ROTINAS LEVAM PATRIOTA À PRISÃO EM GO

Ana Maria Cemin – Jornalista – 15/07/2024

Ana Maria Cemin – Jornalista – 15/07/2024

Ela provou que foi em três aniversários de netos, que foi várias vezes para Goiânia para consultas médicas e que tinha feiras comerciais em cidades vizinhas. Mesmo explicando, o Supremo Tribunal Federal a mandou de volta para o presídio.

A presa política Lucélia Maria Ferreira possui a síndrome antifosfolipídica (SAF), por conta disso já teve trombose, além de estar com uma bactéria no estômago e depressão. Suas diversas idas de Catalão à capital do estado, Goiânia, tinham a finalidade de fazer consultas e exames médicos. O fato de ter que sair de madrugada para conseguir uma consulta longe de casa resultaram em infrações de horário da tornozeleira eletrônica.

Além disso, essa senhora de 55 anos cuida do marido esquizofrênico de 65 anos e é a mantenedora do lar. Tem uma loja em Catalão e costuma participar de feiras com barraca, onde vende almofadas, brinquedos e roupas. Em abril e maio, ela fez feiras nos municípios de Vazante e Ouvidor, avançando um pouco no horário estabelecido pelo ministro Moraes para que ela pudesse ficar longe do presídio, enquanto espera há mais de 1,5 ano pelo julgamento.

“Tudo isso foi explicado pelo advogado de minha mãe ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Foram 81 infrações causadas por questões de saúde dela, necessidade de manter a sua casa, já que meu pai Joaquim depende totalmente dela. Inclusive, desde que está presa ele está aqui na minha casa. Não pode ficar sozinho. Além disso, foi em três aniversários de netos, e juntou no processo a certidão de nascimento deles para que ficasse clara a razão da ausência do lar naqueles dias”, conta a filha Bianca Ferreira Silveira, 32 anos.

PRESA DUAS VEZES

A primeira vez que Lucélia foi presa foi pelo fato de estar acampada no QG de Brasília no dia 9 de janeiro de 2023. De lá foi levada junto com mais de 2 mil manifestantes em ônibus fretados pelo governo federal para um Ginásio da Polícia Federal, conhecido como Campo de Concentração. Em seguida, foi para o presídio Colmeia, onde ficou por dois meses.

Na última quarta-feira, dia 10 de julho, a Polícia Federal chegou na empresa de Lucélia e desde então está presa. Ela está na Unidade Prisional Feminina de Orizona, que fica a 167 km de casa. Somente depois de 15 dias a família poderá visitar a presa política. Até lá, lutam para tirar a matriarca da prisão.

“Minha mãe tem assinado regularmente no fórum da nossa cidade todas as segundas-feiras, vive com as restrições impostas e soube da necessidade de explicar as infrações. A gente vê que o processo é inconstitucional. A minha mãe de fato passou do horário alguns dias, mas tudo foi explicado e é possível comprovar. Isso tudo nos passa a impressão de que qualquer bandido te mais direitos do que estas pessoas que foram se manifestar em Brasília e não fizeram nada”, comenta Bianca. “Alguém depredou os prédios da Praça dos Três Poderes, mas não sei se foram presos”, conclui.

Lucélia tem três filhas e seis netos. Ela não aceita fazer o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) com o Governo Federal, porque entende que não deve assumir uma culpa que não tem. Em momento algum desejou golpe de estado, muito menos participou dos atos de depredação dos prédios.