LAUDO INCONSISTENTE INCRIMINA PATRIOTA

Ana Maria Cemin – Jornalista

26/02/2024 – (54) 99133 7567

Ao ler o laudo da Perícia Criminal Federal ficam claras as razões pelas quais os resultados obtidos enfraquecem levemente a hipótese de que a “face questionada” e as “faces padrão” representem o mesmo indivíduo (olhe a foto e compare). Nada faz sentido!

Mesmo assim, com um reconhecimento facial que vai de uma escala de +4 até -4, sendo que a máquina da Perícia Federal apontou -1 (as evidências enfraquecem levemente às hipóteses), um homem poderá ser condenado a 17 anos de prisão, sem direito a recurso em outra instância, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Um laudo inconsistente e contraditório foi lançado pelo órgão federal e acatado como prova pelos ministros.

Estamos falando do preso político Daniel Luciano Bressan, 37 anos, morador do município de Jussara, PR, que foi julgado pelo STF e, desde a sexta-feira, dia 23 de fevereiro, passou a ser acusado pelo Estado Brasileiro não mais de ter cometido dois crimes, mas cinco crimes.

Ou seja, desde a última sexta-feira ele saiu do Inquérito 4921 para o Inquérito 4922 pela vontade dos ministros do Supremo, que analisaram um laudo da Perícia Criminal Federal pouco conclusivo.

A VIDA DE BRESSAN NESSA SEMANA 

Os investigadores fizeram o uso de um sistema de reconhecimento facial automático que cruzou dois conjuntos de fotos diferentes.

No primeiro conjunto de imagens estão as fotos que foram captadas pelo videomonitoramento dos prédios Palácio do Planalto, Câmara de Deputados, Senado Federal e STF.

O outro conjunto são as imagens coletadas no Complexo Penitenciário Papuda dos presos políticos de 8 de janeiro, onde estão as fotos do rosto de Bressan.

Ao cruzar as imagens dos dois bancos de dados, a máquina concluiu que pode ser que Daniel Bressan seja uma determinada pessoa que estava dentro dos prédios.

Não é preciso ser especialista para ver que tem algo muito errado e a primeira incoerência desse laudo está no fato de que Bressan vestia bermuda e uma camiseta camuflada no dia 8 de janeiro de 2023, além de calçar botina. Ele bateu fotos no dia como todas as demais pessoas que foram se manifestar pacífica e ordeiramente.

No próprio laudo, quando colocada foto de Bressan (face questionada) ao lado de foto do suposto Bressan (face padrão) aparecem as divergências descritas: são linhas de implantação de cabelo, forma da fronte e desenho de sobrancelhas diferentes. Não é a mesma pessoa.

Mesmo assim, de posse desse laudo, os ministros do STF julgaram e condenaram Bressan a ser um preso político agora acusado de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada. Numa somatória total daria 30 anos de prisão. Nesse caso, já contamos com mais de cem patriotas julgados pelo 4922, mais de 90% receberam condenação de 13,5 a 17 anos de prisão.

QUEM É BRESSAN

Daniel mora com o seu avô José Fernandes Bressan, 89 anos, por ele estar com surdez e cegueira, portanto precisa de atenção e de cuidados. Atualmente não trabalha, mas faz bico no que for possível, seja na construção civil, agricultura, sendo que lida bem com máquinas do setor.

“Com esse trem no pé (tornozeleira eletrônica) já perdi muitas oportunidades de trabalho e, hoje, me encontro com dívidas e com risco de perder o meu carro financiado para o banco”, relata.

Ele gosta de política e defende o que a família dele ensinou: a pátria, a família e a congregação cristã. Duvidou do processo eleitoral e foi a Brasília num ônibus que levou 36 horas até chegar no destino, por ter quebrado no meio do caminho.

“Nós chegamos às 4 horas da manhã na igreja que fica em frente ao quartel em Brasília. Armamos a tenda e as barracas, fiz almoço e descansei um pouco da viagem. Descemos ainda no domingo, apesar da gente saber que a manifestação seria na segunda-feira, dia 9, lá pelas 13h30. Na barreira policial, passaram o detector de metal e me recomendaram não entrar porque o pau estava torando.

Como sou curioso, entrei e fiquei sentado num barranco perto do espelho d’água de onde podia olhar a bagunça toda que estava na Praça dos Três Poderes. Tinha muito gás no local e pouco depois das 16 horas fui até a rodoviária, onde peguei um Uber para voltar ao QG. Dei uma volta pela praça antes, mas não entrei nos prédios. Do QG, na manhã do dia 9 de janeiro, sai preso e fiquei 65 dias atrás das grades no Presídio Papuda”, conta Bressan.

Somente em outubro é que ele percebeu que tinha algo errado no seu processo, porque o advogado que o atendia na época, pro bono, disse que ele estava mentindo, ocultando informação, porque tinham achado um vídeo com imagem dele dentro do Palácio do Planalto. De pronto Bressan disse que isso era impossível, porque ninguém melhor do que ele para saber onde esteve.

“Eu não entrei em prédio algum. Troquei de advogado, porque dizem que coisa de graça é como carregar esmola para dois”, diz ele, referindo-se ao atendimento gratuito que recebeu na época.

“Eu estou sem trabalho, sem direito a sair para me divertir e até mesmo namorar. Sou solteiro, desempregado, com dívidas e não consigo organizar minha vida com essas restrições todas impostas pelo STF. Se eu quiser pescar eu não posso. Se eu quiser trabalhar, aproveitando as ofertas que surgem, também não posso porque tenho horários muito limitados. A vida perdeu a graça e uma certeza eu tenho: não volto para a prisão. Prefiro morrer a voltar para aquele inferno onde fiquei, sem ter cometido qualquer crime, por mais de dois meses”, conclui.