Ana Maria Cemin – 23/08/2024
Essa é a história do bebê Arthur e seus pais.
A emoção transborda quando a jovem esposa e mãe Kimberly Furtado Lázaro, 22 anos, fala de seu marido preso no Papuda, Brasília, desde 8 de janeiro do ano passado. Mais uma vez, nessa semana, ela se deslocou com o filho de 1 anos e dois meses para visitar Matheus Lima de Carvalho Lázaro, 25 anos, no presídio, onde ele se encontra cumprindo a pena de 17 anos, definida em sessão virtual pelo Supremo Tribunal Federal.
Mesmo com Matheus preso há 20 meses, a família não recebe auxílio-reclusão, embora Kimberly tenha entrado três vezes com o pedido para receber essa ajuda, uma vez que ela é a única fonte de renda para manter a casa, o filho e ainda faz o sacrifício de se deslocar do Paraná até Brasília para levar algum conforto ao marido.
A passagem de ida e volta dessa semana custou R$ 740,00 e ela trabalha como caixa de uma loja na sua cidade. Não recebe muito. E ainda: como ela tem essas viagens a cada dois meses para ver o marido, onde fica pelo menos cinco dias para conseguir usufruir do direito da visita do filho e uma segunda visita na sequência, os patrões fizeram um acordo para descontar os dias não trabalhados e manter o seu emprego.
Quando chega em Brasília, ela e o filho são acolhidos por um casal que gentilmente os buscam de carro, cedem quarto em sua casa e os convidam para fazer todas as refeições. Isso sem qualquer custo, vindo de forma espontânea. Essa caridade permite que a jovem esposa possa levar um pouco de conforto ao Matheus pelo menos a cada dois meses em visitas de duas horas no Papuda.
“Comecei a visitar o meu marido depois de nove meses dele preso e eu vinha para Brasília a cada 30 dias porque sentia que o Matheus estava muito mal, misturado com os presos comuns. Mas desde que outros presos políticos foram transferidos para o mesmo prédio (Aécio Lúcio Costa Pereira e Thiago de Assis Mathar), para cumprir pena como ele, já não se sente tão só”, conta a jovem. Ela agora procura ir a cada dois meses, devido aos custos que isso representa.
“Em algumas visitas ele está muito falante e percebo que evita tocar em situações difíceis para não me preocupar, como a alimentação de péssima qualidade, por exemplo. Mas nessa visita, ele parecia muito triste e me disse que ele quer voltar para casa, quer ficar junto com o nosso filho que tanto planejamos ter”, relata, emocionada e se sentindo impotente.
Mesmo tão jovem, Kimberly consegue equilibrar tudo com uma maestria surpreendente, tanto é que a cada visita ela mensura o nível de carência do marido para programar o retorno. “Eu estive aqui em Brasília em 22 de julho, e como ele chorou muito então eu fiz um esforço para visitar também em agosto. Eu sei o quanto dói ele estar preso por algo que ele não cometeu”, informa.
Nessa ida, Kimberly programou estar com Matheus em dois momentos como sempre: na visita das crianças e na visita comum. Porém, o sistema carcerário não avisou que a data tinha mudado e ela chegou do Paraná em 19 de agosto e foi até o Papuda com o filho, e mesmo implorando aos prantos os policiais não permitiram que o filho visse os pais. Motivo: a determinação era de dividir as visitas das crianças em dois dias e o dia dos filhos para Matheus seria apenas na semana seguinte. Sendo assim, somente em outubro o preso político poderá abraçar o filho.
Pensando no futuro próximo, dentro do cenário atual, a expectativa do casal é de conseguir uma transferência de Matheus para algum presídio do Paraná, tanto para ficar próximo da família quanto para que ele possa ser beneficiado com o direito de trabalhar dentro do sistema carcerário. No Papuda, embora tenha tentado se “classificar” para o trabalho, até o momento não obteve êxito.
Matheus foi o 3º preso político condenado na recente história do Brasil, por ter estado na capital federal em 8 de janeiro, e ter entrado no prédio do Congresso Federal. O laudo do próprio celular de Matheus comprova que ele esteve dentro do prédio por menos de 5 minutos, conforme explicou a advogada que o defende Larissa Cláudia Lopes Araújo. Porém, esses poucos minutos farão com que continue preso, situação em que se encontra desde 8 janeiro de 2023. A pena é de 17 anos. Kimberly ficou nove meses sem ver o marido e na época estava no início da gravidez. Somente em outubro do ano passado ela conseguiu visitar o marido no presídio Papuda e apresentar o filho.
Você pode ser mais sobre o Matheus e sua família em outras duas matérias:
Quanta tristeza esses jovens estão enfrentando.
Falhamos muito ao longo dos anos para chegar neste momento e entregar esse tipo de sociedade cruel à juventude!
Que vergonha!!!