PATRIOTA CONDENADO PELO STF MORA NA RUA
Ana Maria Cemin – Jornalista
22/03/2024 – (54) 99133 7567
Solteiro e sem filhos, o morador de Campo Grande, MS, Diego Eduardo de Assis Medina, de 36 anos, encontrou nas ruas da cidade o refúgio para a sua dor.
Depois de ficar sete meses preso em Brasília, ele saiu em 9 de agosto de 2023 e foi morar no apartamento de sua mãe em Campo Grande. Dias depois, em 24 de agosto, começou a trabalhar numa escola em serviços gerais, mas de uma hora para a outra ele “fugiu” da família e dos conhecidos por não suportar conviver com tanta vergonha e sensação de impunidade de quem realmente foi responsável pelo que ocorreu em Brasília.
Isso foi em 12 de novembro do ano passado e, desde então, ele encontra aqui e ali um canto para dormir ao relento, sendo que o primeiro foi num cemitério. “Eu fingi ser durão, mas tudo que aconteceu desde a eleição de Lula até a minha volta para casa em agosto do ano passado foi muito forte. Eu não sou tão forte assim e acabei me tornando um alcóolatra de rua. Estou cansado de viver assim”, me diz, chorando, em 21 de março, poucas horas antes de fazer uma internação voluntária para desintoxicar.
Na noite do mesmo dia em que conversamos, Diego dormiu no Centro Terapêutico Libertar, que fica numa região de chácaras de Campo Grande. Ele pediu ajuda no Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (CENTRO POP) da cidade, uma entidade que atende moradores de rua e oferece local para banho e alimentação, além de orientações e encaminhamentos. Ele frequentava há meses o local.
PRESO POLÍTICO CONDENADO
Medina usa tornozeleira eletrônica desde que voltou de Brasília para seu estado e teve diversos embaraços em relação a carregar o equipamento. Durante um tempo o CIME local desligou o que chama de luz roxa e a vibração, mas voltou a ligar novamente. O medo de contrariar o Supremo Tribunal Federal (STF) e ser recolhido ao presídio é um dos fantasmas que o assombra pelas ruas e que o empurra para o vício.
Em 20 de fevereiro, foi concluído o julgamento de Medina pelo STF e a condenação é de 16 anos e meio de prisão. Ele aguarda o trânsito em julgado da sentença. Ele me diz que a sua condenação é nada perto do que o governo está fazendo com milhares de pessoas inocentes, entre presos políticos e seus familiares e amigos, sem que ninguém coloque qualquer impedimento.
Ele não consegue assimilar a injustiça contra pessoas trabalhadoras e humildes que conheceu dentro do Presídio Papuda e chora ao lembrar do Clezão, que faleceu no presídio. “Era um empresário, um homem de quase dois metros com um coração generoso, que morreu como um bandido”, fala em lamento.
Ele optou por beber cachaça e fugir da realidade, me diz, e quer contar a sua história para que outros não sigam esse caminho que ele obrigatoriamente deverá percorrer de volta. Ele sabe que precisa se reabilitar, permitir ser cuidado, para seguir em frente.
“EU PERCEBI QUE IRIA MORRER NAS RUAS”
“Nos últimos tempos, decidi dormir numa praça na Avenida Bandeirantes, com um pessoal que toma cachaça como eu. Alcóolatras são mais tranquilos do que os mendigos de rua que usam drogas”, conta.
Até segunda-feira, 18 de março, Diego não tinha telefone, mas quando foi assinar no Fórum, como todos os patriotas tornozelados são obrigados a fazer pelo STF, outro preso político entregou um celular para que ele voltasse a falar com sua advogada Dra. Shanisys Martins Massuqueto Virmond Butenes. No momento em que eu estava fazendo a entrevista com ele, a advogada ainda não tinha sido informada da sua internação voluntária.
“Não sei se vão permitir que eu use em alguns momentos o celular dentro da clínica, mas seria bom poder acompanhar o meu processo e saber dos acontecimentos referentes ao 8 de janeiro”, diz ele. Sobre a família, ele me diz que não tem coragem de voltar para casa, porque tanto a mãe como os demais familiares não gostam de temas políticos e sentem vergonha por ele ter sido preso e usar tornozeleira.
“Eu entrei em depressão profunda, fugi deles e dos amigos, mas uma amiga que reencontrei por acaso, num dia em que estava na fila para pegar uma marmita para moradores de rua, me disse que eu estou fugindo de mim mesmo”, revela.
O encontro ocorreu também na segunda-feira e foi o ponto de partida para mais uma tentativa de mudança de vida. Ele já tinha sido internado via Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da sua cidade outras vezes, porém o tempo máximo de tratamento foi de 15 dias e ele voltou às ruas bebendo tanto quanto antes ou mais.
DIEGO MEDINA POR ELE MESMO
“Sou um matuto que trabalha há mais de 10 anos em fazendas como caseiro. Eu gosto de tirar leite, tratar dos bichos, carpir, roçar grama e escrever os meus versos caipiras. Quando sai do presídio, não consegui voltar à vida normal, porque nas segundas-feiras eu tenho que assinar no Fórum e nos finais de semana sou obrigado a ficar trancado dentro de casa, como está determinado nas medidas cautelares.
Surgiu o trabalho na escola, fui muito bem aceito e os proprietários concordaram com a minha ida nas segundas-feiras para assinar no Fórum. Eu saia de casa durante a semana às 5 horas e voltava às 20 horas, mas eu não consegui pedir ajuda para o meu problema emocional, a minha depressão crescia a cada dia e surtei. Fugi de todo mundo, porque eu pensava que a saída era me esconder.
REDES SOCIAIS
Em 2017, eu entrei nas redes sociais e acompanhei a campanha do Bolsonaro, que eu costumo dizer que é um homem grosso, mas que me representa. Vi toda a perseguição que ele sofreu da imprensa e do Supremo Tribunal Eleitoral (STE), que tinha um duplo padrão de atuação, sempre deixando claro os dois pesos e as duas medidas.
Em 2022, eu trabalhava em Vista Alegre, distrito de Maracaju, MS, num ferro velho, um local com só 4 mil habitantes, do jeito que eu gosto. As eleições estavam acaloradas e era visível que tinha alguma coisa errada. Os próprios militares declararam que precisavam dos códigos fontes para garantir a transparência do resultado do pleito.
Decidi ir para Brasília defender princípios, valores, transparência e justiça. Fui duas vezes em dezembro e no dia 6 de janeiro fui novamente. Entrei num ônibus de graça em Campo Grande, não perguntei quem pagou, assim como não perguntei quem pagava o prato de comida que era servido do QG. Não tinha porque querer saber. Era um movimento e o propósito era o mesmo de manifestar de forma pacífica e ordeira. Sempre foi dessa forma.
PRAÇA DOS TRÊS PODERES
Cheguei em Brasília às 20 horas do dia 7 de janeiro, na manhã seguinte fui ao supermercado comprar mantimentos para o acampamento e na volta vi a movimentação para a descida até a Praça dos Três Poderes. A informação era de que somente iríamos no dia 10, porque na segunda-feira ainda chegariam ônibus de várias partes do Brasil.
Uma das razões da descida pode ser atribuída a um Policial Militar que subiu no palanque e atiçou os manifestantes dizendo que poderíamos descer, prometendo que fariam a escolta para garantir a segurança do movimento. Eu fui junto com aquele mar de gente. Uma multidão!
Por volta das 14h30, na descida, eu já ouvia tiros e bombas explodindo, e foi aí que o bom sendo falhou. Se tinha confusão, o melhor era voltar para o QG. Porém, estávamos junto com os policiais, que nos escoltavam e estimulavam com acenos e garantiam que estava tudo bem.
CENÁRIO DE GUERRA
A nossa chegada na praça foi um momento de muita aflição, porque víamos pessoas sangrando, policiais assustados e muita bomba e fumaça. Fiz um vídeo de cima do Congresso e mostrei tudo aquilo. Quando um veículo policial foi queimado, jogado num espelho d’água, eu estava na rampa. Assisti de lá. Também via os dois helicópteros jogando bombas sobre as pessoas, que eram alvos fáceis para os policiais que sobrevoavam muito baixo.
Senti que eu não poderia correr de lá e deixar as pessoas mais debilitadas para trás. Às 16h30 eu estava socorrendo o Jessé Lane Pereira Leite (68 anos e também condenado a 16 anos e meio pelo STF). Eu molhava a minha bandeira em água mineral e tentava acudir o idoso que passava mal.
Foi nessa hora que um policial pisou nas minhas costas e me levou preso. Nem ao menos ofereci resistência, mas fui agredido por esse policial legislativo. De lá fui levado para a parte de baixo do Congresso, onde fica a Polícia Legislativa Federal (PLF). Estava sentado numa cadeira e levei um ponta pé do nada de um policial. Junto comigo estavam Jessé, Wellington Luiz Firmino (condenado a 17 anos), John Atila da Silva Assunção (ainda não foi julgado) e uma moça de São Paulo chamada Mônica.
POLÍCIA CIVIL
Da PLF fomos levados para a Polícia Civil e nos separamos da Mônica. Nos colocaram no mesmo pátio com mais de 40 presos comuns, que tinham realmente cometido crimes, como latrocínio e tráfico. Só nós quatro estávamos algemados e os presos diziam “Bolsonarista vai morrer” e outras frases que eram muito assustadoras. Foi a diversão dos policiais da civil, que ficavam rindo da nossa cara apavorada. Não fomos agredidos pelos presos, mas só de lembrar ainda fico assustado.
Ao amanhecer, nos colocaram num furgão todo fechado e nos levaram para o Presídio Papuda. A minha ficha não caía. Via aquelas pessoas que estavam ao meu lado com a cabeça cortada, um idoso (Seu Rubens) com o olho roxo por ter levado uma porrada de um policial ao reclamar quando bateram numa moça (Débora) dentro do Palácio do Planalto. Um rapaz (Fábio) precisou fazer 12 pontos na cabeça por ter levado uma coronhada de um policial. E mais: tinha gente desesperada que corria e se jogava de cabeça contra a parede na tentativa de se matar. O clima era absolutamente tenso e insustentável, diferente de tudo que vivemos no acampamento onde pedíamos por um Brasil melhor.
CÁRCERE
Fiquei sete meses preso e vi gente sendo tirada da prisão nos primeiros dias, quando engravatados chegavam com a direção e chamavam os nomes dos favorecidos. Nunca mais vi eles e nem foram condenados como nós. Creio que eram os infiltrados que foram contratados para quebrar os prédios. Sei que alguns patriotas, poucos, entraram na onda e fizeram bobagem, mas não aqueles que estavam entre nós.
Até então, eu nunca tinha pisado nem mesmo em delegacia de polícia. De uma hora para outra me tornei um preso, um criminoso, era obrigado a comer uma comida com bichos e sujeiras, via o Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e policiais agindo de forma sádica conosco, nos agredindo fisicamente, sem que ninguém se importasse. Tudo isso me deixou muito mal. ”, conclui.
Katiuscia loredana dos Santos Gonçalves Loredana
Quanta injustiça feita com pessoas inocentes. Enquanto a constituição não existe mais eles destrói vidas o tempo todo. Não podemos permitir essas atrocidades a nossa luta é pelo povo , pelos presos políticos e temos a obrigação de ajudar todos esses que lutaram por toda uma nação. Parabéns pela entrevista uma das melhores e com a verdade relatada.
Diego Eduardo
Obrigado patriota
Q Deus te abençoe, e salve nosso amado Brasil
Diego Eduardo
Esse sou eu, Diego Eduardo.
Morei seis meses nas ruas, e hj me encontro refugiado em outro país. Um lugar frio, de pessoas frias, e longe de tudo que considerava ser minha vida.
O q me mantém de pé, é a esperança de um dia voltar ao meu Brasil. Um Brasil livre, justo, e próspero para todos os brasileiros.
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