Ana Maria Cemin – Jornalista – 23/07/2024
A vida de quem foi a Brasília se manifestar no início de janeiro de 2023 nunca mais foi a mesma, em especial para as mais de 2 mil pessoas que passaram a ser perseguidas e presas pelo Estado Brasileiro desde então. É o caso da faxineira Lucenir Bernardes da Silva, 44 anos, de São José do Rio Preto, SP, que desde maio desse ano se encontra em exílio na Argentina, única forma que encontrou para melhorar o seu estado emocional e sobreviver.
Seu nome consta no banco de dados do monitoramento de prisões como procurada da polícia desde 14 de maio. Ela foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 14 anos em 1º de março.
Em 18 de janeiro desse ano, Lucenir juntou e tomou todos os remédios receitados pelo psiquiatra que tinha em casa na tentativa de eliminar a vida, motivada pelo sofrimento gerado pelas perseguições que sofreu, pelo simples fato de ter estado na Praça dos Três Poderes no ano passado. Ela diz que queria fugir do quadro de ansiedade, pânico, incapacidade de trabalhar e medo de sair na rua.
“Eu pedia para meu filho trancar o portão da casa pelo lado de fora para que ninguém soubesse que eu estava lá dentro. Tinha medo o tempo todo de voltar para o presídio, depois de ter vivido a prisão de sete meses no Presídio Colmeia em Brasília”, conta a presa política.
Hoje, Lucenir não toma mais remédios controlados para depressão e vive numa periferia de uma cidade do país vizinho, junto com uma família de patriotas (também em autoexílio) que a acolheu. “Estou vivendo às custas deles há dois meses e tenho vergonha disso, mas não consegui trabalho até o momento”, conta aflita, pois quer achar uma saída para viver com dignidade fora do Brasil.
Lucenir vive a saudade do filho Paulo Henrique, 20 anos, que em novembro lhe dará a sua primeira netinha, e da sua mãe, Dona Rosalina, 83 anos, que mora a 18 quilômetros de onde a presa política residia. “Eu visitava a minha mãe uma vez por semana. Ela mora sozinha e teve isquemia e apresenta quadro de anemia crônica”, conta sobre a sua progenitora.
LUCENIR NÃO GOSTA DE POLÍTICA
É difícil entender como alguém que não gosta de política, e considera o Bolsonaro apenas mais um cidadão brasileiro, ter virado presa no ano passado. Porém, quem tiver interesse e for buscar o perfil da maioria dos patriotas que foram a Brasília poderá chegar à conclusão de que caíram numa grande armadilha. Quem armou a armadilha? Isso nós saberemos um dia, porque nada fica escondido por muito tempo.
“A esquerda passou a perna em todo mundo. Nós puxamos o título do meu pai falecido em 2008 e, imagina, aparece que ele votou no Lula”, diz ela, sem esclarecer a fonte de pesquisa. “Desde criança ouvia meu pai falar que não era para votar nesse lixo (Lula)”, comenta, ainda.
VIAGEM À CAPITAL FEDERAL
Lucenir foi a Brasília no dia 6 de janeiro e chegou na tarde do dia seguinte. No dia 8 de janeiro, ajudou o pastor na cozinha da barraca e, depois do almoço, se arrumou e desceu para a Praça dos Três Poderes, chegando por volta das 15h40. Antes foi revistada pelos policiais e foi liberada para seguir em frente sem saber que o campo de batalha já estava armado.
“A polícia jogava bombas de lacrimogênio e de efeito moral, dava tiro na gente, então eu me refugiei dentro do Palácio do Planalto. De lá sai presa para a Delegacia de Polícia e, em seguida, para o Presídio Colmeia onde fiquei até o dia 9 de agosto.
SEM ATENDIMENTO MÉDICO NO PRESÍDIO
A vida lá dentro era horrível. Eu cheguei menstruada e fiquei assim por 15 dias usando a mesma roupa: uma camiseta e uma bermuda. Quando lavava a roupa, tinha que ficar enrolada numa coberta até secar e, se tivesse audiência, tinha que vestir roupa emprestada. Só fui receber o meu primeiro Cobal (kit de presa que a família pode entregar) três meses depois de estar presa, e veio da Associação dos Familiares de Vítimas do 8 de Janeiro (ASFAV), porque os outros enviados pela minha família nunca chegaram para mim.
Tive um problema sério no rosto e em parte do peito, uma irritação de pele, e pedi para ir ao médico. Nem com a ajuda do Senador Magno Malta eu consegui. Nunca fui levada para tratamento”, conta a exilada brasileira.
FUTURO
A vida da patriota ainda não está organizada e ela deseja muito trabalhar e encontrar dignidade. Lucenir tem problema de circulação e a usa medicação que levou do Brasil, o Diosmin. Também precisa fazer mamografia a cada seis meses por ter presença de nódulo no seio. “Eu não sei como fazer aqui na Argentina para ter acesso a posto de saúde. Não tenho a menor ideia”, conclui, numa clara demonstração que não há nenhuma organização que apoia as pessoas que estão saindo do País em busca de refúgio.
Como faço para entrar em contato com Lucenir, conheço a mãe dela, minha avó é vizinha e ajuda ela