Ana Maria Cemin – 10/12/2024
“Fui condenada pelo Supremo Tribunal Federal em março desse ano e decidi não fugir do Brasil, mesmo estando em casa fazendo uso de tornozeleira eletrônica. Poderia ter cortado o aparelho e cruzado a fronteira.
Entendi que esse não era o caminho certo porque eu não cometi qualquer crime ao sair de São Paulo para Brasília para me manifestar em 8 de janeiro do ano passado. Estive lá com paz no coração.
Porém, o que passei em Brasília, dentro do presídio Colmeia, foi muito difícil. Só que hoje eu sei que sete meses dentro do Presídio Colmeia era mais suportável do que a realidade que vivo aqui dentro da Penitenciária de Pirajuí.
Pelo menos na capital federal estive presa entre patriotas que, como eu, nunca cometeram qualquer crime.
Ao decidir por não fugir optei por enfrentar uma realidade traumatizante e humilhante, uma vergonha! Sou oriental e a nossa cultura é baseada na correção, eu não gosto nem de mentir e nem humilho as pessoas.
Por ser oriental também nunca fui de me envolver em política, mas no ano de 2022 abri os olhos para o que estava acontecendo em nosso País e me entreguei de corpo, alma e coração na luta pela minha família e por todos nós.
Aqui dentro desse presídio, onde estou agora, somos todas presas comuns independente do crime. Somos iguais e eu me pergunto qual crime cometi para estar presa junto com elas? Fico sem resposta e para mim isto está sendo muito difícil e constrangedor, e gera muito sofrimento.
O meu coração é brasileiro e também tenho o orgulho e a honra de uma descendente de japoneses. Jamais faria algo para envergonhar a minha raça.
A pergunta que muitos fazem é “o que eu estava fazendo na Praça dos Três Poderes?”. Mas como explicar o sentimento e a razão pela qual fui me manifestar? Ora, fui exercer o direito que nós, cidadãos, temos de ir e vir, previsto na Constituição. Eu não queria ver o Brasil chegar ao ponto que alguns países chegaram. O fato é que nem todos entendem isso e, também, têm aqueles que não querem fazer a diferença na vida. Vivem simplesmente.
Eu repito: tenho orgulho de ser brasileira! E quando cantava o Hino Nacional era com o coração e até mesmo chorava.
Eu tenho 45 anos, sou Vanessa Harumi Takasaki, conhecida como Pink, e já passei por muitas humilhações, inclusive fui usada por um Youtuber, um tal de Panchorra para dar gargalhadas e falar ironias. Ele faz uma apresentação sádica, enquanto ganha dinheiro de quem o assiste e se diverte com a destruição da imagem dos condenados de 8 de janeiro.
Sou uma pessoa muito envergonhada, tanto que parei de estudar e não completei nem o fundamental devido às brincadeiras de mau gosto que os colegas faziam comigo na escola por ser japonesa. Em muitos momentos, vem à minha mente os conceitos de desonra, porque fomos educados para sermos corretos e trabalhadores, cumprindo todos os nossos deveres.
Em 16 de março, eu vi o vídeo com o deboche e imediatamente senti um impulso de dar cabo da minha vida. Fazia menos de dez dias que eu tinha sido condenada a 14 anos de prisão pelo STF. Sou uma mulher que sofre com depressão há muito tempo, mas ela tinha abrandado em 2022. Com tudo que aconteceu, voltei a fazer tratamento psiquiátrico.
Até ter a minha vida destruída, eu morava em Tupã, SP, com os meus dois filhos. Hoje a família precisa dar uma assistência a eles, porque estou aqui presa. Eu trabalhava com a elaboração de comidas japonesas, meu ganha pão.
Se eu devia ou não estar em Brasília naquele dia só Deus sabe. E espero que um dia os meus filhos entendam o porquê fui e sintam orgulho de mim.
Ao todo fiquei sete meses presa em Brasília e dez meses de tornozeleira eletrônica de bandido e, agora, estou na cadeia feminina de Pirajuí desde 6 de junho desse ano. Aqui dentro me sinto sozinha e com medo de tudo e de todos. Tem mais três patriotas presas aqui, mas em celas diferentes.
Eu sei que todos estão vivendo as suas vidas normalmente no Brasil e que a correria do dia a dia faz com que as pessoas não tenham tempo, mas eu preciso de ajuda porque neste lugar o tempo não passa, é muito triste e sem vida.
Confesso que às vezes tenho vontade de desistir, mas eu prefiro pedir ajuda. Eu peço o seu apoio!
Eu gostaria de receber uma carta de esperança e saber que a nossa luta não foi em vão.
É muito constrangedor ficar implorando para as pessoas mandarem uma carta.
Eu não sou de fazer isso, mas é que estou precisando do apoio. Me sentindo muito sozinha e ficaria muito feliz em receber cartas, porque isso me ajudaria a superar esse momento.
Se puder escreva para mim, com palavras de esperança, eu serei infinitamente grata.”
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