Bebê Arthur conhece pai patriota no Papuda

Por Ana Maria Cemin – jornalista

18/10/2023 – (54) 99133 7567

Kimberly Furtado Lázaro, 21 anos, ficou nove meses sem ver o marido Matheus Lima de Carvalho Lázaro, 24 anos, que foi o 3º preso político condenado na recente história do Brasil, por ter estado na capital federal em 8 de janeiro. Quando saiu de Apucarana, PR, pretendia voltar em dois dias para casa, mas a sua estadia em Brasília resultou numa prisão de 9 meses e, em setembro, na sua condenação a 17 anos de cárcere pelo Superior Tribunal Federal. A esposa estava no início da gravidez e somente neste mês da criança ela conseguiu visitar o marido no presídio Papuda e apresentar o filho. É essa história do bebê Arthur e seus pais que você lerá a seguir.

Matheus e Kimberly estão casados há cinco anos e planejaram a concepção e nascimento do filho, que hoje tem dois meses, completos em 29 de setembro. Porém, ele não acompanhou a maior parte da gravidez e nascimento, e só foi conhecer o bebê no dia 2 de outubro, quando foi comemorado o Dia da Criança no Presídio Papuda, em Brasília. Kimberly nunca tinha viajado sozinha e, por necessidade, se obrigou a ir tão longe junto com seu filho para poder estar com o marido.

É importante ressaltar, antes de iniciarmos o relato do encontro da família no Papuda, que Matheus foi condenado por ter entrado no prédio do Congresso Federal, por menos de 5 minutos. O laudo do próprio celular do preso político comprova isso, conforme relato da advogada de defesa Larissa Cláudia Lopes Araújo. Esses poucos minutos justificam uma condenação de 17 anos pelos ministros do STF.  

Quando Matheus foi a Brasília, a barriga de Kimberly mal aparecia. O pai não viu praticamente toda a gravidez, não acompanhou o nascimento e foi condenado a 17 anos de prisão. Motivo: foi se proteger das bombas jogadas pela polícia na Praça dos Três Poderes dentro de um prédio da república. Não há nenhuma prova, imagem ou foto de que Matheus tenha quebrado algo, nem é de sua índole tal atitude.

ENCONTRO PARA APRESENTAR O FILHO

Quando pergunto para a Kimberly como foi sua visita ao marido no Papuda, junto com o filho, ela se engasga. “Foi um momento que ficará marcado para o resto das nossas vidas. Quando cheguei com o Arthur, pensava comigo mesma: devo ficar calma, me controlar. Porém, ao vê-lo, fiquei muito feliz, emocionada demais! Eu estava levando para Matheus o filho dele, o Arthur, para o conhecer. Ter um filho era um sonho, algo que planejamos juntos, e tudo aconteceu em meio a tantos acontecimentos difíceis. Choramos muito. Ele abraçou o Arthur e encheu ele de beijinhos. Depois abraçou a nós dois. Foi muito maravilhoso! Mesmo sendo dentro da prisão, será um dia lembrado com alegria, porque foi o dia que ele pode conhecer o nosso filho.

TRISTEZA NO OLHAR

Matheus está com o olhar triste, está com pelo menos 10 kg mais magro e pálido. Chorou muito e lamentou por não ter participado de todo o processo de gravidez e nascimento. Agora ele quer ser transferido para o presídio de Apucarana, ou Londrina, mesmo que fique preso junto com criminosos, porque é a única forma de ficar perto da família.

Ele está focado em estudar no presídio e conseguir ser um “classificado”, nome dado ao preso que pode trabalhar lá dentro. Meu marido não consegue ficar parado, está sempre trabalhando com alguma coisa, produzindo em qualquer local onde estiver. Ficar numa cela, sem ter o que fazer, o deixa nervoso.

A DESPEDIDA

Um dos momentos mais terríveis do nosso reencontro foi a despedida no Papuda, depois de ficarmos duas horas juntos. Deixá-lo foi doloroso. Fiquei olhando a porta da cela fechar, ele de um lado e eu do outro com o nosso filho, e senti como se um pedaço de mim estivesse lá dentro. Foi horrível!

Matheus me disse que sente muita saudade de sua família também, porque ele é ligado aos pais e irmãos. Ninguém pode visitar, por ser uma viagem cara. Nem mesmo uma chamada de vídeo de 15 minutos a sua mãe conseguiu fazer, porque o cadastro é complicado. Eu consigo falar com ele uma vez por mês, por 15 minutos, mas parecem ser apenas 2 minutos de tão rápido que passa.

A nossa esperança é de que Matheus realmente consiga ser um classificado na penitenciária, para que ele possa reduzir essa pena de 17 anos. Ele pretende dedicar-se aos estudos, fazendo os cursos que forem oferecidos. Ele precisa se ocupar. Ele fala para mim que tem momentos em que ele pensa que tudo isso que aconteceu com ele é uma piada de mau gosto, e não entende como o Alexandre de Moraes o julgou e o condenou a 17 anos sem nenhuma prova, baseado numa simples mensagem que teve comigo. Porém, como somos cristãos, acreditamos que Deus fará algo, porque para Ele nada é impossível.

QUEM É MATHEUS

Meu marido é uma pessoa ansiosa. Quando ele quer alguma coisa, nunca desiste. É também um cabeça-dura, mas eu posso afirmar que ele é um excelente marido, tem muita iniciativa, é atencioso e carinhoso. Sempre se dedicou a fazer o melhor por mim. Eu era o foco de atenção dele e, por exemplo, quando passava na frente de uma loja e via uma roupa que poderia ficar bem em mim, então ele comprava e mandava entregar no meu trabalho.

É um homem muito trabalhador, que corre atrás dos seus objetivos. Até ser preso, ele trabalhava com entregas na empresa Levelimp, de Apucarana. O patrão dele falou que quando ele sair do presídio, ele pode voltar para a empresa. O patrão dele o trata como um filho, porque Matheus é uma pessoa de confiança e trabalha muito bem.

Com a prisão de Matheus, que não recebe qualquer ajuda do Estado, sou eu que banco a nossa casa com o meu trabalho no comércio. Existe um auxílio reclusão previsto para quem está preso, porém não contemplou os presos de 8 de janeiro. Somente quando o STF liberar a documentação do meu marido como um condenado é que posso dar entrada nos papéis.

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