
Ana Maria Cemin – 03/02/2025
O Pardal, como é conhecido o preso político Wellington Ronaldo Costa, 57 anos, ficou dependente da mãe de 82 anos e de alguns amigos após a prisão em Brasília em 2023. Ele estava acampado no QG na manhã de 9 de janeiro, foi levado para o Presídio Papuda, está em liberdade provisória enquanto aguarda o julgamento.
Quando voltou para São José dos Campos, SP, ainda em janeiro de 2023, já estava com tornozeleira eletrônica de bandido e desde então cumpre uma série de restrições. Fechou a sua empresa de prestação de serviços para o mercado de entretenimento, que exigia a presença noturna, uma vez que na condição de preso político ele não pode sair de casa à noite. São dois anos nessa situação. Ele faz alguns “bicos” sem deixar de cumprir as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Pardal tem receio de voltar para o presídio por descumprimento das cautelares. Em setembro do ano passado, a defesa do réu foi intimada para justificar a saída dele de casa em dia e horário proibido. Saiu porque teve um AVC isquêmico transitório e foi internado no hospital. Na ocasião, o advogado solicitou a revogação das medidas cautelares, em especial o uso da tornozeleira, mas o STF negou. Ele segue tornozelado até hoje.
Pardal foi para Brasília para conhecer a capital e não vandalizar. Como devoto da Nossa Senhora foi rezar pelo Brasil, governantes, ministros, senadores e deputados, e pedir para que Deus e a Nossa Senhora iluminassem as suas vidas e decisões. Que essas fossem para o bem comum de toda a nação.
“Fui pedir por justiça e liberdade. Fui injustiçado e preso”, reclama.

RELATO DO PARDAL
“No dia 7/1/2023 parti de São José dos Campos em ônibus vindo de Pindamonhangaba. Junto com outros patriotas cheguei em Brasília em 8/1/2023 por volta das 10 horas e nos dirigimos ao QG.
Fomos bem recebidos pelos acampados, nos indicaram o espaço para montagem das barracas e fizemos o reconhecimento de onde ficavam os banheiros, enfermaria, refeitório, carro de som e central para cargas de celulares. Comi um pão no refeitório e ajudei a montar o nosso acampamento.
Percebi que não tinha uma liderança específica no QG do Distrito Federal e, após 40 minutos da nossa chegada, apareceu um grupo de seis pessoas chamando para estarmos na Praça dos Três Poderes às 15 horas. Entendemos que deveríamos seguir a orientação.




Descemos por volta das 13 horas e chegamos mais ou menos no horário indicado, acompanhados, desde a saída do QG, pela PM. Antes de entrarmos no gramado que dá acesso ao Congresso ainda passamos por uma revista da PM bem detalhada.
O acesso foi tranquilo e sem interferências. Havia movimentações de cavalaria e outras polícias acompanhando os manifestantes. O caos começou depois que avistei a movimentação de uma polícia diferente, que acredito ser a guarda nacional. Esses policiais se deslocavam em direção aos prédios do STF, Congresso Nacional e Palácio do Planalto.





Cerca de 30 minutos depois vi no céu dois helicópteros – um da Polícia Federal e outro da Polícia Militar – e teve início o ataque aos manifestantes. Atiravam em especial nos que estavam posicionados em frente aos prédios com balas de borracha e jogavam gás de pimenta.
Foi uma batalha unilateral que durou cerca de 45 minutos a 1 hora, e foi bem-sucedida porque ocorreu a dispersão da manifestação que ocupava o gramado e rampa.
Aquilo foi o bastante para mim. Fui embora.
Junto com outras pessoas voltei para o QG, aonde cheguei por volta das 18h30. O terror continuou com a informação de que a Polícia Militar do DF tinha ordens para entrar no QG e prender todos nós. Soubemos que isso só não aconteceu à noite porque o comando do exército brasileiro não permitiu, pois haveria um grande risco de massacre e assassinato lá dentro.


Então dormimos achando que o exército iria nos proteger. Porém, no dia seguinte, às 6 horas, um interlocutor do comando do exército nos acordou com gritos num megafone. A ordem era de saída do QG em exata uma hora, tempo dado para desmontar tudo e ir embora em segurança.

Fomos obrigados a entrar em 40 ônibus disponibilizados pelo Governo Lula e, assim, saímos sequestrados do QG sem saber o nosso destino.






A primeira parada foi num batalhão da Polícia Militar, onde ficamos dentro dos ônibus por uma hora num sol escaldante, com várias pessoas passando mal e sem qualquer atendimento médico. Fomos obrigados a fazer nossas necessidades fisiológicas em árvores e muros do batalhão escoltados pela PM, pois não havia banheiros para todos.
De lá nos levaram para o ginásio da PF, onde nos mantiveram em cárcere, mas ainda havia a promessa de que passaríamos por uma triagem e depois todos nós seríamos liberados.
Aquela multidão de mais de 2 mil pessoas só teve a sua primeira refeição, no dia 9/1/2025, por volta das 16 horas.



FOI APLACADA SOMENTE À TARDE.



Ainda presos naquele ginásio, em condições desumanas, cada qual precisou buscar ajuda de um advogado, que no meu caso foi o Dr. Cláudio Caivano. Isso já era o dia 10/01/2023 e a notícia era de que todos nós seríamos levados aos presídios. Foi nesse momento que presenciamos várias pessoas passando mal, tentativas de suicídio e fugas…
Depois dessa triagem e recolhimento dos celulares feita por dezenas de delegados de polícia, nós fomos enviados para o exame de corpo delito e, por fim, conduzidos para os presídios Papuda e Colmeia. Fui levado na madrugada de 11/1/2023 para o presídio e fiquei numa cela com mais de 18 patriotas, sendo que oito dormiam em beliche de alvenaria e dez no chão. O chuveiro era gelado e a comida era a pior possível. Sobrevivi comendo apenas pão, fruta, suco e achocolatado. Perdi 5 kg até sair de lá em 19/1/2023. Fui um dos primeiros a sair em liberdade provisória, mas alguns estão lá até hoje e cumprem penas de 14 a 17 anos de prisão.

Cheguei em casa em 20/1/2023 e desde então estou privado de trabalhar, pois o meu serviço é à noite e finais de semana. O Dr. Caivano fez várias petições para que eu fosse liberado para trabalhar, mas sem sucesso até hoje. Também fiquei privado do convívio social. Estou aguardando a justiça acontecer.”


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