TRABALHO PODE LEVAR PRESO POLÍTICO DE VOLTA AO PRESÍDIO
Ana Maria Cemin – Jornalista
24/02/2024 – (54) 99133 7567
No dia 4 de fevereiro, há 20 dias, nasceu o seu filho Ezequiel. Por 48 horas ele ficou dentro do hospital, acompanhando a recuperação da mãe de seu filho. Nesse tempo, a tornozeleira eletrônica tocou irritantemente.
Durante a semana, ele também enfrenta o mesmo problema: vai ao trabalho, onde cumpre horário até as18 horas. Porém, no deslocamento entre o trabalho e sua casa, a tornozeleira toca e pisca.
A razão é simples: o equipamento de Minas Gerais está programado para que ele esteja em casa às 18 horas, enquanto a tornozeleira que colocou em Brasília estava programada para saídas externas, de 2ª a 6ª feira, das 6 às 22 horas. São quatro horas a menos em Minas.
O jovem Apolo Carvalho da Silva, 26 anos, que foi preso em Brasília quando estava acampado no QG no dia 9 de janeiro de 2023, vive esse dilema: ou trabalha para levar o sustento da casa ou arrisca voltar à prisão, como tem acontecido com muita frequência entre os presos políticos que respondem pelo Inquérito 4921.
O nascimento de seu filho veio a agravar a questão da “indisciplina”, porém toda vez que algo diferente acontece ele liga para a Central de Monitoramento para tentar justificar. O problema é que quase nunca é atendido.
“Meu filho nasceu às 15h30 de domingo do dia 4 de fevereiro e eu acompanhei a mãe do meu filho o tempo todo. O dispositivo não parou de tocar durante três dias, mas eu fiz o que tinha que fazer como uma pessoa responsável. As minhas violações são todas justificáveis: retorno do trabalho, nascimento do meu filho e, também, sofro de gastrite e ocorre de ser levado para o hospital em algumas madrugadas com fortes dores. Será que isso é infringir as regras das cautelares para a minha Liberdade Provisória?”, questiona.
A Central de Monitoramento de MG não aceita as explicações e origina a remessa de informações de “violações” da cautelar ao Supremo Tribunal Federal. Isso pode o levar de volta ao presídio, onde ficará até ser julgado, sem tempo pré-determinado para que isso aconteça.
QUEM É APOLO?
Apolo é um jovem de Uberaba, MG, e é o mais velho de sete filhos de Rejane de Carvalho. O pai João Carlos da Silva Júnior não mora com eles, porque tem um problema grave de alcoolismo. Rejane criou os sete filhos sozinha, com apoio de alguns familiares, e hoje tem no Apolo o principal esteio para manter o lar onde moram ainda suas quatro irmãs menores, de 8, 11, 15 e 17 anos.
Ele tem, ainda, dois irmãos gêmeos de 23 anos, mas eles não moram mais na casa materna: a irmã casou e tem dois filhos e o irmão mora em outro endereço, mas ainda continua ajudando com uma cesta básica mensal. Apolo de certa forma ocupou o espaço masculino do lar deixado no vácuo pelo seu pai doente.
COMO APOLO FOI PARAR NA PRISÃO?
O jovem trabalhava como operador de empilhadeira de produtos químicos, mas na virada do ano estava desempregado e surgiu a oportunidade de ir a Brasília reforçar o movimento verde-amarelo. Ele participou alguns dias no QG Tiro de Guerra, em Uberaba, mas não era com tanta frequência.
Do QG onde estava acampado foi levado para o Presídio Papuda onde ficou 68 dias presos, voltando para casa somente em 14 de março. Lá dentro sofreu de dores lancinantes ao ponto de ficar internado por uma semana no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), em Brasília.
“A alimentação do presídio era horrível e nem mesmo um animal deveria comer aquilo. Eu já tinha uma gastrite e só piorou lá dentro, ao ponto de vomitar sangue. Eu estava ansioso e nervoso por ter sido preso injustamente, sem ter feito absolutamente nada de errado. Fui a Brasília exercer o meu direito de expressão e isso me levou ao presídio. Me abalei muito emocionalmente, o que somado à alimentação nada saudável resultou no meu adoecimento lá dentro”, relata.
Apolo sofreu desde os primeiros dias, porém não era socorrido por médicos dentro do Papuda. Os policiais vendo-o vomitar sangue, chamaram o Corpo de Bombeiros para fazerem o atendimento. Receitaram alguns tranquilizantes e remédios.
“Vendo a minha situação emocional abalada, a direção do Papuda me chamou para trabalhar como um classificado. Passei a fazer serviço de limpeza, organização do presídio, entrega de medicação e alimentação para os presos políticos. A estratégia foi ocupar a minha mente para não adoecer, mas a alimentação continuava precária e as dores iam se agravando dia a dia. Depois que os senadores Malta e Girão estiveram no Papuda a minha alimentação foi trocada, mas eu já estava prestes a receber o alvará de Liberdade Provisória”, relata.
AUDIÊNCIA DIA 10/10/2023
Em outubro do ano passado, Apolo participou de uma audiência com uma juíza de Minas Gerais, quando explicou ser impossível chegar em casa do trabalho até as 18 horas. Disse ainda que em Brasília recebeu por escrito a orientação de poder sair para trabalhar das 6 às 22 horas, mas em Minas Gerais nada foi colocado de forma documentada que justifique a redução do horário em quatro horas. Pleiteou junto à justiça a ampliação do horário para chegar em casa sem problemas com o STF.
“A juíza falou que iria pedir para mudar o horário, de forma que eu pudesse continuar trabalhando, porém nada aconteceu e as violações continuam pesando sobre mim. Toda semana, quando vou assinar no Fórum, eu cobro uma resposta do pedido feito, porque a tornozeleira apita e pisca todos os dias da semana a partir das 18 horas, até eu conseguir chegar em casa. Eu preciso trabalhar e sustentar a casa”, reclama.
APOIO FORA DA PRISÃO
Apolo é muito grato às pessoas que o ajudaram a voltar para Uberaba quando saiu da prisão. Ainda em frente à Central Integrada de Monitoramento Eletrônico (CIME), patriotas contribuíram para seu retorno. De volta à Uberaba, os patriotas fizeram uma vaquinha para angariar recursos para o tratamento médico que ele precisava para que a sua úlcera regredisse à gastrite.
Também é grato aos primos Cristiam Campos e Daniela Machado que ofereceram trabalho como arte finalista na sua empresa de Comunicação Visual após sair do presídio. Assim, voltou a sustentar o lar materno, porque a sua mãe tem uma série de comorbidades e não trabalha.
“Quando estava preso, a assistente social pediu um número de telefone para entrar em contato com familiares. Não lembrei o número da minha namorada nem da minha mãe, mas do Cristiam veio logo na minha cabeça. Como meu pai tem a doença de alcoolismo, o meu primo foi a minha referência paterna na infância. Essa família me ajudou muito a ser quem eu sou e sou grato por isso”, revela.
Lúcia David de Moura
Todos vcs estão passando por um sofrimento e descaso do estado que não representa seu povo e o direito de expressão e a liberdade foi cassada.
Temos que continuar nossa luta e fazer a inversão de valores e que a Lei da Anistia que garante direitos para comunistas e criminosos dos atentados contra a NAÇÃO em 64 sejam também válida aos nossos irmãos patriotas. Vamos vencer e vcs serão honrados por todos os seus sofrimento.
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