Ana Maria Cemin – Jornalista
22/01/2024 – (54) 99133 7567
Hoje é 22 de janeiro de 2024, e ninguém ouviu falar nos veículos de Comunicação Social sobre os 11 advogados presos no dia 8 de janeiro de 2023, muito menos que ficaram recolhidos em presídios e, depois, no Quartel do 19º BPM no Núcleo de Custódia da Polícia Militar do Distrito Federal (NCPM-DF) onde ficaram meses.
Durante o período em que permaneceram presos, o único político a visitar esses profissionais foi o deputado federal Cabo Gilberto Silva (PL-PB). Eles recebiam os seus advogados e falavam com as famílias por videoconferência. Estavam presos e poucos se interessaram por eles. Ficaram esquecidos.
Os 11 passaram pelo mesmo dilema em janeiro do ano passado: foram levados do QG de Brasília para o Ginásio da Polícia Federal no dia 9 de janeiro; recolhidos aos presídios, onde permaneceram sem comunicação com o mundo exterior, sem roupa adequada e alimentação ruim.
A Ordem dos Advogados do Brasil, como a maioria dos políticos, não compareceu no local, apenas solicitou a transferência deles dos presídios de Brasília para o 19º BPM e nada mais, conforme relato da Dra. Edith Christina Medeiros Freire, de João Pessoa, PB. O silêncio da OAB fez com que nada fosse propagado e perdura dessa forma até hoje.
A Dra. Christina, como prefere ser chamada, saiu do cárcere depois de 117 dias presa, no mesmo dia que Dr. Thiago Queiroz, de Patos de Minas, MG; e Dr. Tulio Rios Carvalho, São João Del Rey, MG. Ficou para trás, na ocasião, a Dra. Nara Faustino, de Ribeirão Preto, SP, que foi a última dos 11 a voltar para casa. Antes do retorno, porém, todos passaram pelo Centro Integrado de Monitoramento Eletrônico (CIME) para colocar a tornozeleira eletrônica.
Todos os advogados usam tornozeleira eletrônica e seguem as medidas cautelares, enquanto aguardam a decisão do Supremo Tribunal Federal quanto aos seus destinos. Durante a prisão, a Dra. Nara perdeu o pai e não foi autorizada a comparecer ao velório e enterro. “Ela entrou numa crise muito difícil de segurar”, relata a Dra. Christina.
Além dos citados, também foram presos o Dr. Antonio Valdemir Caliare, de Juína, MT; Dr. Luís Carlos de Carvalho Fonseca, de Salvador, BA; Dra. Marizeli Rigoni, Pato Branco, PR; Dr. Milton Alves Cardoso Júnior, Curitiba, PR; Dr. Paulo Henrique Gomes Gontijo, de Divinópolis, MG; Dra. Rosa Maria Pinto Wanderley, de Presidente Prudente, SP; Dr. Sílvio da Rocha Silveira, de Santa Maria, RS.
MASMORRA SEMPRE MOLHADA
Cada pessoa que fez parte da “tragédia democrática” de 8 de janeiro tem um olhar único, porém nesse caso a narrativa da Dra. Christina, que foi a primeira a chegar no 19º BPM, no dia 13 de janeiro, pode dar o tom do vivido pelos 11 advogados. Quando saiu do Colmeia estava há quatro dias sem se alimentar e no batalhão voltou a ser tratada como um ser humano.
“Ao descer da parte traseira da viatura que me levou do presídio para o batalhão, de cabeça baixa e com as mãos para trás, como nos era exigido fazer no presídio Colmeia, um policial de imediato disse que ali não existia isso, que eu levantasse a minha cabeça e soltasse as mãos”, diz ela. Nos dias subsequentes foram chegando os outros advogados presos na mesma situação, nos presídios de Brasília.
A advogada descreve o local onde ficou trancada no Colmeia:
“Para a minha surpresa, eu fui levada para um local que parecia mais uma masmorra, pois a cela não tinha energia, o vaso sanitário era rente ao chão, fedia a mofo e entrava água na cela quando chovia e ficava empossada por falta de escoamento. As chuvas foram frequentes em janeiro, então nunca estava seca. Ela está localizada em um local (descobri depois) que era a antiga solitária do presídio, desativada há mais de 3 anos. Por diversas vezes eu gritei para que alguma agente penitenciária entrasse em contato com a Comissão de Prerrogativas da OAB do DF ou Conselho Federal da OAB, mas por ser um subsolo do presídio era quase impossível ser ouvida pelas agentes. Quando estas vinham até nós, era para nos humilhar e gritar conosco”.
Ela diz que de tanto insistir com as agentes para que entrassem em contato com a Comissão de Prerrogativas da OAB, no terceiro dia de prisão, no meio da tarde, um rapaz do setor jurídico do presidio a procurou na cela e informou que a OAB tinha conhecimento da sua presença no Colmeia e que a sua transferência para um quartel estava em andamento, o que a deixou um pouco mais tranquila.
SOBRE NÃO COMER POR SER IMPOSSÍVEL
Os advogados dizem que não era possível comer a “quetinha” e o melhor era passar fome. “Uma agente trouxe comida por volta das 16h: uma quentinha, uma banana e um suco de caixinha. Como estava com muita fome, com mais de 72 horas sem me alimentar, abri a quentinha e, de imediato, subiu o odor forte de comida azeda. Me neguei a comer! A banana estava podre, então o que me restou foi tomar apenas o suco”, descreve a advogada.
VOCÊ PODE LER UMA MATÉRIA QUE DESCREVE MUITO BEM A VIVÊNCIA DA ADVOGADA NO QG, NO GINÁSIO DA PF E NO PRESÍDIO CLICANDO AQUI:
Que tristeza
Sem palavras, só me resta chorar…
Não tenho palavras, só me resta orar e chorar…
Deus tenha misericórdia de todos!
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