LUCY: FAZ UM ANO QUE O FILHO FOI CONDENADO
Ana Maria Cemin – 13/09/2024
Em 14 de setembro do ano passado, Lucy Mathar assistiu ao julgamento de seu filho Thiago de Assis Mathar, 44 anos, quando foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, sem direito a recurso.
Essa mulher de 66 anos, mãe de três rapazes e casada com Ademir Nogueira Mathar, 67 anos, nunca esmoreceu. Ao contrário, ela visita a cada 15 dias o filho em Brasília, percorrendo 790 km em ônibus desde Votuporanga, SP.
“Eu fiquei assustada durante o julgamento, porque passaram os vídeos com o meu filho circulando dentro do Palácio do Planalto, mas em momento algum apareceu ele mexendo em alguma coisa. Ele é curioso e como as portas do Planalto estavam abertas ele achou que poderia entrar e andou muito lá dentro. No entanto, nenhuma digital dele foi apresentada como prova de que tenha tocado em algo. Inclusive ele estava sem carteira e celular, porque tinha deixado dentro do ônibus”, conta Lucy, referindo-se à sentença dada pelo Supremo, naquela tarde, de 14 anos de prisão.
Mathar foi acusado e condenado por Golpe de Estado, Abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Associação criminosa armada, Dano qualificado pela violência e grave ameaça e Deteriorização de patrimônio tombado.
21 MESES DE PRISÃO
Na véspera de 8 de janeiro, Mathar saiu de São José do Rio Preto, SP, onde mora com a esposa e dois filhos menores, em ônibus de Penápolis, SP, rumo a Brasília. Levou consigo uma mochila que continha biscoitos de água e sal, docinhos e uma garrafa de água. A mochila tinha ficado no ônibus quando foi até a Praça dos Três Poderes, de onde nunca mais voltou, e foi resgatada por um dos excursionistas e devolvida depois de algum tempo para a família.
Já são 21 meses de prisão desde então e a mãe de Thiago tem seguido a Brasília regulamente para poder estar com o filho por uma ou duas horas. Só no mês passado, o pai viu o filho pela primeira vez. Lucy conta que preparou o marido informando que veria o filho 24 quilos mais magro e com o cabelo muito curto.
“O Ademir estava muito preocupado com a saúde mental do nosso filho. Imaginava o encontrar transtornado, com algum problema gerado por tudo o que passou. Ficou contente de ver que ele está lúcido e quanto ao aspecto físico, até achou ele bem bonito mais magro”, relata a mãe, uma mulher forte e com uma postura muito positiva. Lucy não toma qualquer medicação para suportar esse momento e se apega na fé.
“O Thiago estava com muita expectativa de encontrar o pai depois de todo esse tempo e, inclusive, o Ademir demorou para ser liberado para a visita. Quando meu filho viu o pai foi muito emocionante, porque ele quase saiu correndo para se abraçar nele”, relata Lucy.
O pai de Mathar tem um Porto de Areia em Votuporanga, onde Thiago e o irmão mais novo trabalham. Inclusive Thiago passava a semana em Votuporanga e, aos finais de semana, voltava para casa para ficar com a esposa e filhos em São José do Rio Preto. A união da família Mathar é muito forte pela proximidade.
VISITAS A CADA 15 DIAS
A cada 15 dias, Lucy tem uma despesa superior a R$ 1.000,00 para se deslocar até Brasília. Só não é mais, porque ela é acolhida na casa da amiga Eliana Soares, que também assumiu o compromisso de revezar com ela as visitas a Thiago.
“As visitas são importantes não só pela presença física, mas também porque podemos entregar alguma comida, como pé de moleque, bolachas, batata palha e remédios. O Thiago não se adaptou à comida servida no Presídio Papuda, então o meu outro filho, que é médico, receita medicação para gastrite e, também, para sinusite. Precisamos entregar isso e algum alimento, porque tem dias que ele não consegue comer nada que vem na marmita. Ele diz que fica mexendo naquilo e não consegue se animar. É uma comida sem gosto e ruim”, diz a mãe.
DORMINDO NO CHÃO
Com o trânsito em julgado da sentença, em maio desse ano Thiago foi removido do CDP para o PDF2 do Complexo Papuda, onde começou a cumprir pena.
Ele está numa pequena cela junto com outros três patriotas: Aécio Lúcio Costa Pereira, 53 anos, condenado a 17 anos; Marcelo Cano, 38 anos, condenado a 16,5 anos; e Matheus Lima de Carvalho Lázaro, 25, condenado a 17 anos.
“Eles estão na cela 20 e não tem cama no local. Dormem no chão, num colchão muito fininho e, inclusive, meu filho dorme encostado no vaso sanitário. O lugar é tão pequeno que eles precisam organizar a forma como dormem para um não atrapalhar o outro. A cela é escura e acabei levando uma televisão para eles numa das minhas idas a Brasília de ônibus. Eles deixam a televisão ligada para iluminar o local, pois não tem outra forma”, conta Lucy.
O que deixa a mãe preocupada é a ociosidade, porque no CDP o Thiago trabalhava o dia inteiro e só entrava na cela para dormir. Hoje, os quatro saem da cela somente para o banho de sol a cada dois ou três dias. Passam o tempo todo confinados, sem atividade, nem mesmo leitura.
“Eles querem muito ler o livro O Cristão e a Política, escrito por Nikolas Ferreira. Ficaram sabendo lá dentro da existência desse livro. Quem sabe alguém leve até eles”, fala. Lucy paga cursos para o filho dentro do presídio, enquanto não surgem atividades laborais que ocupem o Thiago lá no cárcere.
MUITA ESPERANÇA
“O meu filho sempre foi muito calado. Quando era pequeno e ficava doente eu que tinha que descobrir, porque não reclamava. Ele sempre foi muito inteligente e educado, tanto que quando foi removido do CDP para o pavilhão onde se encontra agora o pessoal do pátio chorou. Ele é uma pessoa bem quista em todos os lugares onde passou e na família”, conta.
Lucy diz que toda vez que vai para Brasília o seu coração se alegra. Porém, quando volta a tristeza toma conta. “Eu queria trazer meu filho comigo. Ele me diz que não fez nada para merecer isso. Me diz que se conseguirem provar algo ele aceita ficar 24 anos lá dentro, mas ele sabe que nada fez e isso dói muito nele e em nós. Tem dias que eu acordo de noite ouvindo-o me chamar e meu coração só acalma na visita quando fico sabendo que está tudo bem com ele. Eu tenho muita esperança de que ele sairá logo do presídio, que a anistia sairá em breve”, conclui.
Mario
Essa mãe ainda tem onde achar esse filho agora a esposa é as filhas do Clezão nunca mais! Um dia a Mão de Deus fará o julgamento justo.
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