
Ana Maria Cemin – Jornalista
03/01/2023 – (54) 99133 7567
Naiane Karen Portugal, 31 anos, não sabe mais o que fazer para tirar o marido e repórter William Ferreira da Silva, 59 anos, do Centro de Correção da Polícia Militar – Unidade Prisional Especial, para onde foi recolhido após ser preso em Porto Velho, RO, no dia 3 de fevereiro, pela Polícia Federal, na quarta fase da Operação Lesa Pátria.
O jornalista estava em Brasília a passeio no mês de janeiro de 2023 e, mais especificamente, no dia 8 de janeiro ele estava no Clube do Exército com a família, confraternizando. Diante dos fatos ocorridos na Praça dos Três Poderes, ele pediu para a esposa Naiane dar uma carona até o local da manifestação para fazer a cobertura jornalística. Menos de um mês depois, em casa, recebeu a visita da PF e desde então está no cárcere. Não bastasse isso, a conta salário dele, que é considerada impenhorável, está bloqueada pelo governo.

William entrou para a reserva da Polícia Militar em 2012, porém nunca parou de trabalhar, assumindo a função de repórter em empresas e, nos últimos anos, de forma independente, nas mídias sociais. A esposa me conta a história de como o repórter virou um preso político de uma hora para a outra, sem uma justificativa plausível. Me diz que o advogado pro bono encaminhou três pedidos de soltura ao ministro Alexandre de Moraes, sendo o último com data de 6 de novembro, mas os três receberam a recusa do Superior Tribunal Federal.

FAMÍLIA EM FÉRIAS EM BRASÍLIA
“Eu estou casada com William há 10 anos. No dia 8 de janeiro, nós estávamos em Brasília de férias. Ele é aposentado pela Polícia Militar desde 2012, mas continua trabalhando como repórter independente. Inclusive, todo o trabalho que ele faz não é remunerado, ele tira do bolso para fazer esse serviço de prestação de informações para a comunidade aqui em Porto Velho. Ele usa o Facebook para divulgar, onde ele tinha 130 mil seguidores, como também Instagram e Youtube.

No final do ano saímos de férias e começamos um circuito de passeio começando por Cuiabá, MT, onde mora o irmão dele. A intenção era seguir dali para a Bahia, mas no meio do caminho mudou o roteiro. Passamos o Natal no irmão. A mãe do William, Dona Dirce, também estava junto e lá decidimos não ir para a Bahia porque ficamos sabendo que estava chovendo muito por lá, desbarrancado.

William com a filha Wila que estava grávida em janeiro.
Meu cunhado sugeriu Caldas Novas e fomos todos para lá, onde passamos o Ano-Novo. Depois disso, descemos a Brasília para ver a filha do William, chamada Wila, 30 anos, porque ela estava grávida e queria ver o pai. Como a família do meu marido é de Brasília, a minha sogra aproveitou para ver seus parentes.
CLUBE DOS OFICIAIS EM BRASÍLIA
Chegamos em Brasília no dia 2 de janeiro com a intenção de voltar no dia 4 ou 5 para Porto Velho, mas o marido da minha enteada nos convenceu a ficar pelo menos até domingo, para que fossemos todos juntos ao Clube do Exército, que ele queria apresentar. O genro de William é militar. Entendemos que deveríamos ficar para aproveitar o final de semana para ficarmos mais um tempo juntos.

Fizemos os passeios habituais em Brasília e, na quarta-feira, fomos até a Catedral, quando observamos que a região da Praça dos Três Poderes já estava toda barricada. Não dava para a gente ir perto dos prédios. Fomos só até a Igreja e voltamos para casa.

No domingo, dia 8 de janeiro, saímos da casa de Wila um pouco depois das 10 horas da manhã em direção ao Clube do Exército. Por volta das 14 horas, percebemos a presença de um helicóptero que passava com frequência sobre o local em que estávamos. Além disso, escutávamos o barulho de bombas e sentíamos o cheiro de gás de pimenta. William foi para a piscina com a Maitê, que fica numa área mais alta do prédio do clube, de onde o meu marido começou a ter uma vista de Senado. O clube fica junto ao Lago Paranoá. Ficou curioso para saber o que estava acontecendo na Praça dos Três Poderes.
CARONA NA VIATURA DA POLÍCIA
O que atraiu o meu marido para ir até lá foram os barulhos e o cheiro de gás de pimenta. Ele é repórter e os profissionais de Imprensa têm essa autonomia para presenciar os fatos, registrar os acontecimentos. Faz parte da profissão.

Foto que a esposa Naiane bateu de dentro do carro quando deixou William na rua que dá acesso aos prédios da República. O marido se identificou par aos policiais com a carteirinha de jornalista, porque ele estava vestido co bermuda, camiseta regata, havaianas e ainda estava molhado por ter saído da piscina onde estava com a pequena Maitê.
Ele pediu que eu o levasse. Fomos de carro e o deixei numa rua que dá em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Quando encostei para ele descer não tinha ninguém na rua, mas logo vimos uma viatura chegando e ele foi até a viatura. Apresentou a carteira de identificação como repórter e foi com os policiais, nessa caminhonete do STF, para a cena dos acontecimentos. Eu não o vi entrar, mas deduzi, porque tive que tirar o meu carro rapidamente porque chegou um ônibus da polícia militar e eu estava bloqueando a passagem com o carro. Dei um balão, olhei para a rua e não vi mais o meu marido.
PROCESSO SIGILOSO
O processo do meu marido é sigiloso e não tenho condições financeiras para contratar um advogado em Brasília. A conta dele está bloqueada e eu não tenho acesso a nada. Se eu não trabalhasse, minha filha e eu estaríamos “lascadas”. O bloqueio foi total!

William está numa unidade prisional especial, aqui em Porto Velho. É um centro de correção da Polícia Militar onde ele se encontra desde 3 de fevereiro, mesmo sem ter nada de concreto contra ele. Alegam que tem um vídeo dele no qual ele está entrando no STF, mas dá para ver que ele foi somente até a recepção e saiu logo em seguida. Entrou com a intenção de mostrar como estava lá dentro. Porém, configuraram que ele entrou com o uso da força, que ele quebrou, que ele participou. Nada disso é real. É algo sem fundamento.

A função de repórter era a forma de William servir a sua comunidade, em especial os mais desistidos.
Eu creio que o objetivo disso tudo é fazer com que ele seja incluído numa associação criminosa, como financiador dos atos, sendo que ele nunca recebeu dinheiro de ninguém e nem tem recurso para isso. É só pegar o histórico do William para saber quem ele é: um policial militar disciplinado, uma pessoa correta, condecorado por tudo que ele já fez na vida.
WILLIAM FICAVA COM O BEBÊ
Eu sempre trabalhei e quem ficava mais com a nossa nenê era o William. É ela, a nossa pequena Maitê, quem sente mais e não está fácil ajudar a minha filha a organizar as ideias, porque ela quer o pai. Ele não vem para casa todos os dias, como sempre fazia, e ela não entende isso. O dia em que a Polícia Federal foi na nossa casa, Maitê estava dormindo. Então ela não teve nem tempo para se despedir dele.

Aliás, a prisão dele foi um choque para mim, porque ele sempre foi um homem exemplar, com um nome a zelar. Chegou a concorrer para cargo político em Porto Velho, na cara e coragem, sem nenhum recurso para campanha. Agora está preso, possivelmente por uma denúncia sem fundamentação, porque até agora não estamos entendendo o que aconteceu. Até uma foto de quando o ex-presidente Bolsonaro esteve aqui em Porto Velho para inaugurar uma ponte, que ele foi fazer a matéria e por ele ter passado perto do Bolsonaro foi feito uma foto, está sendo utilizada contra ele. Um absurdo!”


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