Ana Maria Cemin – Jornalista
06/02/2024 – (54) 99133 7567
No dia 6 de janeiro de 2023, sexta-feira, o soldador Gilberto da Silva Ferreira, 49 anos, de Nova Santa Rita, RS, pegou um ônibus em Passo Fundo, RS, com destino a Brasília, DF. Junto com outros conterrâneos, ele foi participar da manifestação patriótica e de uma festividade gaúcha preparada pelo patrão do Centro de Tradições Gaúchas – CTG, do Distrito Federal.
O ônibus chegou às 15h30 em Brasília no dia 8 de janeiro, domingo, e os convidados comeram o tradicional carreteiro e foram em grupo para a Praça dos Três Poderes. Chegaram no local da manifestação às 17 horas e viram muita confusão. O grupo decidiu voltar em seguida para o CTG e, como não haveria manifestação na segunda-feira, dia 9 de janeiro, como estava combinado, voltaram para o Rio Grande do Sul.
Na estrada, a Polícia Rodoviária Federal parou o ônibus, mas depois de esclarecerem seus objetivos em Brasília seguiram viagem. Os amigos de Nova Santa Rita foram até Passo Fundo de carro buscar os excursionistas.
PRISÃO DE GILBERTO
Na madrugada do dia 17 de março de 2023, três viaturas da Polícia Federal foram até a casa de Gilberto e o levaram, após revistarem a residência. De todos os amigos de Nova Santa Rita que foram a Brasília somente ele foi recolhido ao presídio, onde se encontra até o momento. Ele está junto com presos comuns na Penitenciária Estadual de Canoas, em cidade muito próxima a sua. Até mesmo o direito ao parlatório foi tirado do Gilberto e, basicamente, as trocas de informações são feitas via advogado.
Gilberto é casado com Elisandra Marques, 42 anos. Tem duas filhas, uma de 14 e outra de 26 anos, além de ser avô de dois netos – mais um está a caminho. Ele é o mantenedor da casa e trabalhava junto com o seu pai Alberi Marques Ferreira, 75 anos, na oficina de tornearia e solda. A empresa está fechada desde a prisão e o seu Alberi está cada vez mais doente.
“Meu sogro nunca teve problema com a pressão, mas agora ela está alta e exige cuidados. Entre os dias 2 e 3 de fevereiro, Seu Alberi teve um AVC e foi levado às pressas para ser internado em Centro de Tratamento Intensivo. Aos poucos deve recuperar a fala, que foi afetada pelo acidente vascular”, diz a nora. Segundo ela, o sogro não se conforma em ver seu filho preso sem que tenha feito qualquer coisa errada. É uma dor que está dilacerando o idoso.
Elisandra trabalha como massoterapeuta, porém está com dificuldades para atuar, pois além de ter o marido preso ainda precisa ajudar a cuidar do sogro enfermo e da filha. A situação financeira se agrava ainda mais pelo emocional abalado e, mesmo com a ajuda dos amigos, está difícil de dar a volta.
As suspeitas dos amigos de Gilberto é de que a sua prisão seja uma perseguição política, já que ele se candidatou a vereador na última eleição municipal. Até porque durante o acampamento na frente do quartel em Nova Santa Rita, que durou 72 dias, várias pessoas frequentavam, por isso dizem ser difícil compreender a razão pela qual Gilberto, que estava em um grupo em Brasília, tenha sido alvo da operação da PF, por determinação do Supremo Tribunal Federal. Além de ficar pouco tempo na Praça dos Três Poderes, junto com outras pessoas da excursão, Gilberto é considerado uma pessoa tranquila e ordeira, portanto jamais teria tempo e disposição para se envolver em depredações.
PRISÃO ABSURDA
“O processo penal brasileiro segue as regras do Código de Processo Penal e nele está definido que primeiro a pessoa é investigada e somente depois disso responde a um processo. E tudo inicia com a denúncia, que é uma peça formal para a abertura do processo”, relata o Dr. Gustavo Nagelstein, que defende Gilberto Ferreira da Silva, 49 anos, preso na Penitenciária Estadual de Canoas, RS, desde 17 de março do ano passado.
Ele explica que Gilberto está preso há mais de 10 meses sem qualquer peça formal que descreva o que ele fez em Brasília, no dia 8 de janeiro. Não se sabe qual a conduta e qual crime, porque ele não foi legalmente acusado. No processo penal brasileiro a prisão é exceção, sendo a regra a liberdade. Qual a razão de ele estar preso no Presídio de Canoas se o nosso princípio constitucional é de que enquanto a pessoa não for considerada culpada ela é inocente? Como fazer a defesa de uma pessoa sem ter por base qualquer elemento de investigação?
Outro grave problema que enfrentamos como advogados do caso de 8 de Janeiro é a pouca possibilidade de petição, porque ao fazer uma petição, por exemplo, levei de cinco a seis meses para ter uma resposta, sendo o Supremo Tribunal Federal a instância de justiça mais rica do Brasil, onde tudo deveria funcionar de forma exemplar. Numa comarca pobre de uma pequena cidade do País, o tempo seria muito menor.
Tudo leva a crer que o caso seja de perseguição política. Não se compara com outros casos que temos na justiça. Até porque tudo deveria iniciar na comarca de 1º grau, na primeira instância e, conforme o andamento do processo, chegaria, ou não, até a última instância, momento que daí sim os Ministros do STF pudessem atuar. Esses fatos não respeitam a regra do processo e começam de forma invertida.
Por todas essas irregularidades é que fica visível que o ministro Alexandre de Moraes age como um ditador que tem em mãos a força política, jurídica e policial. Frente a isso não há muito a fazer.
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