
Ana Maria Cemin – 20/10/2025
Morador de Joinville, SC, o motorista de caminhão Wesdra Mazzega foi preso quando fazia uma viagem de trabalho para o Nordeste. Isso porque em junho de 2025, após a tornozeleira eletrônica perder comunicação, ele foi considerado em “local incerto e não sabido” e o ministro Alexandre de Moraes decretou a sua prisão preventiva. A ordem foi cumprida em setembro, e desde então, Wesdra, um manifestante do 8 de janeiro, está novamente encarcerado.
A defesa de Wesdra argumentou nos autos que ele reúne condições para cumprir a pena em regime aberto, mas a Procuradoria-Geral da República se manifestou contra a revogação da prisão. Mais recentente, 15 de outubro, foi enviada para a Bahia a decisão de Moraes de cumprimento de pena em semiaberto. O acórdão condenatório foi publicado nessa data, tornando a decisão definitiva: ele foi condenado a 2 anos e 5 meses de prisão em regime semiaberto, por associação criminosa e incitação à animosidade das Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais.
A história do casal Wesdra e Julaia Mazzega é um retrato doloroso das consequências que se abateram sobre mais de duas mil pessoas após o 8 de janeiro de 2023. Como os processos continuam surgindo no pós 8 de janeiro, esse número deve estar próximo ou superar os 3 mil perseguidos pelo Estado Brasileiro.
O casal de Santa Catarina tem dois filhos, um deles é menor. Tanto a esposa quanto o marido são caminhoneiros por profissão e amazonenses de origem. No início de 2023, quando os dois foram a Brasília participar da manifestação, Wesdra foi preso no acampamento e, após 80 dias no Presídio da Papuda, recebeu liberdade provisória em março de 2023, por decisão de Moraes. Julaia também foi presa e passou 55 dias no Presídio Colmeia, mas optou por fazer o Acordo de Não Persecução Penal.
No entanto, a liberdade deles após a prisão foi condicionada ao cumprimento de um pacote de medidas cautelares severas: tornozeleira eletrônica com zona de inclusão restrita, recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana, proibição de sair do país, cancelamento de passaportes e porte de arma, além da proibição de uso de redes sociais e contato com outros investigados. E isso se arrastou até hoje, tornando a vida dessas pessoas inviável.
UMA FAMÍLIA EM RUÍNAS
Hoje, Julaia faz corridas por aplicativo para sustentar o lar. Em 2023, quando entrevistei o casal, ela contou que a filha adolescente tinha saído de casa, alegando vergonha dos pais, e o filho menor enfrentava problemas psicológicos. Naquela época, a geladeira estava vazia e os remédios na estante revelavam a situação em que se encontravam. Quando Wesdra foi preso por estar acampado, perdeu 28 kg no Presídio Papuda. Na época, relatou alucinações, isolamento e ameaças de morte por agentes penitenciários. “Sinto cheiro de carne podre no meu corpo e gosto de sangue na garganta”, contou, naquela ocasião. “Vi coisas que nunca imaginei. A prisão revela o lado mais cruel do ser humano”, disse Wesdra.
Para amenizar tanta dor emocional, foi preciso atendimento psicológico e psiquiátrico, mas o casal enfrentou a dificuldade de acesso pelo SUS. Enquanto outros réus que estavam no mesmo acampamento sequer receberam pena de cárcere, Wesdra segue preso.
Fiz uma matéria com mais informações no final de 2023, quando a família enfrentava grandes dificuldades após o ocorrido em 8 de janeiro. Se você ler, entenderá como vivem milhares depois do ocorrido em Brasília. É uma calamidade humanitária.
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