DEVOLVAM A MINHA LIBERDADE!
Edição Ana Maria Cemin – 16/12/2024
“Sou Sirlene de Souza Zanotti, 53 anos. Filha de alguém, irmã de dez. Tia de 14 sobrinhos e dois sobrinhos netos. Mãe de três filhos (um de coração), quatro netos. Sou profissional, voluntária em vários projetos, amiga e vizinha de pessoas amorosas e valorosas. Fui condenada a 14 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal e me encontro no exílio.
Perder é normal, natural e faz parte do crescimento, amadurecimento. Porém, quando lhe é tirada a liberdade, junto vai o tempo com a família e as histórias que não serão construídas em conjunto. Você fica sem chão, roubam o seu teto. Lhe tiram o direito de dar e receber amor.
Numa falsa acusação de crime o STF roubou tudo de mim. Num processo cheio de ilegalidades.
Restava o sorriso, as lágrimas, o sonho…
Mas nada é tão ruim que não possa piorar, e isso acontece quando os seus iguais, nas suas dores, não permitem a expressão de sua dor ou de sua força. O insuportável chega quando você é impedido de chorar, porque esperam de você somente força e capacidade de aguentar. Ou quando você é impedido de rir alto, afinal “O que há de tão engraçado?”.
Até o ato de dormir, que é uma forma de morrer para os problemas, lhe é tirado. Ao dormir você encontra a paz, por não pensar, por se entregar de corpo e alma ao descanso. Já não é permitido dormir, não há um espaço seu. Você compartilha a vida não por escolha, mas por obrigatoriedade, para sobreviver.
Então, ao perceber que esta “morte diária” para recuperar energia e ganhar fôlego, necessária para suportar mais um dia de pressão, também não lhe pertence mais, vem a VERDADE. Assim atinjo a consciência plena do “porquê” de um vazio gigante na alma, desse sentimento profundo de ausência total de sentido na vida.
Ao lutar pelo meu País, perdi o direito a ter a minha própria vida.
Agora tenho total consciência do significado de LIBERDADE PARA MIM.
Liberdade é VER presencialmente o rosto dos meus filhos e abraçar os meus netos. Ouvir as suas histórias e sentir o cheirinho deles.
O que é a felicidade para mim?
É cozinhar para a família, organizar e planejar com eles a curto, médio ou longo prazo. Realizar o passo a passo, sabendo que juntos somos fortes.
É planejar com os meus netinhos o que faremos de lanche, do que iremos brincar, se o banho será de mangueira, na bacia ou no chuveiro. Que filme veremos juntos?
O que é satisfação para mim?
É trabalhar, ter objetivos todos os dias. Atender os pacientes dando a eles o meu melhor. Dar alta ao paciente sabendo que ele se encontrou e encontrou meios de levar a vida de modo satisfatório.
É doar o meu tempo e a minha profissão àqueles que têm necessidade, mas não têm como pagar. E eu sei que não cobrando, ainda assim eu recebo o melhor deles, aquilo que dinheiro não pode comprar, que é a gratidão dessas pessoas.
Aqui (no exílio) não tem vida. A injustiça atravessa a fronteira e me mantém num corpo sem rumo. Até quando não sei. O vazio em minha alma se agiganta e a ausência de sentido é o que resta.
Sei o que isto significa e não estou pedindo ajuda. Aliás, a única ajuda que aceito é a justiça, é a devolução da minha vida. Não quero conselhos, não quero terapia, não quero medicação.
Pois, nenhum destes “sintomas” é de causa orgânica ou psíquica. São reflexos, isso sim, de um sistema injusto, ditador, totalitário. E que tem um NOME e CPF como líder da maldade.
Estou cansada, cansada, cansada, cansada, cansada, cansada, cansada, cansada…
Rosa Maria Volpe
Minha querida, como sinto vc estar passando por tudo isso! Sou amiga de Marcelo e ele nos passou seu relato, que me emocionou muito!
Que Deus redobre suas forças, e lhe traga muita saúde, Paz e Luz.
No que precisar, estou a sua disposição!
Querendo, e só pedir a nosso amigo, meu contato
Nelsa Breda
Muito triste isso tudo. Desesperador! Só em ler fico sem fôlego. Queira Deus que a Justiça prevaleça.
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