Ana Maria Cemin – Jornalista
20/12/2023 – 54 99133 7567
O pastor Jorge Luiz dos Santos, 58 anos, está preso desde 8 de janeiro no Presídio Papuda, após refugiar-se dentro do Palácio do Planalto para fugir das bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha da Polícia Federal. Um vídeo apresentado pela família mostra o momento exato em que um policial faz o pastor levantar-se e dá um tranco de forma que ele cai e quebra a rótula do pulso.
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Após ser agredido pelo policial, ali mesmo no Palácio do Planalto ele recebeu o primeiro tratamento antes de ser encarcerado, onde permanece até hoje, inclusive sem o atendimento de saúde adequado às suas comorbidades. Falta pouco para completar um ano de prisão e o julgamento dele está marcado para 2 de fevereiro de 2024.
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No dia 9 de setembro, a Procuradoria Geral da República (PGR) emitiu o parecer de soltura do pastor, porém ele permanece preso. Somente no dia 18 de dezembro, dois dias atrás, o ministro Alexandre de Moraes deu parecer sobre a decisão da PGR indeferindo, com o argumento de que Jorge tem antecedentes criminais referentes aos artigos 180 e 171. De pronto o filho Wanderson Luiz Lisboa dos Santos, 37 anos, foi atrás da documentação para provar que seu pai é réu primário, um cidadão de bem, que nunca cometeu qualquer crime.
“Buscamos a Certidão de Antecedentes Criminais do meu pai, porque o ministro Moraes está copiando e colando e não se deu o trabalho de verificar que esses crimes não foram cometidos por meu pai, que é um pastor e tem uma índole ilibada”, diz Wanderson. Caso a justiça agisse com isonomia nos casos de 8 de janeiro, Jorge já deveria estar em liberdade, porque outros presos com julgamento em andamento e sem parecer favorável da PGR, como é o caso de Josiel Gomes de Macedo, já estão em casa em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
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CIRURGIA URGENTE
Desde 29 de maio, foi determinado pela Juíza de Direito, Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, que o pastor Jorge passe por procedimento cirúrgico devido a um problema de hemorroidas nível 4, sem que ele tenha sido atendido.
“Meu pai sempre teve problema com pressão alta e dores de cabeça. Lá no presídio ele não conseguiu a medicação para tratar esse problema. Sabemos que enquanto o Dr. Frederico estava lá como preso político, meu pai foi socorrido por ele quando passava mal. Aliás, o Dr. Frederico era chamado pelos guardas não só para atender os presos políticos, mas também atendia os presos comuns. Ele nunca recebeu atendimento médico e nas vezes que foi para o ambulatório se sentiu humilhado por ter que ficar nu e agachar diante de policiais femininas. Ele decidiu que não vai mais procurar ajuda, por ter vergonha dessa situação. Quanto ao caso das hemorroidas, que é uma situação de cirurgia, até hoje não evoluiu, mesmo com a juíza tendo determinado o encaminhamento”, conta o filho.
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QUEM É O PASTOR JORGE
Jorge é pai de cinco filhos e é casado com Creusa Maria Lisboa Maia Santos, 57 anos. Moram no município Conselheiro Lafaiete, que fica a 50 km de Ouro Preto, MG. Ele é pastor numa comunidade humilde do interior do município chamada Itaverava, onde locou uma casa para levar a palavra de Deus uma vez por semana. Para sustentar a casa, Jorge vende caldo de cana que ele mesmo produz: raspa a cana, moe e faz o caldo. Desse trabalho vem o sustento do casal e da neta Adriele, que estava grávida quando foi preso e que agora é mãe do pequeno Rael.
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O trabalho com o caldo de cana é a única fonte de renda e cobre o aluguel da igreja também. Pastor desde os 33 anos, mesmo preso Jorge não autorizou o fechamento do local de oração por entender que aquelas pessoas muito humildes precisam de oração e pregação. Lá de dentro do Papuda deu ordens aos filhos e esposa para convidar um pastor amigo para fazer o seu serviço até que ele volte de Brasília para Conselheiro Lafaiete.
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“Todos os domingos minha mãe acompanha este pastor até Itaverava, como meu pai pediu. Eu não vou porque preciso fazer a venda de biscoitos de polvilho para conseguir recursos para ajudar a família toda. Não temos muitas condições e estamos nos dedicando ao máximo para cumprir com todos os pagamentos dos honorários advocatícios. Não podemos deixar o nosso pai sem um ótimo advogado e o Dr. Daniel Guimarães, de Brasília, DF, tem feito um bom trabalho na defesa”, me fala Wanderson. O pagamento das parcelas de R$ 700,00 para a defesa tem sido desafiador, porque junto a ela somam-se outras despesas domésticas, com as despesas com o pequeno Rael que nasceu em meados desse ano, além de outros custos decorrentes da prisão do patriarca.
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BOM COMPORTAMENTO
“Meu pai tem trabalhado dentro do Presídio Papuda. Foi escolhido como um classificado e serve almoço, limpa banheiros, lava o chão e faz a interface entre os presos e os advogados nos agendamentos. Por conta disso, trocamos muitas correspondências com ele, o que compensa o fato de não podermos visitá-lo no presídio por ser muito caro para nós. Porém, desde a morte do Clezão, os presos políticos mudaram de ala e passaram a conviver em celas lado a lado com celas de presos comuns. Desde então, meu pai deixou de ser um classificado”, relata o filho.
“Nós lamentamos muito o fato do meu pai não ter saído até agora, mesmo com o parecer favorável da PGR. O bisneto dele nasceu e ele não pode conhecer. Numa das cartas que ele nos enviou escreveu ter medo de perder a mãe antes de se despedir dela. E de fato a minha avó está com um câncer alastrado pelo corpo (pulmão e intestino), coisa que não tivemos coragem de contar para ele. Sabe que está doente somente. Numa outra carta ele fala da tentativa de suicídio do patriota Jorginho, que foi difícil conter, e numa terceira carta ele fala que prefere morrer a continuar lá dentro”, revela.
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Seguem documentos da Associação dos Familiares das Vítimas de 8 de Janeiro, com data de 18 de dezembro, solicitando a soltura do pastor Jorge seja pelo fato da Procuradoria Geral da República ter determinado que volte para casa ou pelas razões de saúde.
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