Ana Maria Cemin – Jornalista – 19/06/2024
No dia 17 de março de 2023, a família do soldador Gilberto da Silva Ferreira, 49 anos, de Nova Santa Rita, RS, assistiu a sua prisão pela Polícia Federal, cumprindo mandando do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde então, Gilberto se encontra na Penitenciária Estadual de Canoas, RS, junto com criminosos que cumprem penas. A família não tem acesso ao Gilberto desde então. Ele não foi acusado formalmente, nem julgado ou condenado, mas está no presídio como um criminoso.
A esposa Elisandra Marques, 42 anos, se comunica por carta com o marido. Motivo para não se verem? Gilberto tem apenas uma dose da vacina do Covid e, no caso específico desse presídio gaúcho, se o preso não tem duas doses, então não pode receber visita. “Eu não sei o que acontece em Canoas, mas o fato é que não tem vacina para o meu marido. Nós temos carteirinha do Covid em dia, mas isso não importa para o sistema carcerário. Como vacinar lá dentro se eles não fornecem?”, questiona Elisandra, visivelmente abalada. “Meu marido está preso há 15 meses sem ter passado por audiência, não tem condenação, não tem nada”, desabafa.
IDA A BRASÍLIA EM JANEIRO DE 2023
Gilberto pegou um ônibus em Passo Fundo, RS, com destino a Brasília, DF, em 6 de janeiro de 2023. Junto com outros conterrâneos, foi participar da manifestação patriótica e de uma festividade gaúcha preparada pelo patrão do Centro de Tradições Gaúchas – CTG, do Distrito Federal.
O ônibus chegou às 15h30 em Brasília no dia 8 de janeiro, domingo, e os convidados comeram o tradicional carreteiro e foram em grupo para a Praça dos Três Poderes. Chegaram no local da manifestação às 17 horas e viram muita confusão. O grupo decidiu voltar em seguida para o CTG e, como não haveria manifestação na segunda-feira, dia 9 de janeiro, como estava combinado, voltaram para o Rio Grande do Sul.
Na estrada, a Polícia Rodoviária Federal chegou a parar o ônibus, mas depois de esclarecerem os seus objetivos em Brasília seguiram viagem. Os amigos de Nova Santa Rita foram até Passo Fundo de carro buscar os excursionistas.
DESOLAÇÃO NA FAMÍLIA DE GILBERTO
A família sente muita saudade de Gilberto, porque não se encontram desde aquela madrugada em que três viaturas da PF foram até a residência e o levaram. Ele é pai de duas moças, uma de 14 e outra de 26 anos, e avô de dois netos – mais um está a caminho. Até ser preso, era o mantenedor da casa e trabalhava junto com o seu pai Alberi Marques Ferreira, 75 anos, na oficina de tornearia e solda. A empresa está fechada desde a prisão e o seu Alberi sofreu um AVC e ficou cego.
“Meu sogro nunca teve problema com a pressão, mas agora ela está alta e exige cuidados. No início de fevereiro, ele sofreu um AVC e foi levado às pressas para ser internado em Centro de Tratamento Intensivo. A visão foi afetada pelo acidente vascular”, diz a nora, que desde então mudou para a casa do sogro para cuidá-lo. Segundo ela, o sogro não se conforma de saber que o seu filho preso sem que tenha feito qualquer coisa errada. É uma dor que está dilacerando o idoso.
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