Por Ana Maria Cemin – Jornalista
17/10/2023 – (54) 99133 7567
- ANTES DE 8 DE JANEIRO:
Durante o governo Bolsonaro, o movimento de rua dos conservadores ganhou muita expressão, com multidões acompanhando o candidato à reeleição em 2022 em todos os estados da federação brasileira. Nunca na história do Brasil se viu um personagem político ser tão aclamado. O seu lema é “Brasil acima de Tudo, Deus acima de Todos” e conquistou muito pela sua visível tendência à proteção das famílias e da soberania nacional, bem como da liberdade de expressão.
O resultado das eleições foi anunciado em 30 de outubro de 2022, quando Lula da Silva, do PT, venceu com uma margem muito estreita. Lula foi condenado em três instâncias à prisão e ter um presidente ligado à corrupção revoltou a população. A soltura do Lula da Silva da prisão se deu por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), composto por 11 membros, sendo que em sua maioria por advogados indicados pelo próprio Lula e pela sua sucessora Dilma Rousseff ao longo de décadas de governo de esquerda.
Inconformada, a população brasileira foi às ruas em protesto, com apoio de empresários do setor do agronegócio e caminhoneiros. A partir do dia 1º de novembro, em todo o território nacional onde havia uma unidade das Forças Armadas, os manifestantes anti-PT, muitos a favor do Bolsonaro, montaram acampamento com vigília de 24 horas.
Isso perdurou até o dia 8 de janeiro de 2023 e, basicamente, o que os manifestantes queriam era a transparência das urnas eletrônicas, que as próprias Forças Armadas estavam dispostas a fiscalizar a posterior, a partir da entrega do código fonte. Acreditava-se que com o código fonte das urnas eletrônicas brasileiras seria possível ter a certeza de fraude ou que a eleição foi limpa.
O código fonte nunca foi entregue pelo STF às Forças Armadas.
- DIA 8 DE JANEIRO:
Nesse dia, uma multidão de brasileiros deslocou-se para Brasília, a capital federal do Brasil, com a intenção de fazer um protesto na Praça dos Três Poderes, onde se encontram os três prédios da República: Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.
O encontro foi combinado entre os acampamentos de todo o Brasil e previa orações e cantorias, seja de hinos brasileiros ou louvores. Seria no dia 9 de janeiro, uma segunda-feira. No máximo, a intenção era de dificultar a entrada de funcionários na manhã de segunda, como uma forma de desobediência civil.
Porém, um movimento de supostos patriotas dentro do acampamento em frente ao Quartel Geral de Brasília, onde milhares de brasileiros faziam seus protestos desde 1º de novembro de 2022, chamava para ir à Praça ainda no domingo, dia 8 de janeiro, quando os prédios não estavam em funcionamento.
Por volta das 11 horas, a multidão caminhou 8 quilômetros do acampamento para a Praça, com o intuito de ficar por lá pelo menos dois dias. As pessoas levaram agasalhos, água e alguma coisa para comer.
- MOVIMENTO TRAÍDO
O que aconteceu naquela tarde de 8 de janeiro marcou o Brasil com o mais grotesco cenário de “guerra”, no qual os manifestantes carregavam Bíblias em suas mãos e bandeiras amarradas em seus pescoços, além de alguns pertences para acampar ali. Por sua vez, a Polícia Federal e a Tropa de Choque não pouparam agressões, jogando gases de efeito moral e lacrimogênio sobre a multidão, fazendo feridos e deixando atônita a população de famílias, com crianças, idosos e portadores de deficiências físicas.
Tudo aquilo ficou fora de contexto, completamente diferente da experiência de meses de manifestação pacífica e ordeira desses patriotas. De uma hora para outra, entraram num cenário de horrores. No meio dos patriotas era possível ver pessoas usando máscaras e munidas de martelos e outras ferramentas para depredar os prédios da República.
Por volta das 16 horas foi dada a voz de prisão para cerca de 250 pessoas, que foram se abrigar nos prédios para se protegerem das bombas e dos tiros de bala de borracha. Outros entraram nos prédios por curiosidade. Não portavam armas, apenas estavam no local errado, numa armadilha.
- QUEM DEPREDOU ESPEROU SER PRESO?
Muitos manifestantes foram embora, porém cerca de 2 mil pessoas ainda permaneceram acampadas na frente do Exército, acreditando que estariam seguras. Até então, os manifestantes entendiam que as Forças Armadas brasileiras defendiam a população ordeira e honesta.
No entanto, na manhã do dia 9 de janeiro, o acampamento foi cercado pela polícia federal e esses acampados foram levados por policiais fortemente armados, inclusive com cães farejadores, para dentro de ônibus. Depois de rodarem por muitas horas pela cidade de Brasília, foram levadas para um ginásio para triagem. Lá ficaram por cerca de 2 a 3 dias. Alguns foram liberados, sem que qualquer pessoa tenha entendido os critérios, e perto de 1,3 mil pessoas, inclusive muitos idosos e doentes com sérias comorbidades, foram levadas para os presídios Papuda e Colmeia. Lá permaneceram por tempos diferentes, também a critério do ministro do Supremo, Alexandre de Moraes. Ainda temos cerca de 50 presos políticos em Brasília nos presídios.
Os presos políticos foram divididos em 2 inquéritos: o 4922 no qual estão cerca de 250 pessoas levadas de dentro dos prédios para os presídios; e o 4921 que envolve mais cerca de 1,2 mil pessoas que hoje usam tornozeleira eletrônica e estão em prisão domiciliar.
- JULGAMENTOS
Contra tudo que prevê a legislação brasileira, o STF assumiu o julgamento dos presos políticos. Os julgamentos se dão de forma virtual, no qual o advogado de defesa faz o depósito de um vídeo de 20 minutos e os ministros do STF têm um prazo para acompanhar o voto do ministro-relator Alexandre de Moraes. O STF iniciou o julgamento dos presos do inquérito 4922, sendo que 8 pessoas já tiveram seus julgamentos com condenações de 17 a 12 anos de prisão, o pagamento de dia-multa que perfaz mais de R$ 40 mil reais e, ainda, todos os condenados serão obrigados a compartilhar uma multa moral no valor de R$ 30 milhões.
A previsão é de que estes cerca de 250 do Inquérito 4922 sejam julgados pelo Supremo até o final do ano. Logo após iniciam os julgamentos dos presos políticos do Inquérito 4921.