Desde os 18 anos junto com o marido. O que fazer sem o Aécio?

Por Ana Maria Cemin – Jornalista

Lucinéia tem 40 anos e desde 2001 conhece o primeiro preso político condenado pelo Supremo Tribunal Federal.  Aécio Lúcio Costa Pereira, de 51 anos, cumprirá pena de 17 anos, sendo 15,5 em regime fechado. Ele foi condenado por associação criminosa armada (ele não tinha arma, nem estava com uma), dano qualificado ao patrimônio (em nenhum momento dos vídeos apresentado no julgamento Aécio estava quebrando algo no plenário do Senado), tentativa de golpe de Estado (Aécio não participa de nenhum grupo armado ou coisa do gênero) e abolição do Estado Democrático de Direito (o movimento de rua do qual participava é garantido pela Constituição Federal). Aécio foi condenado, ainda, a pagar 100 dias/multa de 1/3 do salário-mínimo, além de compartilhar uma multa e indenização coletiva de R$ 30 milhões.

Depois de quatro anos de namoro, Lucinéia e Aécio se casaram e constituíram família, com os filhos Gustavo (17 anos) e Gabriel (9 anos) sendo o centro das atenções da esposa. O marido ingressou cedo na Sabesp, ainda aos 23 anos, então a vida familiar e profissional estavam estruturadas e sobrava energia para o provedor ainda atuar como síndico no condomínio onde residem. Permaneceu síndico nos últimos oito anos e entregou com caixa superior a R$ 60 mil.

Os finais de semana do casal eram reservados para ir à igreja, passear e conviver em família. E tudo isso continuaria sendo dessa forma se não fosse a decisão da família de voltar antes da viagem que fazia a Ubatuba, SP. Lucinéia me conta que chovia muito no litoral e os dois decidiram antecipar a volta para casa, em Diadema, SP, em dois dias. No caminho, Aécio recebeu um convite, via WhatsApp, para ir a Brasília numa manifestação pacífica e ordeira, a qual ele estava acostumado em São Paulo, realizado em frente ao quartel, para onde ele ia com alguma frequência junto com a sua mãe Maria Edna, 72 anos. Lucinéia não gostava muito de ir, mas a sogra conhecia todos os hinos e adorava ser puxadora da cantoria.

O marido foi para Brasília, mas não com conhecidos. Era um ônibus que saiu do Ibirapuera e, a princípio, ele iria ficar na casa de uma tia em Brasília, mas como o ambiente no QG da capital federal era propício para acampamento e tudo foi se ajeitando, ele ajudou a montar uma barraca e ficou por lá. No dia seguinte, a multidão seguiu para a Praça dos Três Poderes para uma manifestação pacífica e ordeira, a exemplo do que ocorreu nos 70 dias anteriores em todo o Brasil. Era o 8 de janeiro de 2023, um dia que marcou a história do conservadorismo nacional.

O QUE FAZER AGORA?

Há três meses Lucinéia começou um estágio, porque sabe que não pode mais contar com o Aécio, o único provedor do lar. Ele foi demitido ainda no dia 11 de janeiro pela Sabesp, depois de trabalhar 28 anos na casa. Não recebeu indenização, apenas veio uma carta informando a justa causa. O marido estava dentro do Senado fazendo vídeos, não tem redes sociais, mas enviou os vídeos para o grupo da família e mais alguns via WhatsApp e alguém fez questão de encaminhar a denúncia para a Polícia Federal. Eram vídeos pessoais e não públicos, feitos para consumo interno e num tom satírico como ele era acostumado a fazer. Foram usados no julgamento para “provar” que ele incitava o ódio e que tentava um “golpe” de Estado. A Sabesp entendeu que sim, ele estava incitando, e todos os anos de trabalho sério e dedicação foram desconsiderados. Formado em Ciências da Computação, Aécio ocupava a função de Técnico de Sistema de Saneamento.

Lucinéia concluirá o curso superior em Administração de Empresas em dezembro, então ela acredita que terá novas perspectivas a partir daí. O filho mais velho, o Gustavo, também ingressará no mercado de trabalho. “O Gustavo sabe a índole boa que o pai dele tem, sempre educou no caminho do bem, ele sabe que o pai é honesto e, desde janeiro meu filho ocupa a sua mente trabalhando com o tio”, me fala a esposa. Ela me diz que desde o dia que Aécio foi preso em Brasília, eles se comunicam por recados, por meio dos advogados.

“O que resta para mim, é a fé em Deus, em primeiro lugar. Em segundo, o fato do próprio Aécio nos ajudar a manter a calma, mesmo ele vivendo nas condições em que vive, com uma comida de péssima qualidade. Ele continua forte, firme e brincalhão. Ganhou uma Bíblia lá dentro e isso o ajuda a se manter de pé!”, revela.

Conversar com uma mulher que sente essa dor de ter o marido condenado por crimes que não cometeu é difícil. É claro que em dado momento as lágrimas surgiram e a voz calou. Como jornalista eu sinto em meu coração também, mas eu continuo a escrever porque eu acredito que a história do Aécio, do ser humano Aécio, precisa ser contada. E Lucinéia tem uma alma tão doce e equilibrada que me surpreende: “a dor que sinto não se compara com a da minha sogra”, me diz, como quem se determinou a ficar forte para ajudar a todos que estão ao redor e que sofrem pela injustiça feita com um cidadão brasileiro que nada fez para receber do Estado tamanho castigo.

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