Ana Maria Cemin – Jornalista – 11/04/2024
A prisão em Brasília despertou em Renata Brasil (PL) o desejo de concorrer à vereança no município de Serra, ES, para defender princípios que ela considera fundamentais e pautas que realmente melhorem a qualidade de vida das pessoas.
“Quando sai do Presídio Colmeia e voltei para casa ninguém me procurou para prestar solidariedade ou saber como eu estava. Perdi com o meu negócio fechado, inclusive muito alimento à granel para animais. Percebi o desinteresse total quanto ao nosso sofrimento, o que ascendeu um sinal de alerta para uma crise de valores humanitários grave aqui no Brasil, a começar pela atuação fraca dos nossos próprios políticos que pouco fizeram em relação às prisões do 8 de janeiro”, comenta a presa política.
Renata Maria Dias Pereira nasceu em Resplendor, MG, em 1970, mas cresceu em Serra. É mãe de Ryan (13 anos) e Renan (36 anos), e avó de Hector (13 anos) e Eloá (5 anos). É proprietária de uma loja de produtos para PETs em Serra, e tem uma boa bagagem internacional, por ter vivido dez anos fora do Brasil, três em Portugal e sete na Itália.
Renata Brasil, como gosta de ser chamada, conta a história de como foi parar em Brasília e o sofrimento pelo qual passa até hoje. Ela responde por uma ação penal, a partir do Inquérito 4921 que investigou os manifestantes que foram sequestrados do QG de Brasília em 9 de janeiro e acusados pelo Ministério Público de crimes contra a Democracia.
Ela usa tornozeleira eletrônica desde janeiro de 2023 e em breve terá a audiência de instrução e julgamento. É atendida por um defensor público federal.
AVISEI O MEU FILHO DE 12 ANOS
“Quando percebi que a situação em Brasília não estava boa, liguei para o meu filho que tinha 12 anos. Eu ainda estava no Ginásio da Polícia Federal no dia 9 de janeiro e Ryan perguntou se eu tinha sido presa. Disse que não e orientei para que não olhasse a televisão nem ouvisse as fofocas dos vizinhos. Entendi que precisava acalmar meu filho e mostrar segurança.
A ida a Brasília no início de janeiro foi consequência do meu descontentamento com as eleições de 2022, quando nós assistimos uma pessoa que nós tínhamos certeza que ganharia para presidente perder por uma fraude. No dia seguinte, iniciamos a manifestação às margens da rodovia aqui em Serra, mas logo percebemos que o local não apresentava segurança e fomos para a frente do quartel.
Durante dois meses, depois de fechar a minha loja, pegava carona para o QG percorrendo 40 km para me unir às demais pessoas descontentes com os rumos que o País seguia. Cada vez que saia uma caravana da Prainha para Brasília, eu ficava com vontade de ir, mas eu não podia em função do meu comércio. Na virada do ano, decidi ir numa excursão que sairia no dia 7 e voltaria no dia 13.
CHEGADA EM BRASÍLIA
Nós chegamos em Brasília às 17h17 do dia 8 de janeiro, não descemos para a Praça dos Três Poderes por ser tarde, devido às informações dos acontecimentos da Esplanada e porque muita gente machucada voltava de lá.
Passamos uma noite de horror no QG da capital federal e, o mais incrível, é que até hoje tem pessoas que não sabem o que houve o 8 de janeiro e que fomos presos. É impressionante a falta de informação. Também ouço seguidamente que “os patriotas não deveriam ter quebrado os prédios dos três poderes”, como se fosse uma verdade.
Desde que voltei de lá, uso uma tornozeleira e toda segunda-feira preciso ir até o Fórum para assinar. Levo três horas para carregar e às vezes durmo com ela na tomada e só acordo quando ela toca. Minha perna ficou ferida em função da tornozeleira, troquei de perna e aconteceu na outra também. Meu corpo está cheio de caroços, parece que estou com rubéola ou coisa assim, mas é reflexo do emocional. É um somatório de sentimentos que afloram em função a injustiça que vivemos.
COLMEIA
Depois de sermos levados do QG para o Ginásio da Polícia Federal, de lá nos conduziram para o presídio onde nos surpreendemos por chegar num lugar pronto para nos receber. Nos entregaram colchões e cobertas novas, ainda dentro do plástico. Como sabiam que chegariam mais de mil pessoas no presídio? Quando aqueles produtos foram comprados?
Fiquei na ala das gestantes, éramos mais de 100 patriotas presas no local. A comida servida era azeda e crua. Numa ocasião, lembro que recebemos uma carne de músculo cru impossível de ser comida e, por consequência, jogamos tudo dentro dos sacos e devolvemos para as carcereiras. Elas nos ameaçavam tirar o nosso banho de sol se não comêssemos a marmita, mas não tinha como, isso que não sou uma pessoa chata para comer.
Tudo lá dentro era no limite. Eu fiquei somente dez dias, diferente de outras patriotas que ficaram muito mais ou ainda estão presas, mas a sensação de ficar 10 dias com a mesma roupa, sem sutiã e calcinha jamais será esquecida.
POVO CALEJADO
Eu quero sair candidata e meu objetivo é construir uma carreira política e chegar à Câmara Federal. Precisamos lutar por uma causa nobre e não quero ser usada como trampolim para nenhum político. Nós estamos cansados de corruptos no poder, que tiram do povo em seu próprio benefício. Estamos muito calejados e eu não confio mais em políticos pela indiferença que demostraram desde 8 de janeiro. Eu fechei o meu comércio e fui a Brasília para ser mais um número, para mostrar o quanto estamos unidos na insatisfação, e tenho certeza de que a maioria dos que foram presos, como eu, tem um bom caráter. Devemos continuar a nossa luta pelo nosso País, sem esmorecer”, conclui.
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