EU TEMO UMA ONDA DE SUICÍDIOS SEMELHANTE AO HOLOCAUSTO
Ana Maria Cemin – Jornalista
23/12/2023 – (54) 99133 7567
“Tomei para mim o compromisso de atender os presos políticos como uma questão de integridade. Essas pessoas passaram por traumas emocionais e psíquicos. Infelizmente, estamos num momento muito triste da nossa história”, declara o psicólogo, Otávio Augusto Cunha Di Lorenzo, de Ipatinga, MG.
Ele tem experiência em voluntariado e atende pacientes traumatizados com a Guerra na Ucrânia e atentado de Israel. Di Lorenzo também é pastor e talvez isso justifique o fato de ser um dos poucos psicólogos do Brasil a fazer um trabalho humanitário com os presos políticos.
Ele me conta que o Conselho Federal de Psicologia está aparelhado pelo PSol de longa data. As mesmas pessoas vão intercalando na direção da entidade há anos, inclusive utilizando recursos da entidade para viajar, bater fotos ao lado de Maduro e Hugo Chaves e publicar nas redes sociais como se fosse um grande feito.
ATENDIMENTO ON-LINE
Di Lorenzo atua com atendimento on-line e afirma que os resultados são os mesmos caso o paciente fosse até o seu consultório. A implementação dessa modalidade de atendimento havia ocorrido um pouco antes da pandemia, uma vez que o Brasil desenvolveu um programa piloto de atendimento à distância com brasileiros que estavam na Europa. Os resultados de recuperação dos pacientes, seja em atendimento on-line ou presencial, são exatamente os mesmos. Portanto, hoje praticam a psicologia por meio de videochamada com a certeza de resultados. A pandemia foi a alavancagem final para consolidar o atendimento on-line.
DIAGNÓSTICO
Para identificar o problema que abala o emocional dos pacientes são necessárias pelo menos oito sessões, ou cerca de dois a três meses. Di Lorenzo faz uma analogia sobre o diagnóstico: não se trata de fazer uma foto das pessoas, mas de ver o seu próprio filme se desenvolvendo a cada sessão. “A gente vê a sementinha germinar”, diz ele.
“No caso específico do adoecimento dos presos políticos, nós podemos partir das péssimas condições a que foram submetidos em sua prisão, relatadas nas sessões. Eles demonstram ter um sentimento de injustiça e muitos deles têm idade avançada e têm a perspectiva de morrer dentro da cadeia. Sentem medo, tristeza por não poder ver o neto crescer, por não estar junto ao seu filho”, relata.
ONDA DE SUICÍDIOS
De acordo com Di Lorenzo, esse estado de ânimo pode ser profundamente abalado com uma notícia ruim. Uma condenação, a certeza de voltar ao presídio para aqueles que estão com tornozeleira ou ainda na prisão, é uma tortura. Eles sabem que não se trata de justiça, se trata de vingança do Estado Brasileiro e muitas dessas pessoas não têm idade para suportar.
“No final do Holocausto a humanidade viveu uma onda de suicídios. Isso porque os judeus presos sempre tinham uma esperança de tudo aquilo acabar. Vai ser no Natal…no Ano Novo. E tais esperanças foram minando a fé. Logo muitos preferiram morrer a continuar naquela situação. O meu maior receio é que pais e avós comecem a tirar as suas próprias vidas aqui no Brasil”, conclui.
REVENDO A HISTÓRIA
“Quem tem memória lembrará do Movimento Sem-Terra, cujos integrantes quebraram por diversas vezes os palácios e prédios públicos. Nada aconteceu com eles. Essa dualidade na forma do Estado Brasileiro tratar as situações semelhantes passa a ideia de que o MST pode quebrar tudo o que quiser, em qualquer lugar do Brasil, e nada acontecerá, mas fazer um protesto contra o presidente atual gera encarceramento. Essa dualidade cria instabilidade emocional.
Di Lorenzo menciona ainda que acompanhou uma matéria jornalística que narrou uma visita do ministro Alexandre de Moraes ao presídio em Brasília. A matéria relata que o Ministro havia dito aos detidos que tudo aquilo não era uma vingança e, sim, justiça. Vale também a lembrança de que a matéria afirmou que as detentas visitadas pelo ministro estiveram sobre a mira de metralhadoras em todo o tempo. Alguns psicólogos talvez diriam que a fala de Moraes poderia ser um ato falho, o que traria um sentido sim de vingança a essa colocação do mesmo, muito parecido com a fala do presidente Lula que foi amplamente divulgada em vídeo, quando disse que só ficaria em paz quando “Fudesse esse Moro”!
TRAUMA
“Sempre que se fala em trauma, a abordagem é muito individual dentro da Psicologia. Uma pessoa que passa por essa experiência pode ter uma interpretação e outra pessoa que passa pela mesma situação terá outra forma de lidar com isso.
Porém, quando a gente olha para essa demanda de presos políticos, dentro do contexto específico em que acontece no Brasil em 2023, a gente consegue perceber que deixará marcas profundas das quais essas pessoas não sairão facilmente.
Voltando um pouco na história, lembro que o Governo Brasileiro premiou com aposentadorias pessoas que supostamente tinham sido perseguidas no Regime Militar. Eu acredito que essas pessoas que estão presas hoje têm perfil, sim, de receber uma pensão para cuidar de sua saúde mental.
Porém, o momento atual é de fazer um esforço para que essas pessoas não atentem contra as suas próprias vidas. O ideal é que todas elas estivessem em tratamento e em casa aguardando o seu processo no seio da família, o que reduziria o impacto sobre a sua saúde física e mental.
SENTIMENTO DE BRASILEIRO
Como brasileiro não sinto que tenho segurança jurídica verdadeira para dizer o que realmente penso e para dizer com todas as letras a verdade dos fatos de tudo que está acontecendo. Entretanto, alguns talvez poderiam dizer que o que está acontecendo é um ato de vingança, em que a Constituição Federal é rasgada manchando assim nossa história. Sou filho de um juiz de direito, e em toda a minha vida nunca vi um juiz tão empenhado e rigoroso contra donas de casa, avôs, papais e mamães, e até mesmo contra um menino autista que estava preso até pouco tempo.
Que risco essas pessoas representam para os três poderes da República ou para a sociedade? Hoje, quando observo tudo isso, penso que nosso maior risco é a corrupção que retornou avassaladoramente aos prédios públicos de Brasília.
José Vacir Cogo
Prezado Dr Otávio, fico feliz de saber que o senhor é um instrumento do bem, como foi o seu pai Dr Márcio, pessoa devotada ao bem.
Grande abraço.
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