Ana Maria Cemin – Jornalista – 12/04/2024
Em 24 de novembro do ano passado, o gaúcho Eduardo Zeferino Englert foi condenado a 16,5 anos de prisão pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, isso que ele tem provas de que chegou depois da confusão toda acontecer nos prédios dos Três Poderes.
Na entrevista que ele me concedeu, ficou muito bem caracterzada as formas de tortura pelas quais os patriotas passam ou passaram, a começar pela insegurança alimentar. Na visão de Englert é a mais importante forma de tortura vivida dentro do Papuda e Colmeia, tanto que o emagrecimento foi geral.
No entanto, não fica muito longe da insegurança da saúde, “pois caso alguém passasse mal, só tínhamos uma maneira de conseguir ajuda: bater muito e com força nas grades para sermos ouvidos. Mesmo quando um carcereiro aparecia, dependendo de quem era esse policial, não providenciava ajuda”. Era comum ficarem com um colega de cela passando mal, sem socorro. Faziam o possível.
Outras formas de tortura elencadas por Englert:
- Manter os presos políticos numa cela pequena sem direito ao sol durante o primeiro mês;
- Sem acesso à material de higiene, limpeza e saúde;
- A chegada na cela dos policiais sempre aos gritos e batendo o cacetete nas grades de ferro ao ponto de nos ensurdecer e nos deixar fora do prumo, coisa que era ainda pior com as pessoas autistas que foram presas junto conosco;
- Usar linguagens agressiva, como chamar os patriotas de terroristas;
- Impedir a troca de olhares entre presos e policiais, os obrigando a olhar sempre para o chão;
- Não permitir a fala a não ser depois do pedido “Eu posso conversar com o Senhor?”, e, mesmo assim, ouvir desaforo e desprezo;
- Proibição de rezar, sob pena de receber represálias, como, por exemplo, a proibição de pegar sol no pátio.
48 HORAS CORRIDAS SEM SOL DURANTE A SEMANA
Dos sete dias por semana, quarta e quinta-feira, Eduardo e os demais presos ficavam imobilizados dentro de uma cela de 16 metros quadrados em 12 ou 16 pessoas, dependendo do período, porque com o tempo alguns voltaram para casa com tornozeleiras. Isso quando não se estendia para mais dias por falta de efetivo da polícia no presídio para nos acompanhar no banho de sol. Com o passar do tempo, alguns carcereiros demonstraram sua humanidade e apareciam no presídio mesmo em seus dias de folga para permitir ir ao pátio pelo menos em cinco dias da semana.
Eduardo passou a reconhecer dois tipos de policiais: os que cuidavam e os que faziam terror. Os que metiam terror os mandavam ficarem nus a cada movimento que faziam: ir para a enfermaria ou para falar com o advogado, por exemplo. E, além da nudez, ainda colocavam algemas por qualquer razão.
INSEGURANÇA JURÍDICA
Eduardo destacou mais uma forma de tortura vivida pelos presos de 8 de janeiro, que ficou mais evidente em sua saída: a insegurança jurídica. Ao pisar fora do Papuda, Eduardo conheceu um outro Brasil, nunca visto. Dentro do presídio, eles recebiam a visita de alguns parlamentares e eles explicavam que tudo o que aconteceu com eles era inconstitucional e que o País passava por mudanças com a implantação do regime de exceção, razão pela qual não conseguiam tirar os manifestantes de lá. Também recebiam advogados regularmente, mas eles não falavam tudo, até para poupar os presos de mais angústia.
Eduardo conta que o seu primeiro contato com o mundo depois do presídio foi estranho, pois percebia a ditadura pelas próprias cautelares que foram estabelecidas para a sua soltura: proibição de falar em redes sociais, uso de tornozeleira 24 horas por dia com monitoramento eletrônico, proibição de sair da comarca de Santa Maria e horário para chegar em casa, entre outras.
A entrevista realizada com Eduardo está no link https://bureaucom.com.br/policia-conduziu-patriotas-para-dentro-dos-predios/