CRIANÇA DE 4 ANOS ESTÁ PRESA JUNTO COM A MÃE
Por Ana Maria Cemin – Jornalista
Revisado em 19/11/2023
Em abril conversei com a ex-representante comercial de marcas ligadas à beleza e ex-prestadora de serviço de eventos em alguns hotéis na capital de seu Estado e na cidade onde mora. Jennifer Cristina Ferreira Martins, 39 anos, teve a sua vida virada do avesso após ser presa em Brasília, no trágico episódio brasileiro de 8 de janeiro. Virou duplamente “ex” porque as empresas cancelaram os contratos de trabalho por não quererem vincular as suas marcas a alguém que passou pelo Colmeia. Ela é mãe de uma criança de 3 anos, vive com a ajuda de pessoas que conheceu no QG da sua cidade, enquanto ela se reinventa profissionalmente. Ela me disse, naquele mês de abril de 2023, que todo mês fazia sorteio para saber qual conta pagaria e qual poderia ser atrasada sem o risco de perder o seu apartamento onde mora sozinha com o filho. Além das despesas com luz, água, gás, alimentação, necessidades dela e do filho, Jennifer tem ainda os custos fixos mensais: R$ 650,00 do financiamento da Caixa Federal, R$ 372,00 de condomínio e R$ 795,00 para a empresa MRV. Conversei com ela essa semana e as coisas estão melhorando lentamente do ponto de vista financeiro. Sete meses depois, ainda tem problemas, mas segue com coragem, empreendendo com uma loja de ferragens. A foto de capa não é recente, e Jeniffer está com o filho e mãe.
Depois que saiu do presídio, ela está em liberdade provisória e com uma série de restrições que, se não cumpridas, levarão ela de volta ao cárcere. A parte mais difícil do dia a dia não é estar sem dinheiro, depender da ajuda dos patriotas amigos, mas, sim, ser obrigada a ficar trancada dentro do apartamento todos os dias após às 18 horas de segunda a sexta e em sábados, domingos e feriados nas 24 horas. É isso mesmo: trancada em casa. Detalhe: ela não conta com a ajuda de parentes na sua cidade para ajudar num passeio da criança nesses dias em que está proibida de sair.
A coisa é tão grave que nem mesmo pode ir até a portaria ou playground com o filho Lorenzo, de 4 anos, sem que a tornozeleira toque e a luz roxa acenda, indicando que deve ligar imediatamente para o Centro Integrado de Monitoramento Eletrônico – CIME e justificar o disparo. O filho está preso junto com ela e, é claro, ele faz muitas perguntas difíceis para a patriota responder. Quem deveria responder, na minha ótica, é o estado brasileiro e a toda população. Afinal, o que essas pessoas simples, trabalhadoras e com princípios morais fizeram em Brasília para merecer tudo isso? Que provas têm contra elas?
ME SENTI EM CASA NO MOVIMENTO
“Sou radicalmente contra as drogas, aborto e corrupção. Ao participar do movimento de direita, nas ruas, conheci pessoas com o pensamento parecido com o meu e acabou a sensação de viver isolada. Convivi com familiares petistas, fui criada pelo meu pai e avó, e tirando o meu pai, de quem herdei os princípios morais, não me identifico com o resto da família. Meu pai é o único a sair cedo para trabalhar e voltar à noite. Os demais nunca quiseram nada com nada. Aprendi com ele a ser quem sou. É um homem correto e posicionado à direita, embora não tenha a coragem que tive de ir para frente dos quarteis e me posicionar.
Levei várias vezes o meu filho para QG e ele segurava a bandeira enquanto falava “Brasil livre! Brasil livre!”. Foi muito bom deixar de me sentir sozinha e isolada por pensar diferente, por não concordar com as atitudes das pessoas da esquerda como, por exemplo, o uso de maconha. Não é só isso. É o modo de viver e de pensar. Por muito tempo pensei que iria acabar sozinha na vida por ver que a ideia do povo não batia com a minha. Tudo mudou ao conhecer as pessoas nas manifestações. Percebi que éramos muitos e estávamos calados. Uma quantidade muito superior do que aquelas que pensavam diferente de mim. Eu descobri o Brasil conservador. As pessoas mostravam não gostar das atitudes horríveis de políticos. O QG, então, virou um local familiar e me senti em casa. Foi gostoso demais. Comecei a participar forte na capital do meu estado, porque meu trabalho me permitia esses movimentos e porque na minha cidade a manifestação não era diária. Só quando aqui começou a se fortalecer, com o QG 24 horas ativo, fiquei mais participativa em minha cidade.
EM BRASÍLIA, OS HOMENS APANHARAM DEMAIS
Surgiu a oportunidade de ir a Brasília com uma caravana da minha cidade e saímos no sábado à noite. Chegamos às 10 horas do dia 8 no QG. Uma parte da turma dormiria no ônibus e, outra, em barraca. A volta para nossa cidade seria no dia seguinte, segunda-feira. Fomos muito bem recepcionados, nos explicaram onde ficavam as barracas principais, de alimentação, café, água, oração e demais pontos para que pudéssemos nos orientar naquele QG imenso, desde a chegada. Decidimos formar grupos menores, de três ou quatro, e fomos para a fila de alimentação.
Nós fomos para participar de ato na Praça dos Três Poderes na segunda-feira, mas enquanto estávamos na fila do almoço algumas pessoas passavam gritando “a caminhada será às 13 horas de hoje”. Nisso eu vi um rapaz passando com um pedaço de pau e eu falei para o meu conterrâneo que aquilo estava esquisito, pois todo patriota carrega uma bandeira e não pau. Falei, mas isso não chegou a ser uma preocupação. Foi uma estranheza.
O nosso pequeno grupo almoçou e seguiu junto com a multidão em marcha para dar um abraço simbólico nos prédios da nossa república. Lá iríamos rezar e ficar até as Forças Armadas aparecerem para nos dizer alguma coisa sobre as nossas reivindicações de transparência nas ações do governo. Era o nosso pensamento. Tudo nos remetia à emoção, em especial ver aquela gente toda descendo unida, ordeiramente. Isso me fez chorar. Porém, novamente, senti algo estranho no ar ao ouvir uma gente gritando “Hu…hu…hu…”. Era algo incomum. Porém, a grande massa cantava o Hino Nacional e as músicas que se popularizaram nos QGs espalhados por todo o Brasil. E de novo ouvi “Hu…hu…hu…” e novamente fiquei incomodada por ser um som forte e gutural, muito diferente dos nossos cantos carregados de alma e emoção positiva. Mas seguimos o nosso rumo, descendo.
Logo avistamos um viaduto e um mar enorme de gente vestida de verde e amarelo. Era a coisa mais linda do mundo, inesquecível! No meio do caminho, os militares batiam continência para nós, em respeito ao nosso ato, além de nos socorrerem dos ataques verbais de motoristas petistas que passavam pela nossa marcha, que ocupava parte da rodovia. Eu e os meus amigos nos sentíamos numa manifestação saudável e segura, como foram as experiências dos quase 70 dias anteriores.
“BORA! BORA!” QUE ESTÃO JOGANDO BOMBAS
Chegamos ao destino e passamos por uma barreira de policiais. Fomos revistados e até mesmo desodorantes aerossóis jogamos no lixo a pedido deles, antes de liberarem a nossa passagem. Passamos com barrinhas de cereais, maçãs, bananas e água. Em pouco tempo tudo que parecia maravilhoso transformou-se em pesadelo, com gente gritando “Invadiram! Invadiram!”. Um dos meus amigos disse “Bora! Bora!” e era uma gritaria só, com bombas explodindo. Eu achei que eram foguetes em comemoração à tomada simbólica da Praça dos Três Poderes pela nossa manifestação. Nem passava pela minha cabeça a possibilidade da polícia, que tinha autorizado a nossa entrada, após a revista, estar nos atacando. Além do mais, como poderiam atacar pessoas desarmadas? Junto conosco tinha uma pessoa com problemas na perna e o ajudamos a caminhar até o gramado. Nisso vi a rampa do Congresso e sugeri que fôssemos para lá. Um amigo se negou a subir e eu fiquei com medo de subir sozinha no meio daquela multidão, então os três rapazes resolveram acatar a minha ideia e me acompanharam, subimos e nos posicionamos ao lado esquerdo, do lado de fora. Não entramos.
De lá a gente via os policiais jogando bomba para cima do povo e o povo resistia aos ataques. Eu fiquei boba vendo os homens apanharem. Vi idosos andando com o rosto cortado e sangrando. Jogavam aquelas balas de borracha e feriam os patriotas. As pessoas foram machucadas e, mesmo assim, lá pelas tantas, vi que um pessoal abriu uma faixa onde estava escrito “Intervenção Militar” e colocaram uma caixa de som com o Hino do Exército. Os patriotas se sentaram no gramado, não pareciam em pânico, nem estavam correndo. A ideia era resistir, mesmo com os policiais agredindo, batendo. O gás era tanto que meu rosto começou a queimar, a água estava ficando pouca. Alguns idosos estavam passando mal com tudo aquilo e teve quem usasse vinagre em pano para reanimar. Um senhorzinho me deu um par de óculos para proteger os meus olhos, para não arder. O sentimento era de que tínhamos de ficar ali e ajudar quem estava machucado. Então pegamos uns cavaletes de metal que estavam ali por perto e isolamos uma área para afastar a polícia. Ficamos entoando a frase “Forças Armadas salvem o Brasil”, ouvimos música, oramos e eu pensei “isso é uma guerra real”. Via muita gente chorando.
Meu amigo insistia que era a hora de voltar para o QG. Nessa altura estávamos só ele e eu. Me dizia “Vamos subir, nós estamos muito cansados e com fome”. Eu achava que o correto era ficar ali, porém surgiram os helicópteros e fiquei com medo daquelas bombas cairem em nossas cabeças e nos matar. Davam rasantes assustadores! Então voltamos de carona para o QG e, chegando lá, encontramos muita gente descendo para a Praça dos Três Poderes. Contamos para as pessoas sobre as bombas, sobre as pessoas machucadas, inclusive com os vidros das janelas que eram quebradas de dentro para fora.
No acampamento, nos disseram que o MST tentara invadir o QG. As mensagens sobre os fatos da praça não paravam de chegar e vimos pela internet um policial ser derrubado do cavalo. Nesse momento senti que a coisa ficou feia. A polícia estava batendo em homens e mulheres. Falei para meu amigo: “E agora?” Andávamos pelo acampamento e víamos pessoas machucadas. Chegou para nós a informação de algumas moças que estavam no subsolo do Planalto, uma delas ligou pedindo socorro, e ficou gravado que elas estavam apanhando da polícia. Ficamos com medo de que fossem mortas e então avisamos os militares para que se deslocassem até lá. Não soubemos mais nada sobre isso.
Escureceu. As pessoas ficaram todas aglomeradas no acampamento. A barraca da oração estava lotada. Junto ao lago, as pessoas dormiam umas grudadas nas outras. Era muita gente! E a conversa de que não era possível sair do QG, por ele estar cercado, começou a rolar. Nos disseram que na Praça dos Três Poderes não tinha mais ninguém e muitos tinham sido presos. Era o fim da manifestação pacífica tão sonhada.
“MULHERES E CRIANÇAS SAIAM DO QG JÁ!”
A tensão no acampamento crescia rapidamente com a chegada de informações de pessoas presas na Praça dos Três Poderes. Todos estavam com o semblante muito preocupado. Foi quando começou a chover muito. O pessoal da minha cidade tinha tomado a decisão de priorizar a saída das mulheres do QG e reservara hotel para nós, mas eu achava injusto deixar os homens do nosso grupo. Fiquei no QG. Era muita chuva que caia e acabamos sentados um perto do outro e viramos a noite conversando sobre os fatos ocorridos. Veio um pensamento forte: “Estamos ferrados!”.
O dia amanheceu, a chuva parou e fui procurar a barraca do café. Notei várias barracas fechadas, como que interditadas. Na minha cabeça, o movimento teria continuidade, não podia supor o que viria na sequência. E aí surgiram os jovens militares à paisana repetindo a todo momento “Mulheres e crianças vão embora!”. Eram meninos com roupas normais e a gente até pensou que poderiam ser infiltrados do MST tentando esvaziar o nosso movimento. Fomos para a beira do acampamento e percebemos que os soldados do exército não falavam mais com a gente e suas feições estavam fechadas, e carregavam escudos. E de novo, no meio do acampamento, apareciam os garotos dizendo “Mulheres e crianças vão embora daqui!”, e eu olhava ao redor e via muitas crianças mesmo, na faixa dos 10 aos 14 anos, mas porque deveríamos confiar?
Um sujeito subiu no palco e falou para não nos preocuparmos com nada, pois logo teríamos um comunicado oficial do exército. E mais uma vez passou um rapaz recomendado a saída imediata de mulheres e crianças, o que me fez exaltar com ele: “Menino, para de ficar falando isso!”. Logo depois uma mulher passou por nós e disse que o sujeito que tinha pegado o microfone era um sindicalista do PT, da Bahia. “Esse sujeito não é confiável, é um velho conhecido da gente!”, disse ela.
“A GENTE NÃO VAI SEGURAR ESSA BOMBA”
Daí para frente a coisa só desandou: nos informaram que o ônibus fretado da nossa cidade estava retido pela polícia e que cada um deveria achar uma solução para voltar para casa. Não bastasse os meninos falarem aquilo de ir embora, surgiu uma mulher vestida com roupa do exército dando o mesmo conselho para que saíssemos imediatamente do QG.
Todo mundo começou a andar de um lado para o outro e o QG foi esvaziando. Estava com um amigo e ajudamos um idoso com dificuldade de andar, mas ele estava acompanhado por outras duas pessoas e acabamos aguardando eles chegarem para seguirmos juntos em direção à saída do QG. Passamos por viaturas de militares e eles nos diziam discretamente “Não entrem nos ônibus”. A gente só queria sair dali e seguimos em frente até que chegamos à barreira de policiais e fomos informados de que não poderíamos mais passar.
A ordem agora era de sair do QG de ônibus no prazo de uma hora. O espaço seria evacuado pelos policiais federais e pelo exército. O clima ficou muito tenso! Falei que tinha um filho de três ano em casa, mas o policial explicou que as ordens superiores eram de não deixar qualquer pessoa passar.
No microfone, uma mulher dizia “Não é de interesse do exército o confronto”. A informação era de que estávamos cercados, entraríamos em ônibus, seríamos levados para uma revista e nos liberariam. Ela ainda dizia para sair de perto de qualquer pessoa que oferecesse resistência a entrar nos ônibus.
Então ficamos lá, aguardando os ônibus chegarem. Via aquelas pessoas muito idosas, de cadeiras de roda, crianças e já não tinha mais o que fazer. Um dos meus amigos tentou conversar com um soldado e não obteve resposta, só cara feia. Cuidei para entrar junto com os meus amigos no ônibus, para ficarmos juntos. Um soldado do exército entrou no ônibus e disse “Se alguém tem alguma faca ou canivete procure se livrar do objeto agora para não se complicar na revista”. Nos falou que passaríamos pela tal revista e aqueles que não tivessem nada seriam liberados na rodoviária e cada um poderia voltar para a sua cidade.
Dentro do ônibus o calor estava terrível e pedimos para abrir a porta. Já não tínhamos muita água e a fome começou a bater. Rodaram por horas com a gente, perguntávamos para o motorista para onde estávamos indo e ele não falava nada. Muita gente fez xixi na porta dos fundos, homens e mulheres. Lá pelas tantas pararam na polícia civil, os ônibus estacionados lado a lado, nós dentro deles por horas, num calor intenso, pessoas passando mal. A gente implorava para que abrissem a porta para entrar um pouco de ar. Um passageiro ouvir os policiais civis dizendo: “A gente não vai segurar essa bomba”. Referiam-se a nós, brasileiros de vários estados, manifestantes. Pais, mães, avôs, adolescentes e crianças se tornaram uma “bomba”. Fui levada para o Campo de Concentração da Polícia Federal e para o presídio Colmeia. Sai de lá com liberdade provisória e tornozeleira no dia 20 de janeiro de 2023.
TODO MUNDO SABE QUE A GENTE NÃO FEZ NADA
Após ser liberada do presídio Colmeia, onde estive presa, voltei para casa e fiquei sem dormir nos primeiros dias. Ainda ouvia as bombas jogadas contra nós na Praça dos Três Poderes e lembrava das pessoas machucadas pela polícia. Sentia uma sensação de revolta por estarmos sofrendo tanto sem ter feito nada, mas o tempo foi amenizando, até porque peço a Deus o alívio dessa dor.
Profissionalmente a minha vida acabou. Fiz faxina para pessoas conhecidas que sabem que estou com tornozeleira. Amigos me visitam e trazem biscoitos e algumas frutas para me ajudar. Quando acaba, não tem de onde tirar então estou sendo muito racional nesse momento (abril de 2023). Pedi socorro para o meu pai e expliquei que não consigo ficar dentro de casa, de braços cruzados, sem trabalhar. Ele decidiu me ajudar. Como ele tem uma loja na capital, o pai trouxe uma parte da mercadoria para que eu abrisse um comércio numa sala comercial cedida por uma amiga. Pintei o muro com o nome do negócio e tenho para onde ir todos os dias para recomeçar no peito e na raça.
A tornozeleira colocada em Brasília tinha um horário diferente de restrição, que era das 22 horas até 7 horas do dia seguinte. Nesse horário era proibido estar fora da minha residência e o alarme soava. Desde que troquei a tornozeleira por uma outra no sistema penitenciário do meu estado, a restrição aumentou e a partir das 18 horas tenho que estar em casa. A troca de uma tornozeleira pela outra também reduziu a abrangência regional e isso foi grave para a minha vida profissional. Mesmo com o meu advogado pedindo à Justiça alguma flexibilidade, ele obteve uma negativa da juíza: ela cumpriria a decisão, porque é uma precatória e tudo está nas mãos de Alexandre de Moraes. Se ele ordenou que fosse dessa forma, ela cumpriria.
Meu filho chora que quer brincar no parque e eu digo que não dá para sair de casa. E ele diz “Lula te prendeu e você só pode sair quando o papai do céu falar acabou”. Ele é muito inteligente! Eu tentei esconder a prisão contando uma história de que estava trabalhando, mas ele olha para a minha perna com a tornozeleira (que digo ser um relógio) e ele pergunta se quando o trabalho terminar eu vou tirar o aparelho e devolver. Digo que sim. Minha história não se sustentou por muito tempo e acabei contando que fui presa por homens muito maus, que aquilo na minha perna é algo como uma algema, razão pela qual não posso levá-lo para visitar o vovô na loja (na capital do estado). Ele sabe que Lula fez isso como a mãe dele e então ele me diz que Bolsonaro é bom. Confirmo e digo que Bolsonaro é uma pessoa boa e que deu a vida dele por nós. Ele chora igual quando quer brincar no playground ou nadar na piscina e eu não posso levar. Eu estou presa e tem dias que é difícil para nós dois. O meu advogado explicou para a juíza que nem no condomínio posso andar e que tenho um filho de 3 anos que precisa de sol. E a resposta segue a mesma: não posso fazer nada. Isso dá uma angústia, porque a gente não sabe quando tudo isso vai acabar. Meu filho e eu estamos presos juntos.
VIZINHO TRAFICANTE E POLÍCIA NA MINHA PORTA
A polícia esteve no nosso condomínio recentemente (ela me contou em abril de 2023) e algumas vizinhas me ligaram acreditando ser por minha causa, como se eu tivesse cometido algum crime. Eu não devo nada. Fui presa injustamente! Mas a vizinhança parece não compreender a diferença entre um criminoso e um preso político.
A história da polícia no condomínio aconteceu em março, quando um inquilino traficante foi preso. Não demorou uma semana estava solto, o vi caminhando pelo condomínio. Detalhe: sem tornozeleira. Num dia, enquanto cozinhava para meu filho, alguém bateu a porta e, nisso, um vizinho interfonou falando que era a polícia. De certo ele achava que eu era a razão da polícia estar ali. Espiei pelo olho mágico e era a polícia e pensei “só abro se bater de novo”. Será que era na minha porta que eles estavam batendo? Isso tudo que vivemos em Brasília deixa a gente atônita e eu fico pensando será que estou ficando louca? Tem polícia na minha porta mesmo? É muita pressão emocional!
Noutro dia, sai para trabalhar e uma outra vizinha me olhou e falou “E você com essa tornozeleira depois de tudo que vocês fizeram lá”. Então, disse para ela que “A polícia não está atrás de mim não, viu? Não fiz nada de errado. Esta tornozeleira devia estar a perna do vizinho traficante e não na minha. Ele é um bandido e anda de um lado para o outro livre, e eu que sou honesta e trabalhadora sou punida sem ter feito nada de errado”. Ela ficou com vergonha, Então é assim a vida de quem foi preso pelo governo em 8 de janeiro. Tenho que explicar que a polícia está batendo no aparamento ao lado, não no meu. Essa suspeita, esse julgamento machucam. Eu sempre tive horror a ideia de cair no SPC, sempre procurei trabalhar e pagar minhas contas em dia. Sempre zelei pelo meu nome e, hoje, vivo uma situação em que não consigo me olhar no espelho. É um desafio muito grande superar o trauma.
EU NÃO CONSIGO REZAR PARA ALEXANDRE DE MORAES
Eu peço a Deus que ele faça justiça. Eu não consigo rezar pela alma do ministro Alexandre de Moraes. Falo com o Senhor para baixar a mão nele, porque só Ele poderá nos ajudar. O ministro sabe que não fizemos nada, ele sabe que está causando dor em muitas famílias, causando dor em meu filho.
Quando eu fui trocar tornozeleira, meu filho foi comigo porque eu não tinha com quem deixar. Nós dois entramos num lugar cheio de pessoas perigosas. Passaram mulheres algemadas e meu filho perguntou o motivo de estarem presas. Fico pensando se isso tudo não ficará gravado nele. Nos levaram numa salinha com brinquedos infantis e ele queria saber por que o policial estava com revólver na cintura, apontando com o dedinho. Será que um dia isso sairá da cabeça do meu filho?
Enquanto meu filho ficou na sala de recreação, eu fui levada para uma sala cheia de homens fedendo para tirar fotos de mim, de novo, segurando a placa. Essas são as típicas fotos de quem comete crime: foto de frente, foto de perfil de lado e outro.
LIÇÃO DE VIDA
Eu quero sobreviver, preciso trabalhar e gosto de sair de casa e voltar no final da tarde com a sensação de dever cumprido. Com a loja que abri, e pelas condições financeiras de hoje, tenho que levar o meu filho junto para o trabalho. Lá rezo com ele para o Papai do Céu abençoar a nossa loja para que as pessoas entrem e comprem os nossos produtos. Quando atendo um cliente, peço para ele ficar quietinho, mas com três anos ele é muito falante, inquieto e sai oferecendo produtos. Quer vender também!
Isso tudo é muito diferente para mim, pois sempre vivi na correria, dia e noite. Então, se tem algo de bom que posso tirar desses acontecimentos todos, desde 8 de janeiro, é a oportunidade de meu filho me conhecer melhor. Antes eu não convivia tanto com ele. Muitas vezes saia cedo da manhã e quando retornava ele estava quase dormindo, muito cansado. Ficava com uma cuidadora.
Meu ritmo intenso de trabalho era consequência de ser, desde muito cedo, independente. Tenho carro desde os 21 anos, formei em Administração e Meio Ambiente, e tinha metas de ganhos para uma vida muito confortável, com viagens para o exterior. Ser metódica no trabalho me fez gastar o que eu queria, quando queria. Hoje, vivo uma outra vida, mas tenho fé em Deus que tudo vai melhorar. Frequentava a igreja aos domingos, coisa que hoje não posso, mas vivo a fé.
Tenho tempo para levar e buscar o meu filho na escola, posso abraçar e beijar o meu filho durante todo o dia, temos o nosso momento de rezar juntos, quando um cliente compra nós rezamos a Deus agradecendo. Isso tudo nos fortalece nesse momento. Quando passa uma reportagem do Bolsonaro, meu filho me chama e diz “É Bolsonaro! Eu digo sim, meu filho, é o capitão. Tem uma lição nisso tudo e penso que todos cooperam para o bem daqueles que amam o Senhor. Eu tive que ir lá para o deserto, o Senhor me levou porque tem um propósito muito bom.
Gosto muito do salmo 94 da Bíblia que diz que a justiça imperará no nosso mundo que humilhou e massacrou Deus. No texto do salmo está escrito: “É possível que quem criou o ouvido não possa ouvir? Será que quem formou os olhos nada veja? Aquele que disciplina as nações os deixará sem a devida retribuição punitiva? Não tem conhecimento Aquele que concede ao ser humano o saber?… Bem-aventurada a pessoa a quem disciplinas, ó Eterno, aquele a quem ensinas a tua Lei; calmamente atravessará os dias maus, enquanto, para os ímpios, uma fossa se abrirá! O SENHOR jamais desamparará seu povo; nunca abandonará sua herança. Voltará a haver justiça nos veredictos, e todos os retos de coração a seguirão. Quem se levantará a meu favor contra os ímpios? Quem permanecerá ao meu lado combatendo os malfeitores? Não fosse o socorro do SENHOR, eu já estaria habitando na região do silêncio…Será, um governo corrupto, capaz de fazer aliança contigo? Um trono que pratica injustiças em nome da lei? Eles, contudo, tramam contra a vida do justo e condenam os inocentes à morte! Entretanto, o SENHOR é meu baluarte e meu Deus, a torre inexpugnável em que me refúgio. O Eterno fará recair sobre os ímpios a própria iniquidade deles e serão consumidos por seus pecados; o Senhor, o nosso Deus, os destruirá!
Eu confio na Palavra, sei que a promessa de Deus será cumprida, que Ele vai agir. É o que mantém de pé as pessoas que sofreram no 8 de janeiro, como eu.”
Cláudia Rodrigues Leal
Impossível não se emocionar com a sua história, sei bem o quanto ela é real, e isso não durará para sempre, continue de pé, vença por você, por seu filhinho e pelo Brasil, Deus abençoe sua vida
JOSÉ CAIANO DE LIMA
O, nosso Deus de misericórdia também foi injustiçado e morto, mas, ressuscitou no terceiro dia…,….. Glória! O anjo do senhor virá com sua espada da justiça divina e libertará seus ungidos das mãos dos sanguinários, ditadores e contra toda tirania que assola o Brasil. Todos os Tiranos e ditadores cairão e se tornarão carnes podres para os abutres famintos, pois, Deus é maior.
2 comments