
Ana Maria Cemin – 30/04/2025
Há 26 meses com tornozeleira eletrônica e com restrição de sair de casa depois das 18 horas e em finais de semana, a mineira Jussara de Oliveira, 45 anos, diz que seus sonhos foram traídos em 8 de janeiro. Deixou de atuar a pleno como esteticista e massoterapeuta em salão perto de sua casa em Belo Horizonte por receio de conviver com piadas de clientes de esquerda. “Eles riem da gente e isso impacta de uma forma muito ruim, porque nós sabemos que somos injustiçados, não cometemos qualquer crime e estamos privados de nossa liberdade, seremos julgados e condenados por algo que não fizemos”, desabafa.
Jussara mora com o marido, com quem está há 13 anos, que merece a atenção dela por ter uma doença autoimune que causa inflamação, a vasculite granulomatosa. Quando foi a Brasília no 8 de janeiro era para ter voltado em pouco tempo, era apenas uma manifestação, porém foi presa no QG e levada ao Presídio Colmeia onde ficou até 9.03.2023. De lá saiu 10 quilos mais magra e com uma tornozeleira eletrônica que a monitora 24 horas por dia.

“Estou sem perspectiva e sei que sou uma das presas políticas que se encontra em melhor situação. Nos presídios e no exílio estão muitas mães e idosos, mesmo assim sinto que o Estado destruiu a minha vida. Fico no sofá a maior parte do tempo, esperando que algo aconteça e devolva a minha vida. Procuro me movimentar, ir para a academia, mas sempre escondendo com polaina a tornozeleira para não ser humilhada com piadas. Tentei voltar ao balé que amo desde pequena, mas também não é possível. Adotei a corrida de rua, mas meu tornozelo ficou todo machucado e o médico comentou que o peso do aparelho no pé pode causar algum dano irreversível. Ou seja, sobram poucas alternativas e já são dois anos e dois meses e ainda não fui julgada pelo Supremo Tribunal Federal”, relata, Jussara, destacando que sente dores no pé por conta do aparelho.
Jussara é ré acusada de dois crimes, golpe de estado e incitação ao crime, cuja pena é de restrição de liberdade, mas sem uso de tornozeleira. Ela aguarda na fila de espera para ser condenada pela Corte.

“Eu saí de Belo Horizonte somente para me manifestar contra o resultado das eleições de 2022. Em nenhum momento entrei em um prédio público, e até então sempre soube que manifestação pacífica e ordeira era garantida pela Constituição Brasileira. Depois de tudo isso não tenho mais esperança de um futuro melhor para o brasileiro. É muito triste perder a esperança, mas é assim que hoje me sinto. Como é possível voltar a praticar minhas aulas de dança? Comecei a praticar corridas, o que me tirou da grande tristeza que fiquei quando cheguei em casa depois de dois longos meses presa no presídio de segurança média em Brasília, mas nem isso dá para continuar a praticar, pois segundo meu ortopedista se eu continuar correndo com um peso a mais em um dos pés posso ter problemas irreversíveis. Sigo com esperança de que a verdade apareça. De que as imagens das câmeras sejam mostradas e quem quebrou ou danificou o patrimônio público pague pelo que fez, pois injustiça é a pior tragédia na vida de um ser humano. O que aconteceu no 8.01.2023 tem acabado com vidas de pessoas inocentes, íntegras e trabalhadoras”, conclui.

1 comentário