“SAIAM TODOS DO QG ENTRE MEIA-NOITE E 1 HORA”
Por Ana Maria Cemin – Jornalista
O empresário Fabrício Nélio Feitoza, 47 anos, de Goiás, ficou 63 dias preso em Brasília por se manifestar no QG da capital. É proprietário de empresas especializadas em locação de veículos, proteção veicular e rastreamento de veículos. Com sua prisão, os negócios passaram por grandes problemas, com perdas acima de R$ 250 mil e de clientes, comprometendo a continuidade das atividades. Ele foi presidente da cooperativa de Uber em Goiás, participou da legalização do aplicativo no Brasil e foi candidato a vereador em Goiânia. Ele tem fé de que todo o sacrifício feito pelos brasileiros de direita será recompensado com a vitória. No Presídio Papuda, ele perdeu 8 kg, porque a comida era estragada.
“Em 31 de outubro de 2022, fui com a minha família para Fortaleza, CE, numa viagem planejada para ser uma comemoração da vitória do Bolsonaro. Porém, Lula foi eleito e saímos em viagem e, lá no Ceará, comecei a me manifestar no QG. De volta a Goiânia, participei das manifestações de 6 a 9 de novembro, quando decidi ir a Brasília, onde fiquei acampado até 20 de dezembro. Voltei para casa para passar as festas de final de ano com minha esposa e filhos, mas em 5 de janeiro retornei para Brasília.
Nesse tempo, fiz um vínculo de amizade muito grande com as pessoas no QG de Brasília e me relacionava com Major Bicalho que estava responsável pela Praça dos Cristais, onde estávamos acampados. Nos primeiros dias de janeiro, percebíamos a presença de muitos infiltrados no QG e a Polícia Federal estava acompanhando a gente desde o sábado, dia 7 de janeiro, pelo fato de estar chegando muitos ônibus.
Percebi que novas regras foram criadas, uma espécie de tática de guerra. Digo isso porque passaram a dificultar a entrada de água e de comida. Ainda no sábado eu tive uma discussão com Coronel Bruno por ele ter impedido a entrada de veículos e uma senhorinha com andador, de quase 90 anos, foi obrigada a andar mais de 2 km. No fim, carreguei a senhora nos braços até no acampamento. Chovia muito. O Exército estava sendo covarde ao dificultar o direito de manifestação ordeira e pacífica do brasileiro.
RISCO DE BADERNA ANUNCIADO
Na manhã de domingo, 8 de janeiro, o QG estava muito agitado e falavam em risco de baderna na Praça dos Três Poderes. Eu não desci e cuidei da segurança do QG. O Rodrigo Ikezili, marido da presa política Klio Hirano, liberada há pouco tempo do Presídio Colmeia, ajudava na proteção dos acampados. Ele me falou para não descer até a praça. “Fica aqui comigo porque a esquerda está tramando e vai nos prejudicar. A gente acompanha daqui as coisas que estão acontecendo”, me disse. Ficamos todos juntos na tenda do Rodrigo, inclusive o major do qual falei antes e um capitão muito novinho, de outro estado, que estava ali por causa da operação.
A tenda do Rodrigo ficava próxima aos banheiros, na entrada, por onde o pessoal retornava da Praça dos Três Poderes. Surgiu a orientação, naquele momento, para que as pessoas desocupassem o acampamento e as manifestações fossem encerradas. Eu falei que isso não era possível, pois estavam chegando muitos ônibus e falei ao major que a obrigação do Exército era de nos resguardar, proteger os cidadãos. O major falou que, a partir daquele momento, se alguém ali dentro fizesse alguma desordem, a Polícia Federal entraria na área do Exército para retirada dessas pessoas.
Às 19h sai do QG para comprar um remédio e vi que o Exército estava fechando todo o perímetro do acampamento, porque havia a ameaça da Polícia entrar. Quando tentei sair com o meu carro, não consegui nem ir para frente nem para trás. O Exército tinha fechado tudo, com a presença do Batalhão de Choque e aí eu desci para a entrada Norte.
No meu retorno, o major Bicalho estava no bloquei da entrada Norte, por onde eu teria que entrar, e fui até ele. Então ele me disse: “Fabrício, vai embora! O Exército vai abrir para a Polícia”. Então eu falei que se fosse feito isso podia acontecer a maior tragédia do mundo. Insisti que precisava entrar, pois as minhas coisas estavam lá dentro. Então liguei para Rodrigo, que estava no QG, e trocamos informações. Nisso, falei para o major Bicalho que iria até as embaixadas dos Estados Unidos, Israel e Rússia para informar o que estava por acontecer. Então o major bateu no meu telefone e disse que era para desligar, parar de conversar com o Rodrigo, e me pediu 15 minutos.
MAJOR BICALHO NEGOCIA A NOSSA SAÍDA
Aguardei do outro lado da rua enquanto ele e um tenente, cujo nome não me recordo, se afastaram para fazer uma ligação. Dez minutos depois ele voltou e disse que tinha feito um acordo e que o cerco ao QG seria aberto a partir da meia-noite até a 1h da madrugada do dia 9 de janeiro, com o recolhimento de todo o Batalhão de Choque do Exército e das polícias. E reforçou: “Evacuem o QG, porque às 6h chegarão os ônibus para fazer a triagem”.
Eu respondi ao major que o Exército estava fazendo uma covardia conosco e que eu não sairia do acampamento, só se fosse preso pelo Exército. O major disse que isso não aconteceria, porque eu não tinha feito nada de errado, que ele tinha me acompanhado pelo tempo que fiquei no QG, que eu era um cara extremamente correto, que tinha ajudado no acampamento. E continuou: “Eu preciso de sua ajuda para orientar o pessoal a ir embora”. Eu falei: “Não tem como orientar ninguém para ir embora, porque estão chegando muitos ônibus e amanhã (dia 9) muitos outros chegarão para a manifestação”. O major Bicalho encerrou a conversa: “O que eu tinha para dizer já foi dito. Não faz besteira. Orienta o pessoal a sair daqui entre meia-noite e 1 hora. Pega as suas coisas e vai embora!”.
NA MINHA CABEÇA, OUVIA UMA
ÚNICA FRASE: “EU NÃO SOU COVARDE”
No domingo, voltando a pé da Praça dos Três Poderes, muitos manifestantes foram detidos e levados para delegacia, mas logo foram liberados. Soube que ficaram presas somente 176 pessoas que entraram nos prédios, fugindo dos ataques com bombas e balas de borracha da polícia. De lá foram para os presídios. Naquela noite, ajudei 22 pessoas que estavam na delegacia e que precisavam de carona para voltar ao QG. Como meu carro estava fora da área, foi tranquilo fazer o transporte do pessoal de volta.
Das 21 às 22 horas eu observei o movimento do Exército, até porque o major tinha me falado sobre o acordo feito, então vi os tanques serem colocados como sinal de proteção aos acampados e, também, vi o Exército mandar bala de borracha contra Polícia. Isso aconteceu! Eles alegam que não teve confronto, mas até máscaras de gás eles usavam na ação para nos defender. Havia uma intenção da polícia entrar ainda na madrugada, mas só no dia seguinte isso aconteceu, como foi anunciado a mim pelo major. Fiquei a noite toda ajudando as pessoas que retornavam machucadas e orientei quem chegava de viagem. Só fui dormir às 4h30 da manhã por estar cansado e às 5h45 eu acordei com o grito das pessoas que estavam acampadas do lado.
DESOLAÇÃO E CERCO FECHADO PELA MANHÃ
Quando sai da minha tenda, lá estava o major com calça e camiseta de malha cinza. Ele corria enquanto orientava as pessoas para se dirigirem para a saída norte. “Peguem o que for possível e abandonem o resto”, dizia ele, “pois vocês têm meia hora para sair daqui”. Muita gente estava chorando, desorientada. As pessoas pegavam o que podiam e seguiam em fila pela trilha, coisa mais triste do mundo. Uma cena que me fez lembrar as travessias de fronteiras. Quando os manifestantes chegavam no limite do acampamento, o Exército estava lá, fechado em cordão de isolamento, e todos eram obrigados a voltar. Ninguém mais saiu.
Os ônibus que nos levariam presos estavam enfileirados e eu gritava: “Gente não entra no ônibus. É uma cilada!”. Só que tinha quem me xingasse dizendo que eu não sabia de nada. Somente 37 pessoas confiaram na minha palavra e ficaram comigo. Os demais seguiram para os ônibus. Um capitão do Exército chorava e me dizia: “Fabrício vai embora”, enquanto eu assistia o Major Bicalho aos gritos chamando a todos para entrar nos ônibus. E eu continuava a gritar: “Não entra pessoal. O Exército não pode nos expulsar daqui”.
RESISTÊCIA ATÉ O ÚLTIMO MOMENTO
Às 17h30 de 9 de janeiro nós fomos presos. A polícia veio na nossa tenda, onde eu estava com as outras 37 pessoas, e nos levaram. Aproveitamos para limpar o acampamento numa paz danada. As pessoas mandavam os vídeos para nós, mostrando que só às 16 horas chegaram no Ginásio da Polícia Federal, que ficaram rodando dentro daqueles ônibus em condições desumanas. A Polícia Militar e a Polícia Civil não acolheram eles e, ao final, o ministro Alexandre de Moraes os direcionou para o Ginásio da Polícia Federal, para o Campo de Concentração.
De lá, eles me ligavam e mostravam as imagens da tristeza, falta de estrutura, fome e desespero. Falavam que tinha gente morrendo, tentando suicídio e passando mal. Eu respondia que eu tinha avisado que não era para sair da área militar, pois se a polícia entrasse à força no QG, outros países poderiam inclusive fazer uma intervenção. Não falava isso à toa. Um capitão falou no meu ouvido: “Fabrício, já que você vai ficar, você vai estar resguardado. O Exército não pode deixar que ocorra confronto aqui”.
Nesses momentos em que recebia informações privilegiadas eu me reportava ao major Bicalho, com quem mantinha diálogo aberto. Falei para ele que, ao invés de nos colocar em ônibus civis, nos colocassem em ônibus do Exército para garantir a nossa retirada segura. Só que eu entendi que as Forças Armadas queriam se livrar de nós. O major fez o trabalho dele de colocar todo mundo dentro dos ônibus para limpar a barra do Exército. Entraram no ônibus e pronto!
Por volta das 13 horas, o major tinha encerrado a sua função de desocupar o QG, exceto nós e mais dez pessoas que permaneciam na barraca de uma religiosa. Quando chegou a Polícia, vi o major fardado vindo em nossa direção. O Exército fez um cordão na nossa tenda cercando protegendo-nos e a PM fez outro cordão por fora do cordão do Exército. Lembro que o major usava aqueles óculos transparentes de atirador e falou meio que lacrimejando: “Fabrício, está na hora de você ir. Eu falei para você que tinha que desocupar. Agora não tem jeito. A PM veio para levar vocês. Tiveram a chance de ir embora”.
CONFIA EM QUÊ, CARA?
E disse mais: “Fabrício, confia em mim, não está acabando aqui. Está começando”. Então respondi: “Confia em quê, cara? Está começando o quê?”. Então ele respondeu: “Nós somos homens preparados para guerra e não podemos ficar aqui fazendo a proteção de vocês. Nós somos treinados para a guerra, não para ficar aqui em manifesto”. Eu respondi: “Vocês são covardes por deixarem a PM levar essas pessoas. Atacar essas pessoas. Prender essas pessoas que estavam simplesmente chegando de viagem. Você sabe, você passou ontem comigo, você viu o que está acontecendo”. Aí falou: “Eu te avisei. Infelizmente nós vamos ter que te entregar”.
Nessa hora, todos nós caímos de joelhos. Estava chovendo. Então ele deu dois passos para trás. Um outro major, da PM, virou para os seus soldados e falou assim: “Filma isso e manda lá para cima”. Nós ajoelhados orando, os 37, todos chorando e orando. Aí eles afastaram o cordão e o major mandou o cordão do Exército passar para trás do da PM. Ficamos cerca de 30 minutos assim e, então, o major da PM chegou até mim e falou: “Está na hora da gente ir. Não quero usar força com vocês”. Eu respondi: “Infelizmente nós vamos ter que ir, vamos nos juntar aos demais patriotas. Nós não temos outra saída”.
TRIAGEM E PRESÍDIO
Fui um dos últimos a passar pela triagem no Ginásio e meu advogado ficou comigo o tempo todo, desde a tarde de terça-feira até a manhã da quarta-feira. Às 4h06 dei o meu depoimento na Polícia Federal e entreguei ao delegado, chamado Fabricio como eu, o rastreio do meu carro. Aparecia o trajeto que fiz referente à busca do pessoal na Polícia Civil. No meu celular também estava registrado todo o meu movimento, por meio do Google Maps. No momento em que fiz o meu depoimento eu quase desmaiei de fome, pois estava em jejum de mais de 30 horas, então o delegado serviu um lanche como uma cortesia.
Fiquei 63 dias preso e desde o dia 4 de fevereiro eu sabia que sairia no dia 13 de março, por intuição, por conversa com Deus. Eu coloquei isso no meu diário. O meu alvará de soltura é do dia 10 de março, sexta-feira, e saí no dia 13 de março, na segunda-feira. Os mais de 80 que sairiam nesse dia foram levados para o Pavilhão 3.
Lá conhecemos um preso comum chamado Cleiton, um presidiário antigo, que falou que estava lá no Senado no dia 8 de janeiro. Ele participou e ficou preso dois dias na nossa ala, depois disso voltou para as células de serviço. Tem muita coisa escondida ainda, que ninguém imagina. Coisas que estão debaixo do tapete, mas virá tudo à tona. Deus está no controle de tudo.
É possível confirmar esse grupo de infiltrados com pulseirinhas em algumas gravações. O senador Marcos do Val mostra isso. E lá no pavilhão, na madrugada, por volta das 23h30, ele chegou do serviço e gritou: “Quem estava lá no Senado?”. E continuou: “Eu estava lá. Eu sou o Cleiton”. Isso nos chamou a atenção. Como era possível ele ser um manifestante e estar prestando serviço no presídio? Depois de muita conversa, Cleiton me disse: “Nós era mais gente!”, referindo-se outros presos comuns presente nos atos de 8 de janeiro.
Marcia Bezerra
A morte de Celso Daniel e a facada de Bolsonaro ainda não vieram à tona pq a direita só agora acordou e está se fortalecendo,mas tudo vai aparecer , submergir assim que voltarmos ao poder, agora já escaldados
Tania Drummond
Qualquer pessoa com um mínimo de discernimento sabe que o”ataque terrorista” foi planejado e executado pela esquerda!!!! Inúmeras provas e contradições por parte do desgoverno mostram isso claramente!!!! O problema ê que estamos na mão de politicos bandidos todos defendidos por uma corte corrupta, defensora não só do grupinho como tb dos narcotraficantes que hoje comandam grande parte do território brasileiro!!!!
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