Ana Maria Cemin – 06/09/2024
O desabafo é Maria Luzimar de Souza Rosa, 58 anos, que nesta manhã (06/09) recebeu a triste notícia da prisão de sua filha e que ela passará a cumprir a pena de 14 anos no Presídio Colmeia, em Brasília.
Luzimar é mãe de Ana Flávia de Souza Rosa, 36 anos, que tem dois filhos, um de 7 anos e uma moça de 19 anos, e também é bisavó de um bebê, neto de Ana.
Além de Ana Flávia, a Dona Luzimar tem mais seis filhos, cinco deles adotados. Em meio da tristeza de saber que sua filha está presa e que terá que cuidar do neto pequeno, já que sua mãe está no presídio, ela conta quem é Ana Flávia, uma líder comunitária desde 2014 no Bairro Santa Luzia, da Cidade Estrutural, DF.
“Ela é coordenadora voluntária da Creche Vovó Luzimar, que abriga 60 crianças. Nem todos os pais podem pagar a taxa para manutenção, mas ela acolhia a todos”, diz a mãe, que é bispa na Igreja Assembleia de Deus Ressurreição de Cristo, onde Ana é pastora.
PRISÃO ANUNCIADA
“Desde maio o Gabinete do Ministro Alexandre de Moraes expediu mandado de prisão da minha filha. Por ela ter estado na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro foi condenada a 14 anos de prisão. Eu recomendei que ela não saísse do Brasil que pagasse o que ela não deve, porque ela não cometeu nenhum dos crimes atribuídos a ela”, relata a mãe, visivelmente abalada.
Dona Luzimar se refere aos crimes atribuídos aos presos políticos que se refugiaram dentro dos prédios para fugir das bombas e tiros com bala de borracha no dia 8 de janeiro. Ou seja, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e ação criminosa armada. Ana estava dentro do plenário do Senado quando ela e outras 37 pessoas foram presas (duas delas, inclusive já faleceram – Clezão e Eder).
A prisão de Ana Flávia ocorreu dentro do CIME, quando ela foi verificar o problema de sua tornozeleira eletrônica, que parou de funcionar às 16 horas da tarde de quinta-feira, dia 5 de setembro.
DEPOIMENTO DE ANA, ANTES DE SER PRESA
“Eu renunciei a tudo para passar 70 dias acampada no QG aqui de Brasília, porque eu queria transparência do meu voto. Eu achava que podia exigir essa resposta, até porque havia uma cobrança dos códigos fontes pelas Forças Armadas.
No dia 8 de janeiro, quando chamaram para a descida eu já sabia que seria uma cilada, porque eu sou moradora do DF e sei como funciona aqui; só não imaginei a proporção. Tanto que desci mais tarde do que a maioria das pessoas que estavam no QG, que desceu por volta do meio-dia. Pela manhã, eu recebi as fotos da Força Nacional chegando em Brasília, então eu pensei que isso não aconteceria à toa. Pensei que poderia ter um embate entre os manifestantes e a polícia, como a gente viu em outras manifestações, mas não na proporção que foi, de ter a Federal, BOPE, Choque, Civil e Militar funcionando em conjunto, de forma interligada, o que mostrou estarem todos preparados, como se tivesse uma orquestra preparada há meses para atuar.
Uma situação como aquela não foi preparada de um dia para o outro. Eu, por exemplo, fui presa pela Polícia Legislativa e todo tipo de polícia estava envolvida. Reconheço que desci para a praça de teimosa, porque eu e minha colega fomos conversando sobre a cilada que nos aguardava lá embaixo, mas alguns amigos muito próximos já tinham descido e a gente queria saber como é que eles estavam.”
Segue abaixo a entrevista completa com a Ana Flávia antes de ser recolhida ao Presídio Colmeia nesse mês de setembro de 2024.