP, contribuindo para melhorar sensivelmente a vida das pessoas, como por exemplo a entrega de cadeiras de rodas, de cestas básicas e campanhas para doação de medula. Ele faz a diferença por onde passa e é amado pelos seus filhos e familiares.
Há dois anos foi afastado das atividades profissionais por ter uma série de comorbidades, inclusive ele anda com dificuldade e manca. Na sua lista de comorbidades tem reumatismo, traumatismo em membro superior, dorsopatia deformante, degeneração, bico de papagaio e outras mais que a Dra. Marta apresentou na sua defesa para que ele pudesse ter um tratamento adequado no presídio. Porém, o único tratamento que ele efetivamente está recebendo desde o final de abril são medicações para o alívio imediato da dor.
“Eu tenho feito pedido de revogação da prisão, para que responda o processo em liberdade, porém a resposta é de que ele é um elemento que representa risco para a sociedade”, relata a advogada. “Também estou lutando para que os atendimentos médicos sejam adequados ao estado de saúde de Nelson, no entanto uma perita esteve no presídio e emitiu um laudo de uma única página afirmando que ele é assintomático e que deve ter apenas o acompanhamento da pressão e da glicose. Todo o quadro dele foi desconsiderado, como se todos os exames e tratamentos feitos até hoje não existissem”, informa Dra. Marta.
O QUE ELE ESTAVA FAZENDO EM BRASÍLIA?
Nelson foi a Brasília na caravana de Ourinhos, isso no próprio domingo, dia 8 de janeiro. Ao chegar no QG, ele se separou da turma do ônibus, que faria a marcha de 8 km de descida até a Esplanada. Com todos os problemas de saúde, ele não conseguiria caminhar tanto e foi de Uber.
Chegando na Praça dos Três Poderes ele se misturou com o povo e, como recebeu convite, entrou num dos prédios da República, que já estava depredado e ainda viu pessoas fazendo um quebra-quebra, inclusive vestidas de policiais.
“Nesse momento, Nelson entrou no efeito manada e pegou um cabo de cortina que tinha no chão e simulou que estava quebrando também. Ensaiou a cena e pediu para alguém gravar o vídeo que ele mostraria no futuro para os seus, porque nem mesmo rede social o Seu Nelson tem”, relata a advogada. “Ele me diz que errou por vaidade, por querer ser mais do que é. Achou que de alguma forma aquilo tudo significava uma conquista do Brasil sem comunismo e autoritarismo, se sentiu seguro por ver outros fazendo o mesmo, usando farda”, diz ainda.
Hoje, Nelson está convivendo com presos comuns dentro do presídio, porém é bem tratado lá dentro. Os criminosos o chamam de patriota e até dizem que ele é um herói por tentar “arrumar” o Brasil. Ele vive o luto do filho da pior forma possível, com a culpa por ter tido um ataque cardíaco naquele momento em que estava empenhado em tirá-lo da prisão. Mas o que piora ainda mais o seu estado de depressão é a incerteza de que talvez ele venha “apodrecer” no presídio, longe de seus filhos e esposa.