
Ana Maria Cemin – Jornalista – 14/12/2023 – Atualizado em 12/07/2024
A tia Cláudia Silva Rodrigues dos Santos, 43 anos, moradora de Campinas, SP, recebe os seus sobrinhos em casa todos os finais de semana desde que sua irmã Débora Rodrigues dos Santos, 37 anos, foi presa devido à manifestação de 8 de janeiro em Brasília. A presa política é mãe de dois meninos: Caio, de 9 anos, e Rafael, de 6 anos.

No dia 17 de março, a Polícia Federal foi até a casa de Débora em Paulínia, SP, e na frente do marido Nilton e das crianças a levou presa. Desde então, ela permanece em cativeiro no Centro de Ressocialização Feminina de Rio Claro, em celas com criminosas que mataram, traficaram e cometeram uma série de outros crimes que chocam Débora, uma frequentadora da Igreja Adventista do 7º dia.

Já conto sobre como ela se tornou uma presa política, pois agora eu quero relatar como está o estado emocional dos seus filhos que estão aos cuidados do pai, sem a mãe há 16 meses.
Cláudia tenta compensar de alguma forma a ausência da mãe amorosa aos finais de semana, seja fazendo bolo de chocolate, brincando com eles ou levando para dormir na cama dela bem agarradinhos. É o que ela pode fazer. O cunhado se vira nos trinta durante a semana para exercer a sua atividade de pintor e cuidar das crianças, mas as coisas estão puxadas do ponto de vista financeiro, porque a esposa presa é cabelereira e participava com recursos para a manutenção do lar.
A tia me diz que é muito parecida com a mãe das crianças, inclusive elas têm gostos parecidos, como por perfumes. “Numa das noites em que os meus sobrinhos vieram dormir aqui em casa, estávamos abraçadinhos e Caio começou a cheirar o meu pescoço. Eu estranhei a atitude e perguntei: O que foi Caio? Ao que ele respondeu: Eu só estou matando a saudade da minha mãe”, me conta Cláudia.
“Eu e Débora usamos o mesmo perfume e naquele momento eu senti uma vontade louca de chorar, porque é muito triste saber que duas crianças pequenas estão longe da mãe por algo que não representa crime na nossa Constituição. Ela deveria estar em casa cuidando dos filhos dela, como sempre fez, ajudando a completar a renda da família. No entanto, ela está lá no presídio, sem qualquer perspectiva de sair”, desabafa a irmã da presa política.


“CRIME” NA REPÚBLICA DAS BANANAS
“Nós frequentamos o QG de Campinas desde que Lula foi eleito. Minha irmã vinha para Campinas e nós ficávamos algumas horas durante a semana e, também, em finais de semana. Surgiu a oportunidade de Débora ir a Brasília no dia 6 de janeiro e ela foi. Inclusive no dia 8 de janeiro ela estava num restaurante quando passou na TV a informação da invasão dos prédios e ela pegou as coisas dela e foi até a Praça dos Três Poderes. Ela não entrou em nenhum prédio e ficou na parte frontal onde tinha um contingente muito grande de policiais. As pessoas corriam de um lado para o outro em função das bombas jogadas dos helicópteros. Um sujeito estava pichando com gloss uma estátua em frente ao Supremo Tribunal Federal e chamou ela para escrever duas palavras. Disse para a minha irmã que a letra dele era horrível. Ela foi e pintou, porque era um produto lavável. Tanto que passou gloss no rosto também. Depois disso, voltou para o QG, pegou um Uber e saiu daquele ambiente, rumo à sua casa. De volta a Paulínia, minha irmã consultou um advogado sobre ela ter ido até Brasília, mas no final das contas ela tocou sua vida para frente, trabalhando, cuidando de filhos, da casa e do marido. Até que o tal de vídeo com imagens dela pintando com gloss lavável o monumento com as palavras PERDEU MANÉ a levou para a prisão, de onde não tem previsão de sair”, narra Cláudia.

Desde então a vida da família toda complicou seja do ponto de vista financeiro ou do psicológico, que se encontra devastado. “Uma pichação que sai com água e sabão pode ter como pena pagamento de cestas básicas e prestação de serviço comunitário, mas jamais poderemos aceitar esses crimes que estão querendo imputar à minha irmã”, conclui.
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