
Ana Maria Cemin – 05/02/2025
É impossível saber o que os manifestantes do 8 de janeiro de 2023 viveram na pele, ou o que passou pela cabeça deles, sem ouvi-los. Como jornalista que se coloca à disposição para relatar as experiências dos presos políticos e publicar, a história de Marcelo Fernandes Lima, condenado a 17 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ontem, 4 de fevereiro, me chamou a atenção. Os títulos publicados na imprensa sobre Lima seguem a mesma linguagem, destacando que ele furtou uma réplica da Constituição no dia 8 de janeiro. Ao ler, logo me veio a mente: trata-se de um bandido!
Como não conheço nada a respeito de Marcelo, deixei a minha curiosidade entrar em ação e entrei na Ação Penal 2330, que é do Marcelo e é pública. Lá está o histórico de vida do réu desde o dia fatídico.
Essa não foi a primeira vez que li ou ouvi algo semelhante: a pessoa estava no meio daquela bagunça, viu um objeto jogado que lhe parecia importante, levou consigo e devolveu na delegacia da sua cidade.
Agora deixo aqui o trecho que extrai dos autos:
“Ao ser interrogado em Juízo, no exercício de sua autodefesa, MARCELO FERNANDES LIMA alegou, em síntese, que: “veio para Brasília/DF de ônibus organizado por um grupo que se concentrava na frente do Tiro de Guerra de São Lourenço/MG, local que costumava frequentar; não sabe quem pagou o ônibus, mas que foi sem ônus; foi direto para o Quartel-General do Exército em Brasília/DF, onde tinha alimento de graça; foi incentivado pelas postagens do ex-Presidente e de seu partido pelo não reconhecimento da derrota nas urnas; quando se dirigiu à praça dos Três Poderes, junto com os demais manifestantes, passou por revista policial; ingressou no Supremo Tribunal Federal, mas afirma que não danificou nada no interior da repartição pública; alega que um manifestante que estava no interior do prédio público quebrou o vidro de proteção de uma réplica da Constituição da República Federativa do Brasil, elaborada pelos constituintes de 1988 e, na ocasião, o interrogando subtraiu para si a réplica da Constituição para que ela não fosse danificada, porém se arrepende de ostentar a Carta em frente à Suprema Corte para os outros manifestantes. Depois de 48h, crendo que não haveria mais situação de flagrante, compareceu à Delegacia da Polícia Federal em Varginha/MG e entregou o exemplar; quando ingressou no Supremo Tribunal Federal buscava obter o código fonte das urnas eletrônicas, naquela oportunidade acreditava que o Exército Brasileiro fosse intervir a favor dos manifestantes visto que por 2 (dois) meses as pessoas ficaram concentradas na frente dos Quartéis do Exército no Brasil inteiro sem qualquer interferência, então acreditou que, a partir do ato do 8 de janeiro de 2023, o Exército Brasileiro fosse fornecer o código fonte e rever as eleições presidenciais; não havia nenhuma barreira impedindo o ingresso de pessoas no edifício.”
Esse homem, sendo sincero ou não, está condenado a 17 anos de prisão, pela prática de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grava ameaça com uso de substância inflamável, deterioração de patrimônio tombado.
Não conversei com os familiares de Marcelo, nem sei se ele está preso em São Lourenço, MG, nem fiz contato com o advogado dele para saber mais. Apenas compartilho aqui uma versão dos fatos que passará em branco em todas as mídias. Mais adiante poderemos aprofundar mais o tema.
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