
Ana Maria Cemin – 11/07/2025
Karine Cagliari Villa, 41 anos, moradora de Caxias do Sul, RS, retirou ontem, 10.07.2025 a sua tornozeleira eletrônica, o que é um passo para a liberdade depois de sua ida a Brasília em 8.01.2023. Agora ela inicia o cumprimento da sentença dada pela Corte Suprema.
A manifestação em Brasília era para ser um ato político e virou uma violência institucional contra famílias inteiras, com privação de liberdade e sofrimento de idosos e crianças. E isso está longe de terminar!
No caso de Karine, após ser condenada pelo STF por associação criminosa e incitação ao crime, ela iniciou nessa semana o cumprimento da sentença. Ela carrega o sentimento de injustiça e ainda sofre muito pelos que não tiveram o mesmo privilégio dela de recomeço. “Centenas seguem sem liberdade, mesmo sem prova alguma de que sejam criminosos”, desabafa.
Durante dois anos e quatro meses, Karine viveu como prisioneira fora das grades: obrigada a usar tornozeleira eletrônica, com restrições de deslocamento à noite e nos fins de semana. Mesmo antes de ter sido julgada, já sofria as consequências de uma condenação antecipada. “Podia ter tirado antes a tornozeleira, mas fui até o fim. Jamais aceitaria acordo algum”, diz, referindo-se ao Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), assinado por cerca de 600 manifestantes do 8.01 para se livrarem da perseguição do Estado. O ANPP foi uma confissão de culpa que legitimou a continuidade das perseguições políticas, sob o pretexto de que havia um Golpe de Estado armado por estas pessoas.
Mãe ausente
No tempo em que Karine ficou presa em Brasília, pelo simples fato de estar acampada no QG, os filhos Bianca e Felipe viveram à sombra de ausências dolorosas. E mesmo depois de sua volta, a mãe não pode ir às apresentações escolares, nem sair aos fins de semana para brincadeiras no parque — tudo foi silenciado pela tornozeleira. “Minha filha não foi mais em parquinhos desde então, porque as cautelares impediam que eu saisse de casa aos finais de semana. Foi privada porque eu não podia levá-la.” O trauma é latente: a filha chora ao ouvir “8 de janeiro”. O afastamento forçado deixou marcas emocionais ainda abertas.

O Colmeia e a perda da dignidade
Karine passou 60 dias entre celas, corredores e portas metálicas no Presídio Colmeia, em Brasília. “Mandaram tirar a roupa, agachar… depois me deram camiseta branca, bermuda laranja e chinelo. Tive que ficar sem as roupas íntimas porque não eram brancas.” O impacto psicológico foi imediato. Ela nunca imaginou passar por isso, tendo crescido sob orientação rígida sobre certo e errado. Em Brasília foi tratada como uma criminosa!
A cela dividida com outras 124 mulheres foi improvisada, sem estrutura adequada, e a alimentação era escassa e quase sempre azeda, com sujeira e bichos. O fato é que no início de 2023, o Presídio Colmeia se tornou palco de uma série de violações graves contra os direitos humanos de mulheres presas após os atos de 8 de janeiro. Ela foram levadas para alas improvisadas e submetidas a humilhações diárias.
Algumas foram isoladas por até 77 dias, sem acesso ao sol, livros ou atendimento médico adequado. Uma delas foi punida por tentar separar uma briga entre colegas e ficou em cela minúscula, suja, com paredes rabiscadas que teve que limpar com sua própria escova de dentes.
Houve casos de mulheres com epilepsia que sofreram crises sem socorro, sendo deixadas no chão, lambidas por cães e alvo de risos das agentes penitenciárias. Uma delas perdeu quase 40 quilos e desenvolveu transtornos mentais graves após ser dopada por dois meses na ala psiquiátrica.

Máscaras caíram
Karine descobriu que o 8 de janeiro desnudou relações pessoais e certezas. “Vi quem realmente estava comigo e quem não estava. As máscaras caíram.” Mesmo sem cometer atos violentos, foi tratada como inimiga. E ainda hoje carrega o peso emocional e social da estigmatização.
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