
Edição: Ana Maria Cemin – 28/042025
“Queridos do Brasil, estou escrevendo essa carta de algum lugar longe de casa, onde a saudade e a solidão me acompanham a cada passo. Sou Fabíola, tenho 48 anos. Sou filha, irmã, mãe e avó. Tinha uma vida simples e feliz até o dia em que resolvi me posicionar politicamente. Há um ano, deixei tudo para trás: casa, família e amigos. Dizem que o lar se faz onde estiver, mas não concordo. Meu lar é minha família. Deixei tudo por um pouco de liberdade.
Quando saí de casa, dei um último abraço no meu filho caçula, entrei no carro e saí. Não olhei para trás para ele não me ver chorando. Como em outros momentos, engoli o choro, enxuguei as lágrimas e segui viagem. Não tinha mais como voltar atrás.
Fui condenada a 17 anos de prisão e seria presa novamente para cumprir a pena. Já havia passado 214 dias presa ilegalmente e sem crimes, então decidi que não voltaria para a prisão. Foram 3 dias e meio até a fronteira, dias tensos e cheios de medo, uma mistura de sentimentos: raiva por ser obrigada a deixar o lar, medo de ser pega, amigos sendo presos e a morte de uma amiga querida. Chorei baixinho e segui viagem, me sentindo culpada.
Nunca imaginei que estaria em fuga, principalmente porque não cometi crime algum. Sempre tentei agir dentro da lei. Atravessei a fronteira e, cheia de esperança, consegui minha liberdade. Estava livre, mas não era suficiente. Muitos estavam presos e outros voltando para a prisão.
Vivo um dia de cada vez, com o risco de perder a pouca liberdade que tenho. A perseguição política nos alcançou. Tive minha vida virada do avesso por ter uma opinião política diferente. Foram muitas perdas psicológicas, financeiras e físicas. Eles me tiraram quase tudo, mas ainda estou de pé.
O exílio é uma experiência difícil de descrever, mas posso dizer que é como viver em um limbo entre dois mundos, sem pertencer a nenhum deles. O que mais dói é a saudade da família, da minha casa, da minha terra natal, do meu lar! É como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, deixando um vazio que não pode ser preenchido.

No entanto, mesmo em meio à saudade e a toda essa injustiça, encontro forças em saber que não estou sozinha. Há outros aqui e, juntos, podemos encontrar conforto e apoio. A falta de familiaridade com o lugar, a língua, a cultura e a falta de trabalho são desafios diários.
Deputado Hugo Mota, não nos negue o direito à liberdade paute a anistia. Tem gente morrendo na prisão, pessoas estão definhando, filhos órfãos de pais vivos, exilados sonhando em voltar para casa. Não brinque com nossas vidas. Está em suas mãos a decisão de como entrará para a história, como um homem justo e honrado ou como um covarde. A anistia é um passo importante para a reconciliação e a justiça. É uma oportunidade de seguir em frente e recomeçar. A liberdade é um valor que não pode ser negado a ninguém.
Não vou esquecer de onde vim e não vou desistir de lutar pelo que é justo. Vou continuar a lutar pela liberdade e justiça. Vou continuar a lutar por mim mesma e por todos aqueles que estão passando pelo mesmo que eu. Espero que um dia possa voltar para casa.
Brasil, levanta-te do teu berço esplêndido. É chegado a hora de lutar! Brasil acima de todos. Deus acima de tudo. Fabíola Rocha”
Fabíola Rocha da Silva foi condenada a 17 anos de prisão e 100 dias-multa no valor de 1/3 do salário-mínimo, além de compartilhar uma dívida de R$ 30 milhões com os demais condenados por cinco crimes pelo Supremo Tribunal Federal, acatando a denúncia da Procuradoria-Geral da República. Se você digitar o nome de Fabíola no Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões você verá que tem mandado de prisão aberto desde 15 de abril de 2024. O que fez essa senhora se tornar “perigosíssima”, foi ir até Brasília numa manifestação contra o atual governo, assim como acontecia em todos os estados brasileiros. O diferente em 8 de janeiro foi que estavam esperando pelos brasileiros descontentes com uma surpresa.
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