Texto: Ana Maria Cemin – Foto: Eduardo F. S. Lima
“Dentro da prisão eu passei os piores dias da minha vida… A minha pressão subiu bastante e tiraram a minha medicação do coração. Fiquei uma semana sem tomar nada e só fui atendida depois de dez dias. A minha família ficou sem notícias minhas por dias, sem saber se eu estava viva ou morta. E quando sai do presídio Colmeia, em Brasília, ao invés de voltar para Poços de Caldas escolhi ficar com minha família em Muzambinho, MG.“
O trecho acima é da história de Fabiana Sanches Prado, que contei no site (https://bureaucom.com.br/quem-se-importa-com-os-presos-politicos/).
Ao ler a matéria da Fabiana, uma outra patriota que também se tornou ré por estar no QG de Brasília no dia 09.01.2023, contou uma experiência triste vivenciada com ela dentro da cela. Quem narra a partir de agora é Luciana Rosa di Palma:
O que a Fabiana falou é verdade. Ela surtou lá dentro por não conseguir falar com a família. Surtou mesmo! Começou a bater a cabeça numa grade e eu fui correndo até a Joanita (que hoje está presa – história relatada em https://bureaucom.com.br/vida-destruida-apos-dois-meses-na-ala-psiquiatrica-do-colmeia/ ) pedir um calmante emprestado. Coloquei debaixo da língua dela.
A Fabiana ficou doente, com febre, foi horrível! Ela dormia no corredor da cela, num colchão junto com outra presa política. Não tinha toalha, não tinha calcinha… Eles (a direção do presídio) tinham comprado um monte de colchões novos e a a diretora do presídio falou assim: “Nossa! Eu já sabia que Deus iria mandar vocês. Eu vim aqui reservar esse lugar para vocês”. Falou desse jeito. Nos entregaram aquele tipo de coberta, sabe, de morador de rua. Cada uma de nós recebeu aquelas cobertas e colchões novos.
Então, mandei para a Fabiana a lembrança de Luciana, que prontamente se manifestou, admitindo que esse fato tinha sido esquecido. Então, ela complementou a lembrança de Luciana:
Eu bati com a cabeça foi na parede, mas antes esmurrei a parede. Minha mão ficou roxa e cabeça doendo. Só aí percebi o que eu estava fazendo…com a dor. Elas tentavam me segurar para eu parar. Nunca na minha vida tive uma atitude assim. Eu tinha medo das minhas irmãs morrerem, tinha medo pelo meu pai que estava na fila do cateterismo, procedimento que ele acabou fazendo em 10/03/2023, mesmo dia que eu saí da cadeia. Tinha medo por minha mãe, que havia tratado de câncer há 2 anos e também toma medicamento para coração. Isso me deixou daquele jeito… Sobre o comentário da diretora, posso dizer que não foi Deus que falou para ela. Foi o Sistema mesmo.
Não tenho ideia de quantas pessoas leem as histórias que escrevo a partir da conversa com os presos políticos. Nem sei se a forma como escrevo atrai as pessoas à leitura. O que eu sinto, em alguns momentos, é uma vontade incrível de cruzar estas histórias como fiz agora.
Eles estão proibidos de conversar entre si pelo Supremo Tribunal Federal, você sabia? Caso o Moraes descubra é o suficiente para serem levados aos presídios sem data para sair. Dá para acreditar nisso?
Por isso me coloco como porta-voz deles.
Eu me coloco à disposição, inclusive, de mandar um comentário de um para o outro, como é o caso dessas duas presas políticas.
São muitas vozes, muitas vidas, muitas histórias cruzadas.
1 comentário