Ana Maria Cemin – Jornalista – 20/06/2024
O major Cláudio Mendes dos Santos, 51 anos, está preso no Complexo Penitenciário Papuda, no 19º BPM, desde que foi abordado pela Polícia Federal, quando ele estava no Posto Na Hora, no Riacho Fundo, DF. Isso foi às 10 horas de 23.03.2023 e, desde então, a defesa encaminhou cinco pedidos de revogação da prisão preventiva para que o major responda a ação penal em liberdade provisória, com uso de tornozeleira eletrônica.
No último pedido de revogação de prisão, de 23.04.2024, foi pleiteada a extensão da decisão do STF que concedeu liberdade provisória aos coronéis Klepter Rosa Gonçalves, Fábio Augusto Vieira e Paulo José Ferreira da Silva. Assim como o major Cláudio, os três são policiais militares e respondem por ações penais pelo 8 de janeiro, mas estão em casa. O ministro Alexandre de Moraes negou o pedido.
“… a prisão do réu foi decretada em decorrência dos indícios significativos de que sua liberdade representa grave comprometimento da ordem pública, eis que o suposto êxito na empreitada criminosa foi favorecido pela atuação do representado que, efetivamente, instigou a participação de terceiros, mediante declarações em frente ao Quartel General do Exército Brasileiro, em Brasília/DF, além de coordenar a arrecadação de dinheiro para utilização na execução de um golpe de Estado”, justifica a negativa, no documento que consta nos autos.
NEM MESMO EM BRASÍLIA O MAJOR ESTAVA
A Dra. Valquíria Durães, que defende o militar, informa que o major Cláudio desfrutava de férias em Curitiba, PR, no período de 2 de janeiro a 11 de março de 2023, com a esposa Adriana Mendes dos Santos, 44 anos. Farta documentação foi juntada pela defesa para comprovar a viagem, como passagens áreas do oficial da reserva e esposa.
“Não faz sentido manter o major Cláudio preso. Está no cárcere há 16 meses, sendo que somente em março desse ano a Procuradoria Geral da República ofereceu denúncia. Nós entendemos que, assim como os demais oficiais de alto escalão da polícia militar saíram do cárcere, também o major pode responder em liberdade provisória”, defende a Dra. Valquíria.
“A esposa do major luta contra um câncer e a sogra apresenta um tumor no cérebro, sendo que ambas estavam sob seus cuidados antes de ser preso. A presença dele junto à família nesse momento é fundamental”, informa a advogada.
AINDA TEM UM OFICIAL PRESO
“Acompanhei na imprensa e nas mídias sociais a declaração do ministro Moraes de que não há mais nenhum oficial preso pelo 8 de janeiro. Mas tem, sim. O major está reformado há pouco mais de dois anos e meio e não pode ser esquecido dentro do presídio”, comenta a defensora. E continua: “No QG de Brasília, ele costumava se manifestar no caminhão do som. Era ele quem chamava o pessoal. Porém, em relação a ir para a Esplanada, ele nunca foi a favor. Outro fato importante, é que sua mudança após o Bolsonaro pegar o avião e ir embora para os Estados Unidos no final de 2022. O meu cliente desistiu de tudo e organizou as férias com a esposa para o início do ano em Curitiba. Fato que aconteceu”, narra.
A advogada diz que a prisão do major ocorreu após uma denúncia de que ele supostamente teria treinado as pessoas no QG para a guerrilha. “Como é que alguém treina pessoas para guerrilha em frente ao próprio quartel, como se não tivesse ninguém vendo? É uma acusação descabida. E outra coisa, a maioria das pessoas que foram presas no 8 de janeiro chegou em Brasília no dia 7 ou 8 de janeiro, além de algumas que chegaram na manhã do dia 9. O major nem mesmo estava em Brasília para treiná-las. Essas acusações não se sustentam”, conclui.
ARRECADAÇÃO DE PIX QUE NUNCA EXISTIU
Outra acusação que recai sobre o major é de arrecadação de valores de PIX na conta da esposa, fato que não pode ser comprovado, uma vez que os extratos bancários do casal foram juntados ao processo e nada consta neles. “Nunca entrou nenhum valor na minha conta, diferente do que está sendo dito em alguns veículos de comunicação”, diz a esposa Adriana.
“O meu marido emagreceu 20kg nesse período de prisão e encontra-se depressivo. Eu não sei mais o que fazer para ajudar, porque ele estava no QG de Brasília cumprindo com o seu papel de pastor, com cultos nos horários das 9h, 15h e 19h. Cláudio está sendo acusado de algo que não fez e isso tem deixado a gente doente”, desabafa.
O câncer de tireoide de Adriana, que estava evoluindo bem ao tratamento, passou a piorar muito após a sua casa invadida pela Polícia Federal em março do ano passado, no mesmo dia em que o marido foi preso enquanto buscava seu passaporte no Posto Na Hora.