Socorro! Vão matar o Claudinei!
Ana Maria Cemin – Jornalista
19/12/2023 – (54) 9 9133 7567
Conforme informações da ASFAV, Claudinei foi internado na tarde de hoje, 19 de dezembro, na Ala de Tratamento Psiquiátrico (ATP) do Distrito Federal. A ATP funciona na Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF), conhecida como Colmeia. Ele nunca tomou medicação para depressão e tentou suicídio no último dia 9.
O título da matéria é o clamor de Priscila Kellen Oliveira, 33 anos, moradora de Vespasiano, MG, na tarde de hoje, dia 19 de dezembro. O desespero aparece logo no início de nossa conversa sobre a situação do marido preso desde 8 de janeiro. Me conta que no dia 9 de dezembro, Claudinei Pego da Silva, 43 anos, tentou suicídio dentro do Presídio Papuda, por não resistir mais a uma interminável prisão e acusações de que ele é um golpista extremista, sendo que sua participação em Brasilia se resumiu a uma manifestação pacífica e ordeira. “Ele não quebrou nada. Foi apenas participar como sempre fez aqui em Minas Gerais. Nada mais!”, fala angustiada.
A tentativa de suicídio ocorreu por volta das 10h40, após ele ser transferido para uma área isolada do presídio, chamada “corró”. Conforme a esposa, ele colocou a camiseta ao redor do pescoço e armou uma forca improvisada, mas foi impedido por um policial que conseguiu abrir a porta a tempo, diante dos gritos de outra policial que não estava conseguindo socorrer sozinha.
“Meu marido está perturbado, não está bem, está tomando remédio controlado por causa de uma profunda depressão que adquiriu lá dentro. Ele entrou no presídio com 115 kg e estava fazendo uma dieta em função de tratamento de obesidade. Mas lá dentro, ele perdeu 42 kg de uma forma que não é normal”, relata Priscila.
FAMÍLIA DESESTRUTURADA
O casal tem um filho chamado Gabriel, de 5 anos, e a família encontra-se totalmente desestruturada. Priscila está morando junto com a mãe em Belo Horizonte e está desempregada há 15 dias, “após ter um surto”, como ela mesma diz. Até então, trabalhava como cozinheira e visitava o marido duas vezes por mês no Papuda, em Brasília.
“Meu salário era de R$ 1.320,00 e mal dava para tudo, com ele preso. Meu marido tinha sua própria oficina, onde fazia pintura e chapeação de veículos. Ele sempre foi trabalhador, honesto e nunca se meteu em problemas. É réu primário”, conta a esposa. Atualmente, a Associação dos Familiares e Vítimas de 8 de Janeiro (ASFAV) está ajudando a família, em todos os sentidos possíveis, inclusive com serviço psicológico gratuito para a Priscila se reestabelecer do seu estado emocional alterado pelas circunstâncias.
“O ministro Alexandre de Moraes sabe que não tem nada que comprove crime para manteer o meu marido preso. Se continuar essa situação insustentável vai acontecer uma desgraça. Ele vai acabar morrendo, eu vou morrer também. A gente não aguenta mais tanta injustiça”, diz ela.
QUEM É CLAUDINEI?
Além de Gabriel, Claudinei tem outros três filhos, sendo dois deles menores também, de 11 e 12 anos. Ele era provedor da família com o trabalho de sua oficina mecânica, que foi fechada com sua prisão. Claudinei tem o compromisso de pagar a pensão aos filhos de 11 e 12 anos, além de prover o sustento de Gabriel. Conforme documento da ASFAV, as crianças estão abaladas psicologicamente e a família passa necessidades financeiras. Claudinei não tomava medicações antes da reclusão e hoje está tomando 14 comprimidos ao dia.
A médica psiquiatra sugere a volta de Claudinei para o seio da família e do convívio com os amigos para enfrentar o quadro depressivo em que se encontra.
PEDIDO DE LIBERDADE
A ASFAV está empenhada em conseguir a liberdade de Claudinei, que tem parecer favorável de soltura emitido pela Procuradoria Geral da República (PGR) desde 9 de outubro. “Claudinei deveria estar solto, em casa, porque há o parecer para isso, porém o ministro manteve a sua prisão sem nenhuma fundamentação. Nós protocolamos ofício em todos os órgãos possíveis no dia de hoje, com pareceres da médica psiquiátrica e demais documentos, no sentido de que ele vá para casa e se reestabeleça. Recentemente, o investigado Josiel Gomes de Macedo, que se encontra em situação idêntica à de Claudinei, foi para casa. Estamos pedindo a isonomia”, relata a presidente da ASFAV, Gabriela Ritter.
Trecho do documento formalizado ontem, dia 18 de dezembro, pela ASFAV a favor da liberdade de Claudinei:
“Respeitosamente e encarecidamente reiteramos que a restrição de liberdade não pode ser uma sentença de morte, não há razão para manter o Senhor CLAUDINEI PEGO DA SILVA em prisão preventiva e ainda mais em Hospital Psiquiátrico. Pedimos a extensão da liberdade provisória bem como foi feito com um dos réus no dia 15/12/2023 JOSIEL GOMES DE MACEDO, que não tinha parecer favorável a soltura pela PGR (anexo) e foi posto em liberdade”.
POSIÇÃO DOS ADVOGADOS DE DEFESA: “A defesa de Claudinei tem solicitado desde o início das peças preliminares a liberdade do acusado, que já possuía parecer favorável pela PGR.
Entretanto, mesmo reiterando o pedido de revogação de prisão e liberdade provisória, o Ministro Alexandre de Moraes decidiu manter a prisão de Claudinei em virtude de processos anteriores arquivados, inclusive com extinção da punibilidade.
A defesa solicitou no dia 15/12 a prisão domiciliar do acusado devido à atitude de tentativa de auto-extermínio, bem como tratamento psíquico imediato, para que não se ocorresse o pior. Com o julgamento proferido no mesmo dia, o Ministro decidiu manter a prisão preventiva, mas determinou a transferência deste para uma unidade hospitalar psiquiátrica a fim de estabilizar a situação.
A defesa de Claudinei continua lutando por sua liberdade e, consoante relatos, utilizará de todas as medidas processuais cabíveis para lutar pela liberdade do recluso. Na presente data a defesa apresentou o recurso de agravo regimental, novamente reiterando o pedido de liberdade deste, uma vez que não há provas suficientes que demonstram as práticas imputadas na denúncia por parte de Claudinei Pego. Agora aguardam nova decisão sobre o caso”, diz a Dra Ana Maiara Ribeiro da Silva.
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