Texto: Ana Maria Cemin – Imagem: Eduardo F. S. Lima – 20/08/2024
Enquanto você está lendo estas linhas, algum patriota pode estar sendo conduzido para algum presídio, em alguma parte do Brasil, de forma inesperada. Pode ser que a família nem queira falar sobre o assunto e essa prisão seja mais uma voz silenciada.
Convivemos com a expectativa de que essa maré de autoritarismo passe, entusiamo que chega pelas recentes denúncias publicadas pela Folha de São Paulo sobre o ministro Alexandre de Moraes ter utilizado a estrutura da Justiça para produzir relatórios do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tudo para embasar decisões contra os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro.
E foi nesse ambiente de esperanças que uma amiga da dentista Yette Santos Soares Nogueira, 56 anos, entrou em contato para me contar que Yette foi recolhida ao presídio feminino de Palmas, no setor Taquaralto. E para que eu ajudasse a não deixar isso passar em branco, como algo velado.
A informação chegou na sexta-feira passada, 16 de agosto, e eu procurei as anotações de uma entrevista realizada com a presa política ainda em fevereiro. Na época deixei de produzir o texto para preservar a patriota moradora de Palmas, TO.
Hoje, mais do que nunca, as pessoas precisam saber que mais uma inocente está sendo acusada de crimes que podem resultar numa condenação de 14 a 17 anos. Isso é fato. Converso diariamente com familiares de pessoas que foram condenadas e cumprem pena junto com a massa carcerária. Se você olhar o passado dos patriotas presos, não há uma mácula sequer.
PGR E MORAES
A PET 12.771, assinada por Alexandre de Moraes em 15 de agosto, determinou o levantamento do sigilo e cita a prisão da dentista na penitenciária de Palmas. O ministro relata que a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia contra a patriota ainda em 5 de agosto. Pesa contra ela as acusações de associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima, e deterioração de patrimônio tombado. O roteiro é o mesmo dos inquéritos mais graves do 8 de janeiro e o desfecho é conhecido por todos, que acompanham o tema: condenação. O único absolvido pelo STF até agora foi um réu cuja advogada provou que ele era de esquerda.
Yette ainda não foi julgada, não responde por uma Ação Penal, mas está recolhida ao presídio. O depoimento que relato a seguir tem data de 7 de fevereiro desse ano, mais de seis meses antes da prisão.
“Passei por um momento de pressão familiar, de me sentir culpada por trazer desgosto a todos ao meu redor em função das perseguições políticas que aconteceram após a minha viagem a Brasília. Com tudo isso, entrei em licença-prêmio para me recuperar, mas retornarei às atividades na segunda-feira, dia 12.02.2024.
Sou dentista e concursada pelo município há 23 anos, e atuo num programa de saúde da família. Se eu fosse contratada pelo município, eu já estaria demitida, mas o fato de ser concursada me dá essa garantia de liberdade de expressão.
PERSEGUIÇÃO POLÍTICA
Até 2021, eu fui presidente da Associação dos Conservadores Tocantinenses e quando eu renunciei quem assumiu foi Lucimar Godoi. Saí candidata ao cargo de Deputada Federal em 2022 pela direita, mas não consegui chegar lá. Depois disso, comecei a ser perseguida e muito mais ainda depois do 8 de janeiro, com a minha ida a Brasília. Foi praticamente lavrada a perseguição a partir daí com a presença da Polícia Federal em minha casa.
EXPERIÊNCIA EM BRASÍLIA
Muita gente de Palmas estava organizada para sair em excursão para a capital federal, mas eu tinha desistido, afinal o Lula já tinha subido a rampa. Então começou uma pressão de que todos deveríamos ir e eu continuei falando que não iria, que estava de férias e meu marido queria fazer uma programação em família. Ele pedia que eu parasse de participar do movimento criado no pós-eleição em frente ao QG; isso desde o dia 1º de janeiro.
Na última hora, mesmo com o meu nome na lista da excursão de ônibus, fiz um programa diferente e optei de ir de carro e ficar na casa de meu primo em Brasília. Claro que eu tinha a intenção de ir até o QG. Aliás, no programa que tínhamos, a ida para a Praça dos Três Poderes era de marchar no dia 9 de janeiro, uma segunda-feira.
Eu estive no dia 8 de janeiro no QG no período da manhã e vi que seria naquele dia, um domingo. Isso era por volta de meio-dia e me coloquei em marcha para a praça com todos os demais. Era uma multidão e eu me meti no meio. Estava tudo muito bonito e o propósito era abraçar a Praça dos Três Poderes e dar um grito de liberdade.
VÍDEOS E SINDICÂNCIA
Emocionada, joguei na rede social alguns vídeos e, ao chegar na praça, vi a bagunça que estava com tudo quebrado, fui embora. Inclusive era possível ver gente dentro de prédio vestido de preto e mascarado, eu não entendi nada. Não me senti bem. A decisão de ir embora eu tomei quando vi que empurraram uma mesa contra uma janela e caiu lá embaixo. Algo inconcebível.
Logo mandaram os meus vídeos para a minha patroa, a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), que utilizou os mesmos para fazer uma sindicância administrativa e trabalhista contra mim dentro da prefeitura. Ela não conseguiu arrumar nada, porque estava tudo em dia.
PÁGINA CONTRAGOLPE
A perseguição se intensificou com os meus vídeos enviados para a página Contragolpe, criada para receber denúncia de pessoas que estiveram em Brasília. Isso tudo criou muita confusão entre todos nós, porque era para ser o mesmo movimento pacífico e ordeiro como todas as demais experiências em frente aos QGs, em todo o Brasil. A contragolpe fez uma coletânea de imagens de patriotas e aquilo circulou nas redes como se fôssemos golpistas. E mais: usavam expressões como terrorismo.
Claro que eu sei qual é a intenção disso tudo. Querem mesmo aniquilar os candidatos, as possibilidades futuras da direita. Sou muito envolvida com projetos sociais aqui em Palmas e sou uma candidata forte. Dessa nova turma que está chegando, de direita, com cerca de 15 nomes, eu fui a mais votada.
BLOQUEIO DE CONTA
Bloquearam a minha conta salário, então eu não recebo mais pelo meu trabalho. Pegaram o meu carro, meu passaporte, meu celular. Na revista feita pela Polícia Federal em minha casa, estavam atrás de joias e dinheiro em cofre. Fui considerada uma financiadora junto com Lauro Lopes Valadares, e estou sendo investigada num inquérito só porque o meu nome ficou na lista dos ônibus de Palmas que foram a Brasília.
Porém eu tenho todas as provas de que fui de carro, inclusive as multas de Brasília com data do dia 8 de janeiro, com imagens da placa do meu carro. Saí de férias, fui dormir no meu primo e estão dizendo que encabecei a caravana. Não é verdade!
Eu estou contando isso para você, mas tudo que faço eu peço permissão para os meus advogados. Aqui em Palmas, assim como em todo o Brasil, tem um movimento que nos fez entrar numa cilada. Os infiltrados estavam no nosso movimento desde o começo e eu consegui ver isso lá em Brasília.
NECESSIDADE DE TER VOZ
Eu te procurei porque aqui no Tocantins nós não temos ninguém com essa ousadia, com essa coragem de relatar os casos do 8 de janeiro, e a única forma da gente sair dessa situação é relatando os casos.
Eu pensei em ir para a rede social para denunciar. Pensei em reunir os quatro daqui do Tocantins que estão sendo considerados financiadores para dar uma entrevista, até para desmistificar tudo isso. É preciso desfazer toda essa loucura que estão querendo criar ao redor sobre financiamento de golpe.
Desde que tudo isso começou eu sinto ansiedade, estou com síndrome de pânico, tenho medo de ser morta e convivo com xingamentos nas redes, além de ter a minha conta bloqueada. Toda vez que batem na porta eu penso que é a polícia que vem me prender. O impacto de ser investigada por algo que não fiz é tão forte que estou traumatizada”.
Quanta maldade, quanto absurdo, meu DEUS do céu, que pesadelo!
É muito triste e revoltante o que o governo, juntamente com o Moraes, estão fazendo com essas pessoas.