“SAI QUE É ARMADILHA!” NÃO DEU TEMPO E FUI PRESA

Por Ana Maria Cemin – Jornalista

Relato de uma presa política recebido em forma de manuscrito

“Quando um policial do Exército viu que a Tropa de Choque estava muito exaltada, tentou contê-la. Não conseguiu e ocorreu um conflito entre eles. O militar não aceitou o fuzilamento em massa de pessoas inocentes e deu um tiro para o alto a fim de conter a Tropa de Choque.”

Ao decidir ir para Brasília, eu pensei em me manifestar e aproveitar para conhecer a capital do meu País. A minha chegada em Brasília se deu no dia 8 de janeiro por volta das 4 horas da madrugada, quando me dirigi ao QG em frente ao quartel, onde permaneci até que os patriotas agrupados se dirigissem para a Praça dos Três Poderes. Fui junto e o nosso intuito era reivindicar a transparência das urnas.

REVISTA ANTES DE CHEGAR À PRAÇA

 Antes de chegar na Praça dos Três Poderes, a polícia revistou a minha mochila, onde estavam duas barras de cereais e água. Também passei por uma revista feminina e não tendo sido encontrado absolutamente nada importante, como inflamáveis, por exemplo, fui liberada para continuar em direção à Praça.

Quando cheguei, por volta de 16 horas, fiquei junto com a grande multidão e, de repente, helicópteros começaram a jogar bombas de efeito moral em cima da gente. Em seguida, a guarda nacional começou a atirar balas de borracha contra nós. Não encontramos outra saída naquele momento a não ser entrar no Palácio do Planalto, que estava aberto e várias pessoas nos chamavam para entrar, a fim de nos proteger do caos que estava instalado.

Entrando no Palácio do Planalto pude ver que estava tudo destruído. Também vi homens e mulheres orando e louvando próximos aos soldados do Exército. Eu precisava recarregar o meu celular e encontrei uma tomada. Eu só queria notícias da minha família. Enquanto o celular carregava, me juntei com as pessoas para fazer orações.

“SAI DAÍ QUE É UMA ARMADILHA”

Quando o meu celular carregou 10%, liguei para minha amiga que estava cuidando do meu filho para falar que estava tudo bem, na medida do possível. A minha amiga disse: “Estou acompanhando tudo pela TV. Saia daí agora! Isso é uma armadilha”.

Não deu tempo! Quando estava prestes a sair do Palácio do Planalto, a Tropa de Choque do Distrito Federal começou a jogar bombas para dentro do Planalto. Porém, os soldados que se encontravam ali conosco pediram para ficarmos calmos e que tudo ficaria bem. Então nos sentamos em frente a eles, cada um com a sua Bíblia, terço e Bandeira do Brasil. Essas eram as nossas armas.

Depois de jogarem muitas bombas de efeito moral, spray de pimenta e gás lacrimogêneo, a Polícia de Choque invadiu o Palácio com muita fúria e disse: “A ordem é para fuzilar todo mundo aqui”. Quando ouvi isso, eu fiquei apavorada e pensei que fosse morrer. 

MILITAR EVITOU FUZILAMENTO

Um policial do Exército viu que a Tropa de Choque estava muito exaltada e tentou contê-la. Não conseguiu e ocorreu um conflito. O militar não aceitou o fuzilamento em massa de pessoas inocentes: esse militar deu um tiro para o alto a fim de conter a Tropa de Choque.

Lá dentro tinha um coronel que queria libertar a todos nós, porém o comandante da Tropa de Choque, não conseguindo fuzilar os manifestantes, deu voz de prisão a todos. Sai presa do Planalto, junto com os demais manifestantes. Fomos obrigados até mesmo a esconder a nossa bandeira, fomos ofendidos com palavrões e, algumas pessoas, agredidas fisicamente.

DEPOIMENTO NA DELEGACIA DE POLÍCIA

 Quando estávamos dentro do ônibus, em direção à Delegacia de Polícia, os policiais falaram para ficarmos calmos porque só colheriam o nosso depoimento e seríamos liberados em seguida. Cheguei na delegacia por volta de 19 horas e fiquei esperando ser atendida. Estava com muito frio, porque minha roupa estava molhada, uma vez que eu precisei usar água para aliviar o efeito do gás lacrimogêneo e do spray de pimenta.

 Passei por nova revista na delegacia e encontraram apenas as guloseimas e água na minha mochila. Por volta das 23 horas, o delegado colheu o meu depoimento, apreendeu o meu celular e exigiu a senha. Cumpri a ordem entregando a minha senha ao delegado. Até esse momento não tinha ideia do que estava passando e que eu seria presa, uma vez que nos foi dito que seríamos liberados.

SEM OS MEUS DIREITOS

 Posso dizer tranquilamente que os meus direitos não foram garantidos na delegacia. Não pude nem ao menos ligar para a minha família avisando o que estava acontecendo. Da polícia fui para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo delito.

Como boa respeitadora da lei e da ordem, e confiando na justiça, eu só obedecia às ordens recebidas. No IML tive que me despir na frente de um homem, mas só fui tocada por uma perita. Ela examinou o meu corpo para verificar se eu tinha algum ferimento. Por volta das 3h30 da madrugada do dia 9, nós nos encontrávamos ainda sem comer e beber água, além de passar frio.

Fomos levados de camburão, tratados como bandidos, para o presídio de segurança máxima. Lá passamos por mais humilhações e eu fui obrigada a tirar toda a minha roupa. Não pude ficar com a minha calcinha. Me deixaram ficar com a minha calça jeans molhada e a minha blusa preta tive que deixar. Me deram uma camisa de presídio.

“VOCÊ É DE DIREITA OU DE ESQUERDA?” No presídio Colmeia, passei por um scanner e fui encaminhada para o Bloco 3, mas antes um policial chamado Tiago me perguntou: “Responde agora com toda a sinceridade e para a sua segurança, você é de direita ou de esquerda?”.  Respondi que era de direita e com muito orgulho. Então perguntei por que ele estava fazendo aquela pergunta e ele respondeu: “Têm muitos infiltrados no meio de vocês”.

No Bloco 3, Ala Delta, fiquei com mais de 180 mulheres presas no mesmo dia. Isso devia ser por volta das 4 horas da madrugada. Muito assustadas, nós olhávamos umas para as outras sem saber o que estava acontecendo. Eu estava cansada, com frio, com fome e a minha roupa continuava molhada. Então, eu fui para a cela chorei muito. Só pensava no meu filho e na minha amiga que estavam juntos naquele momento. Mas não demorou muito, parei de chorar e fui para o meio da cela junto com as demais patriotas para orarmos e clamarmos ao Senhor Jesus por justiça.

INÍCIO DO TORMENTO

 Ainda na manhã daquele mesmo dia, recebemos as primeiras agentes penitenciárias na nossa cela. Então, começou o nosso tormento. Fomos humilhadas, chamadas de terroristas e ameaçadas de colocarem em nossas cabeças uma arma de calibre 12, por uma agende chamada Andrei. E naquele primeiro dia, não recebemos alimentos, nem roupas. Aliás, fiquei 7 dias com minha calça jeans porque na penitenciária não havia roupa para todas.

Nossa primeira possibilidade de refeição foi às 12:00, quando recebemos um almoço conhecido como xepa. Não entregaram colher para comer, mas nem precisou porque a xepa era incomível. Fedia muito! Jogamos fora e ficamos o dia em jejum.

 A fome dói muito, então nos ocupamos em limpar a cela para aliviar o mau cheiro daquele local insalubre. O banheiro era insuportável. Não havia material para fazermos a limpeza: não tinha baldes, vassoura, rodo, nada! Nós nos viramos com o que tinha, ou seja, com um saco plástico para pegar água na torneira e jogar no vaso sanitário e no chão para lavar a cela.

Só no dia seguinte nos levaram o material de limpeza, ou seja, sabão em pó que tinha mais sal do que sabão, uma vassoura quebrada e uma garrafa de cloro. Recebemos também um kit de higiene: escova de dentes com cabo quebrado ao meio, xampu, condicionador, sabonete em barra e pasta de dentes. Todos esses materiais eram de péssima qualidade.

 COMIDA ESTRAGADA E BAIXA IMUNIDADEA comida era azeda e com larvas. Quando tinha legumes, era com terra, sementes e cascas. Vinha crua, sem sal, sem tempero. Com esse tipo de alimento, que não dava para comer, perdi em torno de 10 kg e fiquei com baixa imunidade. Fiquei doente e não tive assistência médica alguma. Só depois de muito choro, por causa de uma dor de dente, e muitos pedidos de socorro que me levaram a um dentista.

Algumas agentes penitenciárias tratavam as criminosas melhor que nós, que estávamos presas injustamente. Nunca imaginei na minha vida passar por uma situação como essa e tive muito medo de morrer e não poder me despedir do meu filho. Por todo o medo sofrido, comecei a desenvolver problemas com insônia e passei a tomar remédios para dormir, além de ter sofrido com várias infecções bucais.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Eu fui jogada numa prisão fria, fétida e por sete meses passei fome, frio e humilhações. Tudo por defender Deus, Pátria, Família, Liberdade e transparência do meu voto. Porém, nada disso se compara com a tristeza que sentia ao receber as informações da dor e sofrimento que meu filho passava aqui fora.

Ele passou a ter pesadelos e a acordar chorando, por achar que a mãe dele tinha morrido. A tristeza dele era imensa, pois ele ouvia as pessoas me chamando de terroristas, golpistas etc. Ele não conseguia entender o que a mãe dele estava passando e achava que logo eu estaria em casa.

MEU FILHO PRECISOU DE ATENÇÃO MÉDICA

O tempo foi passando e a situação foi piorando. Ele quis morrer e criava vários problemas na escola. Inclusive deixou de ir a um passeio da escola porque disse que aproveitaria para pular de um local alto, insinuando tentativa de suicídio. A direção não quis levá-lo.

O meu filho questionava Deus. Sabendo que sou uma mulher de muita fé, ele não conseguia entender por que Deus permitiu que isso acontecesse comigo. Ele começou a fazer terapia e tratamento para depressão com uma psiquiatra.

Em 8 de agosto, recebi o meu alvará de soltura e, finalmente, estou em casa. Porém, eu continuo presa e sou monitorada por tornozeleira eletrônica. Tenho que estar em casa nos dias da semana antes das 22 horas. Nos finais de semana e feriados não posso sair da minha casa.

Continuo sofrendo humilhações por conta da tornozeleira, porque as pessoas me julgam como se eu fosse uma pessoa perigosa. Quando vou ao shopping com meu filho, ao entrar em alguma loja toca o sensor sonoro e isso deixa meu filho constrangido e envergonhado. O meu filho é chamado de filho de presa e isso me deixa muito triste, principalmente pelos problemas psicológicos que ele vem enfrentando.

QUEM SOU E AS MINHAS MOTIVAÇÕES

Sou uma presa política de 8 de janeiro e sou mãe e pai de uma criança de 12 anos. Trabalho com tosa e banho de pets e tinha uma renda entre R$ 3.000,00 e R$ 4.000,00 ao mês, até ser presa em Brasília.

Não tenho mais clientes, pois trabalhava por conta própria. Perdi o meu carro e era com ele que eu pegava os cães para tosar. Estou vivendo da ajuda de amigos e familiares. Por causa da tornozeleira e do horário imposto tornou-se difícil arrumar um emprego, tendo em vista que o maior movimento nos pets é justamente nos finais de semana. Fora isso não posso trabalhar fora da comarca onde resido. Além disso, as pessoas têm preconceitos em relação a dar emprego a uma pessoa que está em liberdade provisória.

Nunca fui muito ligada em política, mas isso mudou em 2018 quando o ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, se candidatou à presidência. Quando comecei a buscar mais informações sobre ele e as suas pautas, entendi que ainda existem homens honestos nesse País. Sem dúvida, percebi que estava fazendo a escolha certa. É um homem íntegro que não se dobrou o sistema. Ele venceu com mais de 58% dos votos e foram anos de mandato em que o brasileiro se sentiu seguro.

Chegaram as novas eleições para a presidência e Bolsonaro concorria à reeleição e, nós, patriotas estávamos tranquilos, pois sabíamos que naquele momento não havia candidatos com força suficiente para disputar a presidência com ele.

Até que o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu libertar Luiz Inácio Lula da Silva, um condenado em três instâncias da Justiça para disputar a presidência.  Foi quando iniciou a nossa luta nas redes sociais. Trabalhamos gratuitamente como cabos eleitorais do até então presidente da República, uma vez que não queríamos o nosso País governado por um ex-presidiário cercado pela pior da classe política.

Infelizmente, o STF e a escória da grande mídia estavam dispostos a eleger o ex-presidiário a qualquer custo. O STF porque quase todo ele é conivente com a corrupção e a grande mídia, pelo menos parte dela, devia fortunas ao governo.

Manipularam de todas as formas e, com o resultado fraudulento do 2º turno, nós fomos para as ruas. Queríamos transparência de nossos votos e havia forte indício de fraude. A Suprema Corte e a grande mídia rotulavam as nossas manifestações como atos antidemocráticos.

Espero em Deus que essa injustiça se resolva o mais rápido possível. Quero a minha liberdade de volta, pois nada fiz para perdê-la. Que Deus abençoe o Brasil e Jesus Cristo de Nazaré salve esta nação!”

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