
Ana Maria Cemin – 24/06/2025
Maria Irani Teixeira Bomfim, 55 anos, e seu marido Jamildo Bomfim de Jesus, 62 anos, foram à Esplanada movidos apenas pela curiosidade naquela tarde de 8.01.2023. Sem qualquer histórico de envolvimento com vandalismo ou violência, acabaram sendo engolfados por uma confusão sem precedentes — e, naquela tarde, caíram na armadilha que se armou na Praça dos Três Poderes.
Hoje, ambos enfrentam duras consequências: condenados a 14 anos de prisão, vivem uma realidade marcada por dores físicas, abalos emocionais e uma justiça que, para muitos, foi severa demais. A prisão domiciliar de Jamildo, homem doente, foi negada, enquanto Maria Irani voltou ao cárcere no último feriado de Corpus Christi mesmo tendo cirurgias agendadas.
Há registros de GPS e fatos comprováveis que mostram que chegaram ao local poucos minutos antes de serem detidos, sem tempo sequer para entender o que estava acontecendo. Isso não impediu, no entanto, que fossem enquadrados no mesmo inquérito que responsabiliza manifestantes por atos de depredação.
Relato da filha do casal – Stephane Priscila Bonfim Priscila Bomfim Reis
“No domingo, 8 de janeiro, meus pais estavam voltando para casa, em Brasília, após uma breve viagem à roça, perto de Formosa (GO), a cerca de 80 km da capital. Durante o trajeto, minha mãe viu vídeos no celular mostrando a movimentação na Praça dos Três Poderes. Curiosa, começou a conversar com suas amigas do bairro para saber mais. Surgiu então a ideia de irem até a Esplanada ver o que estava acontecendo.
Meu pai, que dirigia, estava exausto depois de horas enfrentando estrada de chão. Disse que não queria ir — precisava descansar, pois trabalharia cedo na segunda-feira. Minha mãe insistiu em ir e ele acabou cedendo à curiosidade dela. E foram para a Esplanada.
Já em Brasília, meu pai entrou na Via N2, que estava vazia naquele dia, e estacionou em frente ao Batalhão da Polícia Militar, entre o Ministério da Justiça e o Palácio do Planalto. Atravessaram a rua e subiram uma pequena escada de cinco degraus. Logo ao chegarem, se depararam com uma confusão generalizada: helicópteros lançando bombas de gás, gritos, correria. Desesperado, meu pai disse que eles iriam morrer ali e que precisavam se proteger. Da rampa do Planalto, viram pessoas acenando para que se abrigassem ali — e foram.
Eles chegaram às 16h32. Às 16h45 já estavam algemados. Tudo foi registrado pelo GPS do celular do meu pai, que permaneceu no bolso o tempo todo. Ele não tem redes sociais, não postou nada. Os dados mostram com precisão o horário, o trajeto e até a quantidade de passos que deram. Tudo pode ser provado.”
Desde aquele dia, a vida deles virou de cabeça para baixo. Foram incluídos no Inquérito 4922 do STF. Irani deixou o Presídio Colmeia em agosto de 2023 e retornou há pouco mais de uma semana para cumprir os 14 anos em regime fechado. Jamildo está no Presídio da Papuda há mais tempo, e doente.
Consta em relatório do Instituto Gritos de Liberdade (IGL), que defende os direitos dos presos políticos do 8 de janeiro, que ele é portador de hipertensão arterial sistêmica, arritmia cardíaca, dislipidemia, gota, e apresenta dores articulares severas em quadris, joelhos e mãos. Tem doença inflamatória crônica potencialmente incapacitante, sendo a hipótese diagnóstica de Artrite Reumatoide, enfermidade que, sem tratamento adequado, pode comprometer órgãos vitais como coração, pulmões e rins.
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