Ana Maria Cemin – Jornalista – 05/06/2024
O desespero fez com que Alexandra Aparecida Perdiza, 54 anos, acompanhasse o seu filho em fuga do município de Várzea Grande, MT, para a Argentina no dia 23 de maio desse ano. O seu único filho vivo (o outro morreu queimado no trabalho) chama-se Juvenal Alves Correa de Albuquerque, 32 anos, e ele esteve em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 para uma manifestação pacífica e ordeira. Na capital federal, foi preso dentro de um prédio da República e saiu somente em 16 de dezembro com uma tornozeleira eletrônica, em liberdade provisória. Nesse ano, foi condenado a 16 anos e seis meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Juvenal dirigia o carro durante a tentativa de sair do Brasil e, numa ultrapassagem irregular, mãe e filho foram parados pela Polícia Rodoviária. Alexandra confessou que estava levando o filho para o país vizinho para que não voltasse ao presidio. No mesmo dia ocorreu a prisão, mesmo cabendo mais um recurso à sentença.
“Meu filho fico preso praticamente todo o ano de 2023 no Presidio Papuda, em Brasília, junto com patriotas. Inclusive estava presente no momento da morte do Clériston Pereira da Cunha (Clezão) no pátio do presídio. Ele me disse que se votasse para o presídio ele morreria, que não aguentaria”, diz a mãe aflita.
Alexandra conta que percorreram cerca de 1.100 km entre Várzea Grande, MT, e Naviraí, MS, onde ocorreu a prisão do filho. Atualmente, ele se encontra na Penitenciária de Segurança Máxima de Naviraí onde passa frio e outras necessidades. “Preciso de ajuda para encontrar alguém que leve agasalhos, colchão, cobertas e alguma comida para o meu filho. Ele está lá dentro em condições precárias”, apela a mãe.
VÍDEO QUE COMPROVA SER UM MANIFESTANTE PACÍFICO
Juvenal é eletricista e tinha vários clientes na cidade. De acordo com a mãe, um vídeo que Juvenal gravou dentro do prédio em Brasília mostra que ele não quebrou nada, que ele oferecia garrafa de água para os policiais. Ou seja, a sua atitude não era a de um vândalo. Porém, o celular dele só foi devolvido em janeiro e estas imagens não puderam ser utilizadas pela defesa.
“Tem um outro vídeo em que ele diz, no auge da emoção, que tinham invadido o prédio, como se isso fosse uma conquista do povo. Mas ele não falou em momento algum em quebrar algo. Ele foi para Brasília em seu próprio carro, dormiu no QG de Brasília de 7 para 8 de janeiro, e desceu para a Praça dos Três Poderes por volta das 14 horas. Quando ele chegou no local, as depredações já tinham ocorrido. Não podem atribuir ao meu filho algo que ele não fez. É preciso provas para incriminar e condenar alguém a 16,5 anos”, enfatiza.
POSIÇÃO DA ADVOGADA
“O vídeo feito pelo Juvenal dentro do prédio, com atitudes pacíficas, oferecendo garrafas de água, pode amenizar a situação dele. Porém, eu não farei mais embargo algum. Nós estamos cientes de que a Polícia Federal, ao analisar os conteúdos do celular do Juvenal, extraiu apenas o que poderia prejudicar ele e não trouxe nenhum conteúdo que o beneficiasse no processo. Nesse momento, estou preparando um habeas corpus para que o STF tenha conhecimento desse vídeo. É uma forma de tentar anular a sentença e reabrir a instrução criminal. São poucas as chances, mas farei. Após isso, deixarei transitar em julgado a sentença e farei uma revisão criminal. Tudo o que está ao meu alcance está sendo feito, dentro daquilo que entendo que pode ser feito neste momento. É um fio de esperança para uma família angustiada”, diz a advogada Taniéli Telles de Camargo Padoan.