
Ana Maria Cemin – 17/01/2025
Em outubro do ano passado, Edson Medeiros de Aguiar, 47 anos, perdeu o chão ao saber que o Supremo Tribunal Federal (STF) havia aditado o seu processo e que ele não mais responderia por dois crimes, mas por cinco crimes.
Desde então vive um processo intenso de sofrimento emocional, acorda na madrugada com a sensação de que a Polícia Federal está dentro de casa, teve seu carro e contas bloqueadas, saiu da empresa onde trabalhava há 8 anos.
A sua vida está suspensa, à espera dos próximos acontecimentos, não bastassem os dois anos de tortura já vividos.
Aguiar foi o primeiro patriota do Inq. 4921 a passar por audiência em março de 2024 e logo em seguida o seu celular foi devolvido. No laudo da Polícia Federal estava escrito que nada de irregular constava no celular.
“Depois disso recebi várias propostas para fazer o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), mas eu não aceitei porque eu não cometi os crimes que eles queriam que eu admitisse. Porém em outubro fui surpreendido com essa informação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre essas imagens minhas no gramado do Congresso Nacional e as novas acusações. O mais incrível é que até agora o meu advogado não conseguiu ter acesso a essas imagens”, relata Aguiar.
Quando o preso político é aditado, como é o caso do Aguiar, ele passa a correr o risco de ser condenado a penas de 14 a 17 anos, como está sendo usual entre os réus do Inq. 4922.
Para o governo, Aguiar deve ser condenado ao cárcere pelo simples fato de ter estado no gramado no dia 8 de janeiro, acusado de depredação de prédios públicos sem que ele tenha entrado em qualquer prédio, e com base numa imagem que sua defesa desconhece a existência, uma suposta foto em que ele está no gramado da Praça dos Três Poderes.

QUEM É AGUIAR E O QUE FOI FAZER EM BRASÍLIA?
Aguiar nasceu em Brasília e foi criado no litoral do Piauí. Em 1996 foi para Presidente Prudente onde mora até hoje com a esposa Tatiana e o filho Luís Eduardo. Ele é garçom há 28 anos e sempre teve uma boa relação com os empregadores, que foram solícitos e não cancelaram o contrato de trabalho mesmo enquanto ele esteve preso em Brasília, devido à manifestação.
Naquele início de janeiro de 2023, Aguiar chegou em Brasília na sexta-feira, dia 6. Ele saiu de Presidente Prudente, SP, num ônibus com 48 pessoas, sendo que 17 foram presas junto com ele no QG na manhã do dia 9 de janeiro e levadas para o Ginásio da Polícia Federal. Porém, seis delas foram liberadas e voltaram para Presidente Prudente; ele e os demais conterrâneos foram diretos para os presídios Papuda e Colmeia.
Aguiar ficou no cárcere por 55 dias e passou por várias dificuldades, incluindo a falta de espaço adequado para todos os detidos, alimentação prisional contaminada, falta de assistência médica.
“Foram dias terríveis em que ficamos sem comer da marmita, porque vinha com pedações de rato, terra, larvas e muita sujeira. Para não morrer de fome, comia um pãozinho e um achocolatado de baixa qualidade. Era comum ver patriotas passando mal na cela e creio que conseguimos sobreviver por nos apegarmos à palavra de Deus.
Nós sofremos muitas humilhações, como ir pelado para o pátio, levando nas mãos o nosso calção. Lembro de me comover com um senhor chamado Adair Begnini, 57 anos, que estava ali pagando por algo que ele não fez, que nós não fizemos, mas alguns eram tão castigados pela vida, já tinham trabalhado tanto e levavam no corpo as marcas da luta pela vida, que me comovia vê-los naquela situação. Eu era um dos mais jovens da minha cela”, rememora a prisão no Presídio Papuda, no qual ficou junto com outros patriotas.
“Quando saí do presídio e fui para o Centro de Monitoramento Eletrônico (CIME) para colocar a tornozeleira eletrônica, eu chorava muito ao ver os carros passando na rua. A sensação de liberdade me emocionou tanto que o choro não parava. É horrível ficar preso”, relata.

Desde que foi liberado, Aguiar é monitorado com tornozeleira eletrônica e teve restrições severas de movimento e isso afetou a sua capacidade de trabalhar. “Até um certo tempo consegui uma flexibilização junto ao juiz da minha cidade para atuar como garçom, porém ocorreu uma troca de central de monitoramento e logo voltei às restrições que impediram o meu ir e vir nos horários de trabalho”, conta.
Apesar das dificuldades, ele recebeu apoio de sua família e empregadores, que mantiveram seu emprego e o ajudaram financeiramente.
“Com tudo isso eu descobri o Espírito Santo, que me sustenta, e percebi o quanto é gostoso um abraço. O que aconteceu comigo em outubro, de passar para um inquérito mais grave e correr o risco de ser levado para um presídio novamente, me deixou muito mais sensível e, confesso, tudo me assusta. Estou afastado do meu trabalho de garçom, mas ajudo a minha esposa nas atividades profissionais dela”, conclui.
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