Ana Maria Cemin – 03/12/2024
O preso político Lucas da Costa Brasileiro, 29 anos, está recolhido ao presídio Papuda desde 6 de junho desse ano, antes mesmo do trânsito em julgado da sentença de 14 anos de prisão, decidida pela Suprema Corte, pela sua presença na Praça dos Três Poderes no final da tarde do dia 8 de janeiro de 2023.
Trancado em sua cela, ele tem duas expectativas.
A primeira delas é o nascimento de sua segunda filha, a Jade, previsto para esse 8 de dezembro, domingo. Lucas é casado com Jaqueline, 22 anos, com quem teve a pequena Jasmim, 2 anos.
SEGUNDA EXPECTATIVA
A outra expectativa é em relação à solenidade virtual da OAB, uma vez que Lucas foi aprovado na prova da entidade. O pai de Lucas, Evandro Soares Brasileiro, 58 anos, diz que foi preciso entrar com processo judicial para que essa solenidade venha a acontecer.
“Meu filho chegou na Esplanada entre 17h40 e 18h e lá foi preso. Saiu da prova do concurso público da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal (Seagri), para a vaga de agente administrativo, e tenho todos os comprovantes de que fez o concurso e dos horários. Tudo isso está nos autos, tudo documentado, mas não levaram em conta”, relata o pai de Lucas.
Quando chegou à Praça dos Três Poderes a situação era tão crítica, com ataques de bombas e tiro de balas de borracha pelo policiamento, que Lucas optou por entrar no Palácio do Planalto.
“As pessoas foram encurraladas pelos ataques de helicópteros e por terra também. A forma de proteger a vida foi entrar, mas isso custou uma prisão no Papuda que durou de 8 de janeiro a 19 de agosto do ano passado”, relata Evandro, angustiado com toda essa situação.
LUCAS SEGUIU TODAS AS CAUTELARES
Saiu do presídio e colocou tornozeleira eletrônica e toda segunda-feira se apresentava na repartição pública, conforme as determinações do STF.
Isso até 6 de junho desse ano, quando a Polícia Federal foi buscá-lo em casa, porque o ministro Alexandre de Moraes considerava que havia risco de fuga do Brasil. Era direito dele aguardar o trânsito em julgado da sentença em casa, até porque estava sendo monitorado 24 horas por dia.
“Só para você saber mais uma nulidade do processo”, diz o pai.
A família visita Lucas no Papuda a cada 15 dias, mas o pai está há mais de 70 dias impossibilitado de visitar o filho porque o seu cadastro não foi renovado. A complicação é tanta que Evandro entrou no Ministério Público para conseguir visitar Lucas. Enquanto isso, a mãe Rosângela e os irmãos o visitam.
“Hoje meu filho está bem, mas no que ele foi recolhido em junho pela Polícia Federal, eu fiquei sabendo que três ou quatro dias depois ele foi espancado dentro do Papuda com tapa no rosto e chute nas costas. Soube que isso aconteceu num procedimento no qual ele estava com presos comuns e, nesse procedimento, os policiais penais bateram neles. É inadmissível que policiais que estão lá dentro para cuidar deles os machuquem. Cobrei uma satisfação da Vara de Execuções Penais e estou aguardando para saber o que acontecerá”, denuncia Evandro.
“Quando soube da agressão chamei o advogado e fomos às 7 horas da manhã no presídio e só fomos atendidos às 13 horas. Não tinham feito o corpo delito, não havia nenhuma ocorrência registrada e só depois que procuramos a ouvidoria é que tudo isso foi feito.
E o mais incrível é que recebi uma chamada pelo telefone de um sujeito chamado Neves que queria falar comigo. Fui recebido por ele no estacionamento da penitenciária, que se identificou como diretor da instituição. Na conversa, queria saber se estava acontecendo algo e se eu tinha procurado algum dos colegas dele de trabalho. Um dia depois fiquei sabendo na Defensoria e liguei que a abordagem foi feita por um dos marginais de farda que tinha agredido meu filho. Ele ainda continuava trabalhando lá depois da denúncia que fiz”, comenta, ainda.
Para o pai é muito angustiante saber que o filho não cometeu qualquer crime, estava de passagem naquele dia pela praça e hoje é um condenado sem direito a recursos. Quando alguém visita o Lucas, ele logo quer saber como ele está. “Mais branco”, disseram para ele, o que o fez concluir que está sem banho de sol. O pai sabe que Lucas não conta nada do que sofre lá dentro, pois não quer preocupar a família.
“A nossa única esperança é Deus”, conclui o pai.
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